O primeiro grupo afro-percussivo feminino que o mundo conheceu está comemorando 30 anos de existência - e resistência. Com sede no Pelourinho, a Banda Didá é o reflexo da potência que é a arte de uma mulher preta. O aniversário, celebrado na quarta-feira(13), fez tremer as pedras do Pelourinho num cortejo que saiu do Museu Eugênio Teixeira Leal, onde ocorreu uma solenidade de celebração, até a sede da Didá, do outro lado da rua. O som dos tambores encantou a todos que passavam e os admiradores logo se posicionaram para apreciar.
O cortejo, regido pela maestrina da banda, Adriana Portela, reuniu mulheres, meninas e tambores para cantar a gratidão pelas três décadas que Didá coloca o bloco na rua. Para Adriana, é um momento mais que festivo. “Eu considero que somos vencedoras, vitoriosas por termos chegado até aqui”, disse.
“Comemorar essa quantidade de anos funcionando sem nunca ter parado, contra tantos obstáculos, só pode ser uma vitória”, afirmou Adriana, falando da dificuldade dos grupos afro de se manterem. Essas mulheres superaram estatísticas diversas para alcançar o sucesso e colocar a Didá como referência no samba reggae. “O tambor era um símbolo masculino e nós conseguimos adentrar nesse espaço, quebramos o paradigma de que só o homem tem força para tocar”, comentou Adriana.
A vice-presidente da Banda Didá, Débora Souza, comentou ainda sobre como a instituição veio para transformar a vida das muitas mulheres que já passaram por lá. Mais que trazer o aspecto artístico, a Didá também trouxe autoestima. “Em uma instituição como a Didá, que sobrevive da banda e de doações, mas garante essa estrutura e busca qualidade para as mães e filhas que estão aqui, a gente vê as vidas que conseguimos transformar. Mulheres que chegaram aqui sem perspectiva de vida e hoje elas se reconhecem, aceitam os seus cabelos, seus traços, e vão se encontrando e se afirmando”, disse Débora.
Solenidade cheia de emoções e novidades
Para celebrar as três décadas de transformação social através da música, a banda montou uma programação especial. Nessa quarta-feira, aconteceu uma solenidade de apresentação do mini documentário sobre a história da Didá, “As Rainhas do Samba Reggae”, dirigido por Aylê Santana; e também o anúncio oficial do tema do carnaval de 2024, que será “Neguinho do Samba: o grande afrofuturista brasileiro”.
A influência de Neguinho do Samba, fundador da Didá, é imensurável para a cultura baiana, e Débora, que além de vice-presidente da banda é a filha mais velha do maestro, atesta isso.
“Estamos sempre levantando a bandeira de ter Neguinho vivo dentro do projeto que ele criou. É um orgulho sermos as guardiãs do samba reggae e desse prédio que é a sede da Didá. Ele escolheu uma casa para a transformar a vida de mulheres quando poderia ter escolhido o carro do ano. Levar esse tema para a avenida vai ser muito emocionante”, garantiu. A festa, no entanto, não acabou ontem. No domingo (17), às 14h30, a farra continua com o grande show “Didá toca Neguinho e Canta Caetano”, estrelado pela banda e muitos convidados, no Teatro Quincas Berro D’Água.