O pagode baiano, bem definido como pagodão, é o gênero musical de maior sucesso em nosso estado. Seja com suas letras de duplo sentido (com teor sexual), ou com seu swing que bota a galera para meter dança, fato é que a cena sempre foi dominada por homens no protagonismo das bandas. Mas este cenário está mudando, e a voz feminina tem sido cada vez mais necessária para a quebradeira ficar boa. Por essa razão, as Backing Vocals passaram a desempenhar um papel fundamental nesse ritmo, sendo as responsáveis pela sensualidade nas canções. Pensando nisso, o Jornal MASSA! apresenta aos sábados uma nova série especial dando destaque para as principais backs daqui de Salvador.
Para abrir nossa série com grande estilo, nós convidamos aquela que talvez seja o principal nome desse meio. Atualmente cantando na La Fúria, uma das bandas mais estouradas do pagodão, Negra Japa roubou o coração de milhares de soteropolitanos e do Brasil todo com as palavras de ordem: “Mete seu cachorro!”. Seja pela sua voz ou por sua beleza, a cantora coleciona uma legião de admiradores e é uma veterana quando o assunto é subir nos palcos.
Nascida no interior de Cipó (a cerca de 230 km de Salvador) e apaixonada por música desde a juventude, a artista revelou que nem sempre teve tanta intimidade com as multidões. “Eu fazia backing atrás da caixa de som porque eu tinha vergonha. Nunca tinha dançado em palco”, falou Japa, que além de cantar, também dança durante os shows.
A primeira banda que a dançarina participou de forma prolongada foi A Invasão e, desde então, não para de colecionar fãs. Apesar disso, ela expôs ainda sofrer com o preconceito. “Algumas pessoas ainda veem nosso trabalho como se fosse prostituição. Mas não. É a realização do sonho de uma criança que não teve estudo, não teve balé, mas teve a oportunidade de conhecer Salvador”.
Membro da La Fúria desde 2017, ela se afastou do grupo no período da pandemia. Neste período, ela começou um projeto com outra back dance, A Braba, formando uma banda feminina em um cenário predominante masculino. Porém, o duo não durou muito tempo, Japa afirmou não estar preparada para assumir o papel de cantora principal. “Compartilhamos momentos juntas, mas nunca fomos amigas”, acrescentou sobre o fim da dupla.
A back dance comentou sobre como é ser um “espelho” para as meninas que estão iniciando agora. “Eu estar nesse meio e estar cada vez mais evoluindo mostra que os comentários preconceituosos não estão certos”. Também confessou se sentir feliz por inspirar outras mulheres no mundo da música. “É massa. Me elogiam, me perguntam sobre figurino, dançam igual, até o cabelo tentam fazer igual”.
Por fim, para a infelicidade de muitos, ela anunciou o futuro fim de sua carreira. A Japa pretende continuar sua carreira artística por somente mais dois anos. Ela está focada em conquistar seus objetivos: sua casa e sua loja. “Eu não vou dançar para sempre. Não quero estar no palco para sempre. É cansativo, a rotina é complicada”.
Inspiração que se inspira
Negra Japa afirmou que acompanha o trabalho de outras dançarinas e, mesmo sendo uma “veterana”, se espelha no trabalho de outros nomes. “Tem menina que no pessoal eu não gosto, mas pela voz eu sou apaixonada. Eu amo ir para shows e ver outras meninas dançarem, porque a gente aprende. A inspiração também se inspira, se inspira nas mesmas que se inspiram na gente. Eu amo ver o show de outras garotas porque sempre aprendo alguma coisa, tipo qual o passinho da atualidade, porque a idade vai chegando e você tem que se atualizar”.
Desvalorização da profissão
A cantora se queixou da falta de reconhecimento em sua profissão. Ela acredita que as back dances não são devidamente valorizadas, uma vez que elas são “uma peça indispensável” da apresentação. “A gente faz duas funções. Acho que muitas bandas deveriam dar um maior destaque às back dances. Não só destaque, mas também melhorar as questões salariais, porque, querendo ou não, a maioria do público masculino vai ao show querendo ver as mulheres”, pontuou.
*Sob a supervisão do editor Jefferson Domingos