
O solinho que mistura o pagodão com o hip hop americano dos anos 80 tomou conta das ruas, redes sociais e paredões de Salvador. Diferente de tudo o que o público está acostumado a ouvir, o ‘Bloquinho 244’ traz o sample da canção ‘What People Do For Money', do grupo Divine Sounds, com um toque do dendê baiano do Baruan Studio. A pessoa à frente desse sucesso é do jovem cantor Dejota na Voz, de 26 anos.
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Batizado como Vini de Jesus Teixeira, o artista adotou o nome Dejota por causa da própria trajetória artística que construiu. Há seis anos, antes de começar a subir aos palcos como cantor, ele trabalhava como DJ de funk ao lado de dois amigos. A galera que ia para as festas passou a apelidá-lo dessa forma para pedir músicas ou perguntar quando ele iria se apresentar novamente. A brincadeira ‘bateu certo’ e caiu no gosto do povo.
“Eu já tinha dado uma esfriada nessa onda de DJ e tava só compondo, compondo várias letras. Na primeira oportunidade que eu tive de botar a cara na pista, eu botei. Aí todo mundo ficou apertando: ‘Ai, mano, tem que ser Dejota, vai ter que ser Dejota’. E eu também tenho um MPC aqui, que é uma referência total ao o que o DJ toca, desenhado no corpo. E o ‘na Voz’ veio porque comecei a cantar”, disse ele em entrevista exclusiva ao MASSA!.

Inclusive, Dejota traz em suas apresentações e projetos a essência de DJ. Foi justamente essa característica nova que chamou atenção e o fez deslanchar em apenas 6 meses desde que decidiu mudar de carreira. Ele é o primeiro cantor de pagodão a ter um DJ junto com a banda, característica muito comum aos MC’s de São Paulo e Rio de Janeiro, mas inédita na Bahia.
Ouça o bloquinho:
“Para a gente se destacar nesse mercado mesmo, a gente tá vindo totalmente diferente, em outra linhagem. E como a gente tá vindo totalmente diferente, como eu já tenho essa referência de DJ, eu achei muito importante, adicionar um DJ na banda, até mesmo porque pra gente conseguir furar essa bolha de Salvador, eu acho que vai ajudar muito”, explicou ele.
Os vários talentos de Dejota

Apesar de só ter ganhado os holofotes nos últimos meses, quando decidiu sair dos bastidores para assumir o microfone, o artista acumula diversos talentos profissionais. Além do trabalho com DJ, ele também é compositor e motoboy.
Dejota na Voz compôs algumas músicas que ficaram muito conhecidas pelo público, como ‘Start Clonada’ e ‘João Grandão’, a febre do São João do ano passado. Quando as canções estouraram nas plataformas digitais, ele percebeu que tinha potencial para alçar o próprio voo.
“As músicas que eu tava compondo estavam até fazendo sucesso na mão das outras pessoas, mas as pessoas não tinham aquela gratidão, entendeu? Aí eu tive que me pôr na frente do meu projeto para ser vocalista e trazer minhas ideias eu mesmo”, revelou.
Sempre trabalhador, Dejota na Voz concilia a função artística com entregas de alimentos por aplicativo. Casado e pai de duas filhas, uma garotinha de 6 anos e uma bebê de 6 meses, ele se desdobra para garantir o sustento da esposa e das pequenas Maria Helena e Ana Vitória. “Eu tenho que fazer a correria mesmo para manter a casa, a família”, contou ele.

O pagodeiro acredita que o público se identificou com ele pelo fato de sempre tratar a realidade e as suas experiências de vida nas músicas. O Bloquinho 244, por exemplo, traz referências ao meio de motoboys e aos motoqueiros que gostam de ‘dar grau’, ou seja, fazer manobras perigosas com a motocicleta.
O apoio dessas pessoas alavancou o artista: “Agora eu tô um pouco mais afastado, por causa da carreira mesmo, do grau, mas a galera gosta muito, e foi a galera do grau que fez eu romper essa barreira. Tenho que agradecer muito a galera do grau, porque ela foi a chave, o verdadeiro portal, para eu chegar onde estou hoje”.
Seus bordões mais conhecidos são: “Quem freia perde, né segredo”, “Da Barra é mais caro” e “Truculência”. O primeiro é relacionado ao grau, o segundo sobre o bairro em que ele nasceu, foi criado e mora, e o terceiro é uma gíria local.
“É uma parada diferente, né? Tipo, lá na Barra, a gente adicionou essa parada no nosso linguajar. Truculência é para falar de uma parada que for muito boa”, detalhou o artista.
Sonhos, planos e futuro
Agora que conseguiu engatar o próprio nome, acumulando milhões de visualizações nas redes sociais, Dejota na Voz está se organizando para lançar mais músicas e não sair da mente e das playlists do público. Ele se sente realizado e grato por todas as coisas positivas que já aconteceram na vida dele.

O jovem percebe os efeitos da fama em pequenos momentos da rotina: “Muita coisa mudou. Poxa, até quando eu chego na rua mesmo as crianças lá onde eu moro pega do lado do carro, balança o carro, parece até que vai virar o carro, um bocado de criança cerca. Muita coisa boa, fora os lugares que a gente está tendo a oportunidade de conhecer. Hoje mesmo a gente vai fazer uma viagem. As portas estão se abrindo, graças a Deus”.
Sempre se vendo como uma só equipe com os músicos e o DJ da banda, Dejota fala sobre os planos e sonhos dele: “O nosso maior sonho mesmo é ganhar o Brasil mesmo, sair e levar o pagodão mesmo para o Brasil daquele jeito, para tocar em todos esses lugares, levar um pouco da nossa truculência para a galera conhecer”.
Ao ser questionado se tem vontade de fazer parceria musical com outros artistas, Dejota na Voz confessou quais são as pretensões dele. “Eu já trampo com um cantor, hoje eu tenho a oportunidade de estar do lado do Malafaia, que é o paizão de lá da Sagaz Produções também, aí trampo com ele. Graças a Deus, hoje eu tenho a oportunidade de estar até vivenciando o dia a dia do lado dele, aprendendo coisas novas. Tem Igor Kannário também que é paizão e referência total aqui em Salvador e Léo Santana”, disse.

Outro objetivo para um futuro próximo é poder puxar um trio elétrico no Carnaval de Salvador em 2026. “É a nossa meta, até mesmo porque a gente é morador da Barra, a gente já cresce vendo o Carnaval ali na Barra constantemente. Nossa meta é estar em cima do trio no próximo ano para trazer alegria pra galera”, finalizou.