
Nos últimos anos, conforme a sociedade se tornou mais consciente sobre a importância das pautas sociais, o cinema vem abrindo cada vez mais espaço para a representatividade. Um exemplo de cineasta que utiliza essa arte como forma de representar um povo é Ryan Coogler, que tem sua carreira marcada por obras que exaltam a cultura negra. 'Creed' e 'Pantera Negra ' são alguns dos trabalhos do diretor que seguem nessa linha. 'Pecadores', que chega nesta quinta-feira (17) aos cinemas, é o mais novo filme de Coogler e promete honrar essa trajetória que ele vem construindo.
Ambientado no Mississípi do início do século 20, o filme acompanha Sammie, um jovem filho de pastor que se junta aos seus primos para a inauguração de uma casa de blues. Tudo parece certo, até que uma ordem de vampiros ameaça acabar com todos no lugar.
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Durante sua primeira metade, o filme serve como um drama histórico, retratando com fidelidade a vida da população negra naquela época. O povo negro sendo limitado a trabalhar nos campos de algodão e a forte presença da Ku Klux Klan servem como um lembrete de que, apesar da escravidão ter sido abolida, o racismo estrutural ainda comandava completamente aquela sociedade. Sammie, vivido por Miles Caton, é claramente inspirado no cantor Robert Johnson, considerado um dos pais do gênero blues e o qual acreditava-se ter um pacto com o diabo. Mesmo sendo interessante, o protagonista perde espaço para os gêmeos, interpretados por Michael B. Jordan. Com uma ótima atuação, o astro consegue dar vida a dois personagens de personalidades distintas, mas que são igualmente carismáticos.
Apesar da obra se vender como um terror, o elemento sobrenatural demora muito para surgir, o que deixa a impressão de que os vampiros estão simplesmente jogados na trama. Apesar desse erro, a produção consegue entregar uma nova e criativa leitura para essas criaturas. Os monstros tentam convencer os heróis por meio da lábia, usando como argumento que apenas sendo vampiros que o povo negro conseguiria viver em uma sociedade igualitária.
Pecadores equilibra terror, ação e uma boa dose de drama. O filme é um exemplo de como a arte serve como um meio não só para representatividade, mas também como a chave para liberdade de um povo.
Cultura que supera seu tempo
O longa 'Pecadores' não tem medo de expressar sua própria melanina. O filme vai além de apenas representar a realidade do Mississipi e mostra outros aspectos da cultura negra, como as religiões de matriz africana.
Nem o tempo é um obstáculo para essa grande celebração. Mesmo sendo ambientado no início do século 20, uma das cenas do filme mostra como a cultura afro-americana iria se desenvolver nos próximos anos.
O momento é a parte mais tocante do filme e serve como um lembrete de que a arte sempre será usada como uma forma de grito pelos oprimidos. As duas cenas pós-créditos também reforçam a importância que a música teve para o povo preto ao longo dos anos. Apesar do gancho para possíveis continuações, não tem porque elas existirem. Ryan Coogler conseguiu contar uma poderosa história sobre família, emancipação e o poder da cultura.