Um dos maiores festivais de cultura negra do mundo, o Afropunk 2024 chega para celebrar os 20 anos de existência e resistência do evento. Marcado para acontecer neste fim de semana, nos dias 9 e 10 de novembro, no Parque de Exposições de Salvador, ele reunirá diversos artistas negros, incluindo o sambista Jorge Aragão, de 75 anos.
Conhecido também por ser um dos grandes compositores da música brasileira, Jorge Aragão pretende levar todo o seu talento e legado para uma apresentação eletrizante. Em entrevista exclusiva ao Portal MASSA!, o artista falou sobre a importância do Afropunk, comentou sobre a volta aos palcos depois de vencer um câncer e refletiu sobre o atual cenário do samba.
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O Afropunk 2024 terá atrações como Ilê Aiyê, Léo Santana, Planet Hemp, Duquesa, Fat Family, Larissa Luz, Silvanno Salles, Timbalada e Mateus Fazeno Rock, além dos nomes internacionais, as cantoras Erykah Badu e Lianne La Havas. Para Jorge Aragão, levar o samba para uma festividade dessa magnitude é uma alegria.
“As expectativas e os sentimentos são os melhores! Eu e minha equipe estamos preparando tudo com muito carinho para ser um show muito especial. Tocarei meus principais sucessos, levando samba para quem gosta! E espero que todos gostem, porque precisamos sempre dessa alegria que a música nos traz”, declarou.
Sempre afiado, o cantor elogiou o fato de o evento permitir que artistas negros falem sobre a sua própria história, tendo também uma boa troca com o público, que se identifica com as vivências e não minimiza ou distorce a cultura, a dor e a arte da população preta.
“Precisamos de mais representações negras, nos grandes eventos, como protagonistas e até mesmo no poder, e não de um monte de gente branca dizendo que entende as mazelas pelas quais passamos. Eles não passaram por essa experiência de ser negro”, disparou Jorge Aragão.
Ouça uma das canções de Jorge Aragão:
Se sentindo em casa, o artista carioca preparou um repertório de peso, que trará os seus maiores sucessos: “Tem algumas músicas que listei recentemente como as cinco que eu considero as mais importantes da minha carreira até agora e que não podem faltar na minha playlist e nos meus shows, que são ‘Eu e você sempre’, ‘De Sampa a São Luis’, ‘Já é’, ‘Malandro’ e “Identidade’”.
O retorno aos palcos
Em julho de 2023, o cantor Jorge Aragão recebeu o diagnóstico de linfoma Não-Hodgkin, que é um tipo de câncer com origem nas células do sistema linfático. Ele começou o tratamento de imediato e conseguiu vencer a doença, tendo remissão completa em outubro do ano passado. Agora, quando completa 50 anos de carreira, ele quer curtir tudo o que há para viver.
Essa é uma fase cheia de projetos, turnê nova, 50 anos de carreira. E eu quero tudo! Quero aproveitar tudo mesmo
Ainda em clima de reflexão, Jorge deixou uma mensagem para o público que o acompanhará no Afropunk, na noite de sábado (9).
“Seja verdadeiro com os seus sentimentos. Lute pelo que acredita. Fale do que te emociona. Sinta o que o momento está te proporcionando”, encorajou.
Demonstrando ser grato pelo carinho e energia que recebe de Salvador ao longo dos anos na estrada musical, Jorge Aragão está se mobilizando para trazer o seu novo projeto musical para a cidade. Batizada como ‘Sambazin de Jorge’, a iniciativa pretende passear com uma roda de samba intimista pelo país.
“A turnê Sambazin de Jorge vai passar por Salvador sim. Existe uma grande possibilidade de que seja já em janeiro de 2025. Em breve colocaremos mais informações nas redes do Sambazin”, prometeu.
O futuro do samba
Jorge Aragão é um dos precursores do samba e acompanhou as diversas mudanças no gênero musical ao longo da sua trajetória, como o surgimento do pagodinho, a criação e o sucesso de diversas bandas pelo país e, mais recentemente, os talentos que aparecem na internet.
“Quando eu descubro alguém na internet, vou logo escutar direitinho o que a pessoa está fazendo. Tem muita gente nova tocando, cantando e fazendo samba bom”, elogiou.
Apesar de todos os avanços e transformações, Jorge Aragão revelou que vê o samba como um ritmo ameaçado de extinção, pois pouco do que é lançado atualmente traz o verdadeiro espírito do gênero musical.
“Falando especificamente do meu segmento, parece que se perdeu um pouco da essência. Se eu for escutar algo buscando aprender, dificilmente eu vou escutar samba”, lamentou.
Jorge Aragão contou ao Portal MASSA! que acredita que o melhor jeito de não permitir que o samba morra é apresentando o real significado e a história do ritmo para jovens e crianças.
“O samba é cultura, e acho que o caminho é estimular para que essa garotada estude mais sobre a história da música popular brasileira, sobre a nossa cultura, sobre os ritmos que gostamos”, finalizou.