
Ao longo das décadas, o preconceito presente na sociedade fez com que as histórias de muitas pessoas caíssem no esquecimento. Como uma forma de combater esse apagamento histórico, a escritora Amanda Julieta lança neste sábado (15) o livro No Rastro de Estela. A obra acompanha a vida de Estela, uma mulher negra e lésbica que precisa lutar contra o preconceito em Salvador no início do século 20. O lançamento vai ocorrer às 16h30, na Casa do Benin, no Pelourinho.
Apesar do livro ser uma ficção em prosa, sua trama tem raízes na vida real. A trajetória de Estela é inspirada pela luta de diversas mulheres que foram silenciadas durante a história.
“Eu fiquei pensando sobre quantas mulheres negras viveram no passado romances com outras mulheres negras e essas histórias de amor foram apagadas. A gente tem muito acesso às histórias de violência, mas pouco acesso às histórias de afeto, de amor”, contou Amanda Julieta em entrevista ao MASSA!.
A relação de Amanda com a literatura começou ainda na infância. O desejo de ser escritora também é antigo, mas só veio se concretizar em 2021, quando ela publicou sua primeira obra, o livro infanto-juvenil Dandara.
“Por muito tempo eu quis ser escritora, mas por eu não ter acesso a livros de escritoras e escritores negros, era como se eu não pudesse ser escritora”, explicou.
Mesmo com a obra sendo ambientada no início do século 20, problemas como o racismo e a lesbofobia continuam presentes em nossa sociedade. Dessa forma, a escritora argumenta que é preciso olhar para o passado para entender como combater os problemas de hoje. “Esse passado de violência vai se atualizando nas nossas vidas. Eu acho que, de certa forma, é importante retornar para o passado não só para pensar sobre essas histórias, mas também para pensar que o passado nos diz sobre formas de resistência e reexistir”, completou.
Além de uma trama que propõe reflexões, No Rastro de Estela é, acima de tudo, uma história de amor. Amanda enfatizou o papel de retratar a paixão entre mulheres em sua nova obra. “O amor é uma potência de vida. Eu queria mostrar a radicalidade possível das vidas de mulheres negras que ousaram, que desafiam os lugares impostos às mulheres negras. Para mim, é muito importante que essas histórias alcancem as pessoas”, pontuou.
Por fim, Amanda defendeu a importância das mulheres negras estarem mais presentes no mundo literário. Seja escrevendo ou consumindo, a literatura ainda é carente de mais diversidade. “Durante tanto tempo, nós escrevemos e falamos, mas não fomos lidas ou ouvidas. É de suma importância que nossa voz ecoe no mundo, para que tenhamos uma diversidade de vozes na literatura”, afirmou.
Orgulho e acessibilidade
Durante o lançamento de No Rastro de Estela serão distribuídas algumas cópias gratuitas do livro. Além disso, o evento também vai contar com um bate-papo sobre literatura e memórias de mulheres negras, com a participação da professora de letras vernáculas da Ufba, Rosines Duarte. Pensando na acessibilidade para pessoas surdas, a roda de conversa vai contar com tradução em Libras.
Amanda explica que, desde quando começou a planejar esse momento de conversa, ela pensou em como poderia incluir a comunidade surda no evento. A escritora defende que todos os cidadãos devem pensar em medidas de inclusão para pessoas com deficiência. “Todos nós precisamos ter responsabilidade com a acessibilidade. Eu acho que a gente precisa fazer a nossa parte para garantir a inclusão com deficiência, para que elas tenham acesso [às coisas]”, pontuou.
Além de Dandara, que é seu primeiro livro publicado, Amanda também escreveu Tem Poeta na Casa? — Mulheres Negras, Poetry Slam e Insurgencias. Os dois primeiros trabalhos foram responsáveis por abrir as portas de sua carreira como escritora.
“Os dois livros têm me dado a alegria de encontrar leitores e esses encontros têm sido fabulosos. À medida que o livro vai chegando em diferentes lugares, eu também vou conhecendo diferentes pessoas”, declarou.
A arte assume a função de impedir que o preconceito continue se perpetuando pelas eras. Ao longo de suas publicações, Amanda vai firmando a escrita como sua arma contra a opressão. “Eu penso no quanto a literatura é importante para tentar dar conta dos vazios, dos esquecimentos e dos silêncios que foram fabricados nas histórias de pessoas negras e dos povos originários de uma forma geral”, pontuou.
O lançamento é um novo passo na trajetória literária de Amanda. O orgulho de publicar mais um projeto não cabe dentro do próprio peito. “Eu fiquei muito emocionada em ver o resultado do livro, que é um livro feito por mulheres. A equipe que faz esse livro é formada por mulheres. Então, ter esse livro nas mãos é uma grande emoção”, afirmou.
Serviço
O que: Lançamento do livro No Rastro de Estela;
Quando: sábado, 15 de março, às 16h30;
Onde: Casa do Benin, Pelourinho;
Entrada: gratuita;