Para quem vive da arte, os sonhos podem ser tão altos quanto a dificuldade para alcançá-los. Na vida do ator Rodrigo Santos, a altura de uma laje simples na periferia de Salvador foi o bastante para trazer para a vida dele um “problema” que logo virou solução.
Digo é o nome por trás da extravagância de Nininha Problemática, drag queen, cantora, atriz, modelo, maquiadora profissional e influenciadora digital que nasceu na comunidade de Sete de Abril, periferia de Salvador. A personagem surgiu enquanto ele estava ainda no ensino médio, por meio de ideias anotadas no fundo do caderno, e ganhou o mundo com um vídeo gravado na laje da vizinha, com uma batedeira na mão, fazendo a “dança da batedeira”, da banda La Furia.
Entre o humor e a atuação na internet, Nininha se descobriu ainda uma drag queen. Essa arte cheia de estereótipos e pouco verdadeiramente conhecida pelas pessoas foi o que fez a diferença nessa linha tênue que foi criada entre o ator e a personagem.
“Eu não sabia que o que eu fazia era drag. Mas eu recebi a bênção de uma artista, abracei isso e comecei a conhecer mais a cena local, explorar outros artistas e entender que o que eu faço é uma arte muito potente”, afirma Nininha. “Só precisa de atitude, uma maquiagem e vontade de se expressar. Drag Queen é isso, pôr para fora todos os seus excessos e ter vontade de fazer a diferença”, conclui.
Uma drag na favela chama muita atenção
Além de carregar todos os estereótipos, outro desafio que Digo encontrou quando se encontrou em Nininha foi vencer os desafios de ser uma drag queen que mora na favela. Hoje ele anda pelas ruas como Nininha tranquilamente, mas nem sempre foi assim. “Na primeira vez que montei, saí enrolada em um lençol, com medo das possíveis piadas”, lembra. “Mas pelo contrário, fui muito bem acolhida aqui”, conta. O acolhimento dos amigos e vizinhos foi o que deu ainda mais força para Nininha seguir. “Eu canto e me visto para a galera da periferia, quero ser um exemplo para mostrar que podemos mudar a nossa realidade”.
Dois em um
Foi no processo de autoconhecimento que Nininha, que nasceu ‘problemática’, se tornou uma solução na vida de Rodrigo. “Eu costumava dizer que Nininha era uma personagem, mas hoje eu percebo que foi um presente da espiritualidade para mim. Ela me mostrou uma nova forma de me mostrar, me deu segurança, uma oportunidade de viver os meus sonhos”, conta. É a diferença dessas personalidades que faz com que elas se completem: a timidez de Rodrigo encontrou em Nininha um espaço seguro para virar potência. “Por ser afeminado, vim de um lugar de repressão, de precisar me podar sempre [...]”, diz. “O que Nininha me deu foi autoestima”, pontua.