O mundo dos fetiches é tão vasto quanto a imaginação humana permite, e alguns desejos ultrapassam os limites do convencional, levando-nos a explorar o terreno do inusitado.
Um dos fetiches que mais desperta curiosidade – e talvez estranheza – é a espectrofilia, a atração sexual por fantasmas ou seres sobrenaturais.
Para entender melhor esse fenômeno, o MASSA! conversou com o psicólogo clínico Carlos H. Kruschewsky, que ajudou a entender como funcionam os fetiches, especialmente os tidos como “estranhos”.
Antes de mergulhar nesse fetiche específico, Kruschewsky explicou o que faz um desejo ser considerado “estranho” para a maioria das pessoas. “A palavra 'fetiche' vem de ‘feitiço’, o que implica algo que enfeitiça a mente e se torna um objeto de desejo inconsciente. Já o termo ‘estranho’ é, muitas vezes, uma questão daquilo que foge do convencional”, disse ele.
Na prática, desejos fora do comum podem provocar reações de distanciamento ou preconceito. Entretanto, para a psicologia, não existem fetiches “estranhos”, em si, apenas diferentes formas de expressar os desejos, que podem tanto construir quanto destruir.
A espectrofilia não é só uma fantasia de filmes ou uma história de terror com conotações picantes; ela existe na realidade e carrega significados profundos. Kruschewsky observou que o desejo por um objeto sobrenatural pode refletir a busca por escapar dos limites impostos pela realidade.
Muitas vezes, esse tipo de fetiche pode surgir como uma tentativa de explorar traumas não resolvidos, como perdas e lutos, ou de evitar a vulnerabilidade emocional que uma relação real traz, como explicou Carlos.
Essa atração por uma entidade inatingível permite que a pessoa viva um tipo de intimidade sem os riscos de uma troca recíproca.
O fator da falta de riscos de um relacionamento real aparece de maneira importante. “O sobrenatural permite a fantasia de um relacionamento sem a reciprocidade ou os riscos emocionais de uma relação convencional”, disse.
Mas é importante estar sempre atento. Quando um desejo erótico se torna um motivo de angústia ou prejudica a vida cotidiana, a terapia pode ser um caminho valioso. O especialista enfatizou a importância de um espaço livre de julgamento, onde o indivíduo pode falar abertamente sobre suas fantasias.
O processo terapêutico busca ressignificar traumas e entender o que leva a fixação do desejo em determinado objeto. “Isso ajuda a pessoa a fazer escolhas mais equilibradas”, disse.
Fetiches como a espectrofilia podem parecer bizarros à primeira vista, mas fazem parte da complexidade da sexualidade humana. Compreender e acolher essas expressões é essencial para um diálogo cada vez mais aberto e sem tabus!
Essa ideia pode se tornar um problema?
Embora a ideia de se relacionar com fantasmas possa parecer inofensiva, é preciso entender os limites entre a fantasia saudável e o impacto negativo na vida de quem tem esses desejos. O psicólogo Carlos Kruschewsky esclareceu que fetiches só precisam de intervenção se causarem sofrimento ao indivíduo praticante ou afetarem outras pessoas ao redor dele. "Se um desejo não gera desconforto, é consensual e não tem consequências prejudiciais, não há o que ser tratado", apontou. Mas quando uma fixação interfere nas relações ou leva a comportamentos autodestrutivos, é hora de buscar ajuda profissional.
História já apareceu na telona
Na cultura popular, o filme 'Ghost: Do Outro Lado da Vida' (1990) é um exemplo perfeito de como o sobrenatural pode se misturar com romance e desejo, trazendo elementos da espectrofilia para um contexto mais acessível e emocional. Estrelado por Patrick Swayze e Demi Moore, a narrativa gira em torno de Sam, um homem que, após ser assassinado, volta como espírito para proteger sua amada, Molly.
O filme encapsula o conceito de se apaixonar e manter uma conexão íntima com uma presença além da vida física, uma ideia que tem ecos claros no fenômeno da espectrofilia. Apesar de incomum, o desejo por uma presença sobrenatural toca questões universais.