
Mulher trans, mãe, sergipana, atriz e cantora. Isis Broken é muitas coisas, sendo a principal delas um exemplo de superação. Apesar de já ter uma carreira consolidada na música, Isis conquistou o Brasil após estrear como atriz. Em 2024, ela participou da novela ‘No Rancho Fundo’, dando vida a personagem Corina Castello. Depois de seu sucesso nas telinhas, a atriz está preparando um projeto para o cinema.
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Com estreia prevista para 2026, o longa ‘Borda do Mundo’ é o primeiro trabalho de Isis em um filme. A obra acompanha a vida de pescadoras da comunidade de Atafona, no Rio de Janeiro. A atriz pontua que precisou estudar bastante para dar vida a Nayara, sua personagem na trama.
“Quis sentir a força e a resistência das pessoas que moram ali, especialmente dos pescadores, que têm uma ligação profunda com o mar, mesmo diante da destruição que ele tem causado”, afirmou em entrevista ao MASSA!.
Apesar da carreira como atriz estar decolando, a relação de Isis com a atuação começou de forma repentina. Em 2023, ela fez sua estreia já em uma produção do Globoplay, como a personagem Mateusa na minissérie ‘Histórias (Im)Possíveis’. “No começo, confesso que senti um pouco de medo, porque era a Globo, com grandes nomes envolvidos na produção. Mas, depois que fiz o curso de atuação, me senti muito mais segura”, contou.
Seu papel em ‘No Rancho Fundo’ se tornou um marco para sua trajetória artística. A artista explica que enxergou bastante de si mesma em Corina Castello. “Era uma mulher que não media esforços, que não tinha limites quando o assunto era sobrevivência, e eu sou assim também. Sempre vivi no limite para poder seguir em frente”, pontuou.

Sua participação na novela se tornou um marco para a representatividade transgênero na televisão brasileira. Isis enfatizou a importância de dar espaço para pessoas trans em produções televisivas. “Foi um passo muito importante para a inclusão e a representatividade. Mostra que as barreiras do preconceito estão sendo desafiadas e quebradas, permitindo que talentos sejam reconhecidos e valorizados independentemente de gênero”, defendeu.
A história de Isis serve como motivação para quem precisa combater o preconceito. Para as pessoas trans que desejam seguir na carreira artística, a atriz deixou um recado especial. “Não desistam! Vocês têm o poder de alcançar os seus sonhos e se destacarem no que amam. Continuem com determinação, confiem na sua voz e autenticidade. Não deixem de estudar e se dedicar à sua profissão”, disse.
Abalando na música
A carreira de Isis começou na música e a artista também coleciona uma bela trajetória nesse ramo. ‘Clã’, seu primeiro videoclipe de sucesso, foi gravado apenas com um celular e lhe rendeu 27 prêmios. A produção ganhou um prêmio no Music Video Festival, um festival voltado para o cenário musical. Na época, Isis estava concorrendo ao lado de artistas como Criolo, Urias e Elza Soares.
A experiência simbolizou um passo importante para a carreira da cantora. “Eu me senti muito honrada por estar ao lado de grandes nomes, artistas que eu admiro profundamente. Só de estar concorrendo com eles, eu já me sentia vencedora. E ser escolhida foi um enorme prazer, uma confirmação sobre o meu trabalho está chegando longe”, pontuou.
No ano passado, ela lançou seu segundo álbum, intitulado ‘Orquestra Sinfônica das Cachorras de Rua’. O trabalho explora um lado mais sensual da cantora, sendo baseado na sua vivência em São Paulo. “Eu explorei um lado mais sensual e urbano, trazendo as minhas vivências e experiências na região Sudeste do país. É um trabalho que fala muito sobre desejo, liberdade e essa energia mais crua das ruas”, acrescentou.
As músicas de Isis costumam ser carregadas de mensagens políticas e experiências pessoais. O videoclipe de ‘Um Rock, Um Roubo, Um Love com Você’, gravado um dia antes do nascimento do filho de Isis, é a prova disso. “Hoje eu vejo esse clipe como uma peça necessária para abrir um debate importante, que é mostrar que pessoas trans, inclusive homens trans, podem sim engravidar. Ainda existe muito tabu em torno disso, muita gente acredita que, por conta dos hormônios, isso não é possível, mas é, sim”, reflete.
A experiência com a maternidade
Além de multiartista, Isis também desempenha em tempo integral a função de mãe. O pequeno Apolo é fruto do relacionamento de Isis com Lorenzo, um homem trans. A história dos três serve como uma esperança para pessoas trans que desejam viver a maternidade. “Recebo muitas mensagens de carinho de outras meninas trans dizendo sobre o sonho delas de serem mães, e elas me olham como um exemplo de que é possível. Isso cria um espaço de esperança”, afirmou.

Apesar de hoje conseguir aproveitar a vida ao lado de seu filho, Isis relata que a gestação de Apolo enfrentou as barreiras do preconceito. O casal precisou se mudar para São Paulo para conseguir um atendimento digno. “Em todos os lugares por onde passamos, nos hospitais, postos de saúde e UPAs, sofremos algum tipo de preconceito. Muitas vezes, não queriam atender o pai do Apolo e em alguns casos, houve episódios claros de transfobia. Foi muito difícil conseguir algo que deveria ser básico, como o pré-natal”, relembrou.
A história da família é tão inspiradora que acabou virando documentário. A atriz e diretora Tainá Muller decidiu documentar a trajetória do casal até o parto de Apolo. As expectativas para a produção são as melhores possíveis. “Espero que o público entenda que nossos corpos merecem respeito e que, assim como todos, temos direito ao acesso à saúde e à dignidade”, destacou Isis.
Raízes no Nordeste
Nascida em Sergipe, a artista tem orgulho de suas raízes nordestinas. Sendo neta de cordelista, a arte sempre esteve presente no sangue de Isis. “Foi o meu avô quem me apresentou à arte e sempre apoiou a minha trajetória. Mesmo sendo um homem do sertão, ele era um artista,da música, da poesia e foi uma grande inspiração para mim”, afirmou.
O lugar onde nasceu carrega um simbolismo forte para ela. Um de seus objetivos enquanto cantora é mostrar para o mundo a beleza de Sergipe. “É isso que eu quero, levar esse lindo estado, suas tradições belíssimas, e minha raízes para que o Brasil inteiro conheça e valorize”, pontuou.

A cantora faz questão de reafirmar suas origens por meio da arte. Suas canções acabam resgatando elementos do Nordeste, ressaltando a importância que a cultura da região tem para Isis. “Na minha primeira música, "Clã", eu trouxe no clipe essa nordestinidade, com referências de Sergipe, que é um estado riquíssimo em cultura. Infelizmente, percebo que muita gente que trabalha com cultura por lá ainda não conseguiu transformar essa riqueza em algo potente e reconhecido”, explicou.