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Tá barril! - 13/08/2025, 16:30 - Dara Medeiros - Atualizado em 13/08/2025, 17:39

Fim do Salvador Fest? Entenda toda a crise na festa de camisa colorida

Festival era um dos mais tradicionais da cidade e foi cancelado novamente

Salvador Fest foi cancelado pelo segundo ano consecutivo
Salvador Fest foi cancelado pelo segundo ano consecutivo |  Foto: Divulgação

O Salvador Fest era um dos eventos mais esperados pelo público e arrastava multidões todos os anos. Com uma grade de shows inovadora, que valorizava os artistas locais, e por falar a linguagem do povão, muitas pessoas se identificavam e faziam questão de não perder a festa. As edições transformavam a cidade em um verdadeiro mar de gente e entraram para a história com o título de maior festa de camisas coloridas do mundo.

O que parecia ser a fórmula perfeita do sucesso foi perdendo a essência ao longo dos últimos anos. Aos poucos, o que era um festival popular se transformou em um combo de shows ‘gourmetizados’ que afastou quem mais amava a festa. Outros fatores também foram decisivos para que o Salvador Fest saísse do seu auge ao prejuízo, sendo cancelado pelo segundo ano consecutivo.

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Mudanças no estilo do festival

A maior reclamação do público é sobre a perda das características únicas do evento, tornando o festival apenas mais um diante das outras opções na capital baiana. A diminuição do pagodão e axé no palco principal e o crescimento do número de artistas de outros gêneros musicais, como sertanejo e eletrônico, deu um toque elitizado, especialmente com a chegada dos setores Camarote Glamour e Backstage, que passavam a imagem de segregação em um projeto que inicialmente representava a cultura da favela.

Outro ponto alterado foi a estética. As cores chamativas das camisas foram dando espaço para tons neutros e estampas, até que a tradição se perdeu por completo. Neste ano, por exemplo, os abadás não faziam parte da festa.

Camisas já não tinham as tradicionais cores chamativas
Camisas já não tinham as tradicionais cores chamativas | Foto: Divulgação

A saída do Parque de Exposições de Salvador também não agradou muita gente. O novo local escolhido pela organização foi o Wet Eventos, que comporta menos pessoas e tem um acesso não tão bom quanto o Parque, principalmente para quem depende do transporte público.

Dificuldades econômicas e cachês estrondosos

A crise econômica do Brasil e as dificuldades no setor de entretenimento foram quesitos decisivos para o cancelamento do Salvador Fest em 2025. Na justificativa dada pela Salvador Produções, empresa responsável pela organização da festa, isso foi o que mais pesou.

“Considerando diversos fatores e dificuldades externas — como o aumento significativo nos custos de estrutura e logística, altos valores de passagens aéreas, instabilidade econômica, insegurança financeira da população e a dificuldade em captar patrocínios — comunicamos, com o coração apertado e uma dor imensurável, o cancelamento da edição 2025 do Salvador Fest”, explicaram.

Para o produtor de eventos Alisson Rodrigues, que possui mais de 10 anos de experiência profissional, os desafios para fazer os shows acontecerem estão cada vez maiores.

Evento era um dos maiores da capital baiana
Evento era um dos maiores da capital baiana | Foto: Divulgação

"A principal dificuldade encontrada hoje para que os eventos aconteçam é uma questão econômica, de saúde financeira e investimento. Temos a queda no número de grandes marcas interessadas em patrocinar, a queda no poder financeiro do público, a indexação da maioria dos materiais necessários para a produção de eventos na parte estrutural com o dólar (tendo em vista que muitos dos materiais são importados, ou dependem de importação) e a própria concorrência do mercado”, disse ele em entrevista ao MASSA!.

