"Os Fabelmans", de Steven Spielberg, a cinebiografia musical "Elvis" e as sequências de "Top Gun" e "Avatar" concorrem ao Globo de Ouro nesta terça-feira (10). A tradicional premiação procura reconstruir sua reputação após uma série de escândalos.
O evento, que marcava tradicionalmente o início da temporada de premiações do cinema, não tem seu brilho habitual há dois anos, devido à pandemia e às revelações sobre falta de diversidade e supostas falhas éticas de seus organizadores.
A emissora NBC, que no ano passado suspendeu a transmissão da cerimônia ao saber que a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA) não tinha membros negros, volta transmitir a 80ª edição do Globo de Ouro após uma reforma na organização.
Spielberg, cuja obra altamente pessoal "Os Fabelmans" desponta como favorita para vencer na categoria de Melhor Filme - Drama, está entre as presenças mais esperadas da noite. O comediante Jerrod Carmichael apresente a cerimônia, que terá Eddie Murphy premiado pelo conjunto de sua obra.
"Argentina, 1985", que narra o histórico julgamento que condenou os comandantes da última ditadura argentina (1976-1983), concorrerá na categoria de Filme Estrangeiro. O filme é dirigido pelo diretor Santiago Mitre e protagonizado por Ricardo Darín.
Segundo especialistas, o tapete vermelho do Globo de Ouro será mais tranquilo do que o normal.
Pete Hammond, colunista da publicação especializada Deadline, prevê uma atmosfera "diferente" daquelas da era de extravagância, glitter e festas opulentas banhadas em champanhe - habituais antes da covid - e antes do boicote da indústria ao prêmio.
"Vão silenciá-lo. Não há festas para ir depois da cerimônia. Os estúdios não estão gastando muito dinheiro com isso", disse à AFP.
Aqueles que passarem pelo tapete vermelho serão abordados por repórteres com perguntas como "você se sente confortável aqui?" ou "as mudanças foram satisfatórias para você?", imagina Hammond.
Spielberg, Cruise, Cameron
O Globo de Ouro divide suas indicações de cinema em dois gêneros: drama e comédia ou musical.
Na categoria que premia o melhor filme de drama, "Los Fabelman" enfrenta duas das produções de maior bilheteria do ano passado: "Top Gun: Maverick", estrelado por Tom Cruise, e "Avatar: O Caminho da Água", de James Cameron.
"Tár", uma janela para o feroz mundo da música clássica, e "Elvis", a cinebiografia sobre o rei do rock n'roll, podem surpreender.
Cate Blanchett, que interpreta uma implacável diretora de orquestra em "Tár", e Austin Butler, que dá vida a Presley, lideram a disputa pelos prêmios de atuação nas categorias de drama.
Brendan Fraser, indicado por sua atuação em "The Whale", anunciou que não comparecerá à premiação. Em 2018, o ator acusou um ex-presidente da HFPA de apalpá-lo em um evento em 2003.
A presença de Cruise também é tida como improvável. O ator devolveu, no ano passado, seus três Globos de Ouro à HFPA em protesto.
"Os Banshees de Inisherin" é destaque, recebendo oito indicações no total. O filme é o favorito para vencer a categoria Melhor Filme - Comédia/Musical. Seu protagonista, Colin Farrell, também se destaca como favorito para vencer Melhor Ator de Comédia.
O filme, que retrata o fim abrupto de uma amizade em uma remota ilha da Irlanda, compete com a produção "Tudo em todo Lugar ao mesmo tempo", que também pode premiar Michelle Yeoh, Jamie Lee Curtis e Ke Huy Quan por suas atuações.
"Escândalo"
Nas edições anteriores, triunfar no Globo de Ouro era um indicador importante para os filmes que buscavam se destacar no Oscar, e também servia como valiosa ferramenta de divulgação.
De fato, os membros da Academia começarão a votar para as indicações ao Oscar na quinta-feira, poucos dias após o Globo de Ouro.
Mas controvérsias recentes mudaram o cenário.
Diante das polêmicas, a HFPA renovou seu quadro associativo, incluindo 103 novos membros, para torná-lo mais diverso racialmente.
De acordo com Hammond, há pessoas na indústria que estão ansiosas para colocar a cerimônia de volta aos trilhos porque é uma grande "engrenagem da temporada de premiações" que "está em Hollywood há 80 anos".
Mas as reclamações sobre a falta de diversidade, suposta corrupção e falta de profissionalismo "apagaram" o brilho do Globo de Ouro quando se trata de influenciar o resultado do Oscar, acrescentou o colunista.
"Quando todas as histórias [sobre o Globo de Ouro] falam sobre o escândalo, acho que isso o torna menos confiável aos olhos dos votantes do Oscar", afirmou.