O termo relacionamento aberto faz referência a um tipo de união na qual duas pessoas estão em um compromisso, mas, em comum acordo, também estão abertas para um possível envolvimento com outros. Este tipo de relação vem ganhando força e se tornando normal, mas ainda causa polêmica e até mesmo preconceito.
De acordo com levantamento realizado pela plataforma de encontros Tinder, existe uma crescente no interesse dos usuários por modelos de relacionamentos abertos. Segundo os números apresentados pelo aplicativo de relacionamento, 41% dos jovens de 18 a 25 anos estão abertos para relações não-monogâmicas, ou seja, relacionamentos que envolvam mais pessoas além dos dois parceiros.
Para início, é importante entender, de fato, como funciona um relacionamento aberto, no que diz respeito a outras relações não-monogâmicas. Um exemplo disso é a confusão entre relacionamento aberto e poligamia, que por muitas vezes, entende-se como se fosse a mesma coisa.
Em entrevista ao Portal Massa!, a psicóloga Nicole Ornellas Nunes, psicoterapeuta sistêmica, esclareceu que o relacionamento aberto, casados ou não, não é um sistema, ao contrário do que ocorre na poligamia. “É uma decisão dos parceiros sobre abrir a relação para outras pessoas de fora, tendo em vista que não seria uma traição”, iniciou a profissional.
Já a poligamia “é um sistema matrimonial aceito em algumas culturas de alguns países e nele é permitido o homem ou a mulher ter mais de um parceiro, casados, com o devido consentimento de todos os envolvidos”, declarou Nicole.
Com os pontos nos i’s sobre a diferença das relações não-monogâmicas, vamos para a parte que interessa: como funciona um relacionamento aberto? Sem ter uma 'receita de bolo' exata, a psicóloga elencou os principais pilares para fazer com que a relação funcione de maneira respeitosa.
“Para que não se tenha nenhum tipo de conflito a longo prazo, os parceiros, antes de tomarem a decisão de abrir a relação, precisam estarem convictos disso e terem um motivo significativo também, além da maturidade”, afirmou Nicole.
Como exemplos, a psicóloga sugeriu refletir: “estou abrindo meu relacionamento porque trabalho viajando e não acho justo minha parceira(o) ficar muito tempo sem uma companhia, atenção e sexo? Ou estou abrindo porque estamos em momentos diferentes das nossas vidas e para não prender meu parceiro(a) concordamos em abrir a relação?”.
Sinais
Porém, como em todas as relações, nem tudo é mil maravilhas. Isso porque existem pontos de alerta de que o relacionamento aberto pode não estar indo tão bem assim. “Quando a base do acordo não for sólida, vai ruir na primeira pessoa que surgir dentro da relação. Na grande realidade, os reais problemas vêm de pessoas que aceitam esse tipo de relacionamento para não perder seu parceiro(a), se submeter a esse sofrimento e sacrifício na esperança de algum dia ter aquela pessoa só para si novamente”, alertou a psicóloga.
Além disso, a profissional destacou sobre perfis de personalidades que não se enquadram na relação não-monogâmica. “Pessoas que são dependentes emocionai, que não lidam muito bem com a falta do apego, pessoas ciumentas que tem sentimento de posse enraizado, podem ter grandes conflitos caso abra a relação. As demais pessoas, controlando o emocional e entendendo a dinâmica do relacionamento, conseguem levar de forma tranquila”, alertou Nicole.
A profissional ainda destacou que “o relacionamento aberto é muito mais uma decisão do que um modelo de relacionamento. E para que funcione, ambos precisam ter a certeza do que querem”.
Polêmicas
Como dito anteriormente, os relacionamentos não-monogâmicos, de todas as esferas, são julgados pela maior parte da população, em especial por aqueles que não conseguem se enxergar em uma relação do tipo. Ao abrir as redes sociais, uma enxurrada de comentários negativos sobre os relacionamentos abertos tomam conta da web.
“Morro solteiro mas não tenho relacionamento aberto”, disparou um internauta na rede social X. “Deus me livre de relacionamento aberto, tem que ter coragem”, comentou mais um, na mesma rede social. “Relacionamento aberto não é igual a ser ficante?”, questionou outra.
Os exemplos citados são poucos, equiparados às inúmeras projeções sobre o relacionamento aberto. De acordo com Nicole, a estranheza e polêmica em torno do assunto vêm da cultura tradicionalista de 1940.
“Ainda temos, afinal, muito do que se é seguido e tido como 'certo'. Isso vem dos valores religiosos, crenças familiares e a própria constituição federal que temos. Para algumas gerações, ainda é difícil aceitar a ideia de que existem pessoas dispostas a abrirem a relação e estarem bem com isso”, esclareceu a psicóloga.