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Cultura - 09/01/2025, 05:00 - Adan Nascimento

Ator baiano Ricardo Bittencourt viverá o saudoso Padre Pinto no teatro

Sérgio Marone também participa do espetáculo

Sérgio Marone e Ricardo Bittencourt
Sérgio Marone e Ricardo Bittencourt |  Foto: Luis Ushirobira / Divulgação

O ator baiano Ricardo Bittencourt interpretará o saudoso Padre Pinto, que escandalizou a Igreja Católica ao vestir-se da orixá Oxum, entre outras travessuras, no Teatro Sesc Pompeia, em São Paulo.

A peça 'Padre Pinto', escrita e dirigida por Luiz Marfuz, estreia em 24 de janeiro e conta com Sérgio Marone (ator convidado que viverá Don Camilo Ferrara, papel inspirado num emissário do Vaticano que veio ao Brasil na época com a repercussão do caso para decidir sobre a permanência ou expulsão do padre), atores, dançarinos e músicos do Teatro Oficina e da Bahia no elenco.

Sérgio Marone e Ricardo Bittencourt
Sérgio Marone e Ricardo Bittencourt | Foto: Luis Ushirobira / Divulgação

Na foto que vocês conferem afora, Sérgio Marone e Ricardo Bittencourt estão caracterizados com seus personagens.

O Padre José de Souza Pinto, manteve viva a tradição do Terno de Reis na Paróquia da Lapinha, em Salvador, que dirigiu por 20 anos.

Ele escandalizou a Igreja Católica ao surgir maquiado e vestido como a orixá Oxum durante uma das celebrações, em 2006, virou assunto na mídia nacional e a partir daí se transformou em celebridade e pintou o sete: foi ao Festival de Verão de Salvador e deu selinho em Caetano Veloso, dançou no palco com o Psirico.

Foi jurado da Noite da Beleza Negra do Ilê Aiyê, ajudando a eleger a "Deusa do Ébano". Participou de festa em boate voltada ao público LGBTQIAPN + e deu várias entrevistas criticando a posição do catolicismo sobre o celibato e outros temas.

Esse colunista que vos escreve teve o prazer de conhecer o Padre Pinto. Muito carismático e acessível, ele atendeu ao meu convite para prestigiar o lançamento da nova edição da revista Carnafolia, no Rock in Rio Café, no antigo Aeroclube Plaza Show, que hoje abriga o novo Centro de Convenções da cidade. Ele compareceu, subiu ao palco, onde roubou a cena dançando até o chão com Rosiane Pinheiro, durante show da Gang do Samba.

No mesmo ano a Arquidiocese de Salvador o afastou das atividades paroquiais alegando que ele se comportava de maneira não convencional. Pinto era também artista plástico e bailarino e na época do afastamento, contou a este colunista que estava escrevendo um livro onde iria contar todos os bastidores da igreja. Escancarar tudo!

Depois do afastamento da Paróquia da Lapinha, ele sumiu do mapa, não atendia ligações. Boatos davam conta que a igreja o calou. Certo dia, fui dar um passeio na Ponta do Humaitá, na Boa Viagem, Cidade Baixa. E pra minha surpresa, ele estava lá, super discreto, sentado, acompanhado por uma pessoa, parecia uma espécie de cuidador.

Perguntei se ele estava bem, qual o motivo do sumiço, se ele havia sofrido alguma ameaça, pressão por causa do livro, se a reclusão foi obrigada ou espontânea, que eu iria por a boca no trombone para ajudá-lo. Ele me disse que estava bem, estava num convento no bairro de São Caetano e que foi para se cuidar, que ele percebeu que tinha que dar uma parada, mas que estava sendo bem tratado, estava aproveitando para pintar quadros. Ele disse ainda que sonhava em voltar para a Paróquia da Lapinha.

Fiquei aliviado em vê-lo, mas, confesso que ele parecia intimidado. Depois desse dia nunca mais o vi e nem consegui falar no contato que ele me passou da igreja do São Caetano.

Passaram-se os anos e em 2019, Padre Pinto faleceu, aos 72 anos e junto com ele se foi os segredos que iria revelar no livro. Curiosidade me define!

Que esta peça rode o país e venha para Salvador também. Padre Pinto deixou saudades. O "Terno de Reis" da Paróquia da Lapinha, nunca mais foi o mesmo sem a sua alegria.

Parabéns a todos os envolvidos pela iniciativa. Padre Pinto foi um dos personagens vivos que fez jus ao ditado popular "Só se vê na Bahia".

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