
O mundo passa por um momento singular. A democracia, que até pouco tempo atrás parecia um titã inabalável, hoje em dia se encontra em seu estado mais frágil. Em cenários como esse, cabe à arte suscitar as questões que a população deve fazer a si mesma e aos seus líderes. É com essa missão que Uma Batalha Após a Outra, longa estrelado por Leonardo DiCaprio que chegou nesta semana aos cinemas, desenvolve sua trama.
O filme se passa nos Estados Unidos sob comando de um regime autoritário e com uma forte cultura militarista. Os paralelos com a vida real começam por aqui, uma vez que o governo de Donald Trump é constantemente apontado como autoritário — tendo inclusive polêmicas envolvendo associação ao nazismo.
Veja o trailer:
O presidente americano não aparece no filme, mas fica nítida a crítica feita pelo diretor Paul Thomas Anderson aos ideais defendidos por Trump.
Em meio a esse cenário caótico, somos apresentados ao grupo French 75, que busca a derrocada do regime autoritário e o início da revolução.
Optar por mostrar o ponto de vista dos revolucionários permite que o filme demonstre a postura desumana adotada pelo exército ao lidar com forças de oposição. É assim que somos apresentados a Ghetto Pat, personagem vivido por DiCaprio.
Embora seja um membro importante da revolução, o protagonista muda de vida após ter uma filha. Por conta da perseguição do exército, ele muda seu nome para Bob Ferguson e abandona a vida de guerrilha.
A partir desse momento, DiCaprio consegue entregar mais emoção para sua performance. O longa assume uma roupagem mais cômica, permitindo com que o ator explore diferentes facetas de seu personagem.
Sean Penn, que vive o coronel racista Steven Lockjaw, entrega uma atuação digna de Oscar. Por meio do personagem de Sean, o diretor expõe a hipocrisia dos supremacistas brancos e sua prática de sexualizar os corpos negros.
Apesar de focar mais no humor, Benicio del Toro também ganha destaque ao representar a realidade enfrentada pelos imigrantes nos Estados Unidos.
Uma Batalha Após a Outra é um filme que não tem medo de ser político. Utilizando o drama, a ação e o humor, o longa consegue destacar questões que precisam ser debatidas e que, acima de tudo, clama pela defesa da democracia.
O sexo e as relações de poder
Enquanto desenvolve suas críticas à realidade americana, Paul Thomas Anderson opta por usar o erotismo como um forte recurso narrativo.
Durante diversas cenas, o diretor escolher construir paralelos entre o sexo e a própria revolução.
O cineasta mostra como as relações sexuais também acabam, de certa forma, refletindo relações de poder que se perpetuam em diferentes instâncias da sociedade.
A partir disso, ele dedica um certo momento do filme a questionar como o machismo ainda é uma força presente na sociedade. Por mais que seja uma revolucionária, a personagem de Teyana Taylor também enfrenta os dilemas de uma mãe de primeira viagem.
Paul Thomas Anderson mostra como, algumas vezes, a gravidez pode se tornar a “morte” de uma mulher enquanto indivíduo, uma vez que ela deixa de pensar nas suas próprias vontades para ser induzida a pensar apenas no bem-estar de seu bebê.