Alisson ainda analisou o impacto sofrido pelo setor de eventos depois da Pandemia da Covid-19, considerando também que a própria sociedade mudou a maneira de curtir após o confinamento. “Fomos o primeiro setor a sofrer uma parada abrupta nas atividades e acabamos sendo o último setor a voltar a ‘funcionar’, porque a volta foi cheia de restrições e momentos de muita tensão com como seria a adesão e recepção do público a esse ‘novo mundo’. Nós tivemos um público que teve que voltar os olhos para o digital e para diversas novas formas de consumir conteúdo artístico”, detalhou.

Muitos cantores e bandas cresceram astronomicamente na pandemia e aumentaram os seus cachês para quantias insustentáveis: “Hoje nós temos muitos artistas que atingem números estratosféricos em suas mídias digitais e plataformas de streaming, fazendo com que muitos cachês viessem a atingir valores antes inimagináveis, o que gera um peso muito grande hoje para os empresários, porque muitas vezes a contratação de determinado artista não se paga somente com portaria”.

Alisson Rodrigues é produtor de eventos e já fez parte de grandes festivais de Salvador
Alisson Rodrigues é produtor de eventos e já fez parte de grandes festivais de Salvador | Foto: Arquivo Pessoal
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Muitas vezes, a contratação de determinado artista não se paga somente com portaria

Produtor de eventos Alisson Rodrigues

Ainda tem um movimento que deixou a vida de quem organiza eventos mais complicada: as turnês temáticas. Atualmente, temos grandes exemplos, como ‘Numanice’ da Ludmilla, ‘Tardezinha’ do Thiaguinho, ‘Churrasquinho’ do Grupo Menos é Mais, ‘Sorriso As Antigas’ do Sorriso Maroto e ‘Luan City’ do Luan Santana.

“A label própria hoje é muito mais rentável do que vender agenda para mega eventos! Ainda que o risco seja maior para ser sócio do seu próprio evento, os ganhos justificam e muito esse investimento”, concluiu.

O público sente saudades, mas faz queixas

Se engana quem acha que apenas os trabalhadores envolvidos direta ou indiretamente na produção de eventos em Salvador que pagam o pato. O público também sente muita saudade dos bons momentos que viveram e torcem para que o quadro melhore o mais rápido possível.

O jovem cantor Tom Potência, morador do bairro de Paripe, é fã do Salvador Fest. Ele participou de todas as edições desde o ano de 2016 e ficou triste ao saber do cancelamento de 2025. Tom desabafou com o MASSA! e opinou sobre o que, na visão dele, fez o festival chegar a esse ponto.

Tom Potência é fã do Salvador Fest e sempre foi ao evento com os amigos
Tom Potência é fã do Salvador Fest e sempre foi ao evento com os amigos | Foto: Arquivo Pessoal

“Eu acho que realmente o que foi perdendo a essência foi a questão de divisão dos setores, porque a pista antigamente tinha prioridade para o evento. A pista ficava na frente do palco junto com os camarotes, tinha o camarote de um lado que ficava em um palco, tinha o camarote do outro lado e a pista ficava no meio e era um espaço bem grande. Eles foram deixando a pista um pouco mais afastada, foram aumentando o backstage e a pista foi ficando mais afastada”, falou ele.

Imagem ilustrativa da imagem Fim do Salvador Fest? Entenda toda a crise na festa de camisa colorida
Foto: Divulgação
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Foi aumentando valores e foi fugindo da essência do evento. A essência do evento é o quê? Pagodão, artista com raízes de Salvador e artistas que o público de Salvador gosta de curtir

Tom Potência

Tom Potência também pediu que a festa volte ao seu local de origem. “O Parque de Exposições é o melhor lugar para a pessoa se deslocar, para ir para a Suburbana, para ir a outros lugares de Salvador. O Wet não é o lugar que dá essa acessibilidade para o público, entendeu? Você tem que gastar muito caro com aplicativo, ou então você tem que sujeitar a um ônibus muito lotado, ou você tem que andar muito para pegar o metrô”, finalizou.

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