
A atriz Roberta Rodrigues venceu uma ação judicial contra a TV Globo e será indenizada em R$ 500 mil por assédio moral e racismo durante as gravações da novela 'Nos Tempos do Imperador', exibida em 2022. O caso veio à tona após Roberta e as atrizes Cinnara Leal e Dani Ornellas denunciarem o diretor artístico Vinicius Coimbra por tratamento desigual entre atores negros e brancos no set.
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A decisão foi proferida pela juíza Aline Gomes Siqueira, do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, que considerou que a emissora falhou em garantir um ambiente profissional saudável, permitindo práticas discriminatórias. A emissora ainda pode recorrer.
Mesmo que a Justiça tenha reconhecido as alegações da atriz, o valor da indenização ficou bem abaixo do solicitado inicialmente. Roberta Rodrigues havia pedido R$10 milhões como compensação pelos danos sofridos, mas recebeu apenas uma fração dessa quantia.
Em seu depoimento, a atriz revelou que o desgaste emocional causado pela situação foi tão intenso que precisou se afastar da novela por três meses. Ela também mencionou que chegou a considerar abandonar a carreira artística, mas foi convencida a continuar após receber convites para as séries A Divisão e Veronika.
Muito além do comportamento de Coimbra, a novela sofreu diversas denúncias relacionadas ao seu roteiro. Diversas cenas foram acusadas de perpetuar estereótipos racistas e suavizar a realidade da escravidão. Além disso, informações reveladas pelo Notícias da TV indicam que, durante a pandemia, os atores negros foram obrigados a gravar mesmo nos momentos mais críticos da Covid-19, enquanto o elenco branco foi poupado da exposição ao vírus. Um dos relatos mais impactantes do caso envolve uma fala do diretor no set: "O elenco vem comigo, os pretos ficam." Quando questionado sobre suas atitudes, Coimbra teria respondido que os atores negros deveriam se sentir gratos por estarem ali.
As denúncias tiveram consequências para Coimbra, que foi afastado do cargo quando o caso veio a público e foi demitido dois anos depois. O diretor afirmou que a emissora justificou sua saída alegando assédio moral.
A Globo sempre negou as acusações e alegou que nunca houve segregação entre os atores dentro da empresa. A emissora usou como argumento o fato de Roberta Rodrigues ter trabalhado em outras produções da emissora após Nos Tempos do Imperador.
Embora tenha evitado comentar a condenação, a Globo reconheceu que poderia ter lidado melhor com a abordagem racial na novela. A emissora afirmou que está revisando seus processos internos para evitar que problemas semelhantes aconteçam no futuro e garantir um ambiente de trabalho mais inclusivo. Os advogados da atriz, por sua vez, preferiram não se manifestar, já que o processo tramita sob sigilo.