
A ideia de enviar imagens de nudez não é nova. Em uma busca rápida pela internet, é possível verificar que até os povos mais antigos faziam pinturas do seus corpos nus para destinar aos seus amados. Dom Pedro I desenhava o 'bilau' nas cartas endereçadas para a sua amante mais famosa, Domitila de Castro.
Se naquela época o bicho já pegava, imagine nos tempos do digital, quando o envio de de fotos e vídeos se tornou tão rápido e prático. Mas por que será que as pessoas enviam nudes?
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De acordo com a sexóloga Raquele Carvalho, não há apenas uma motivação para o envio de nudes. "Pode ter diversas motivações. Existem razões que se misturam, desde emoção, comunicação e necessidades afetivas. Para muita gente mandar nudes é uma forma direta de desejo, é o tesão em provocar", diz. [...] Pode ser também uma forma de acender a relação".
É uma linguagem sexual que o mundo digital substitui ou complementa o encontro sexual. Para outros é um jeito de manter a conexão quando a pessoa não consegue ver a outra com frequência.
Raquele Carvalho

Mas se ligue! homens e mulheres enxergam a prática de mandar e receber nudes de formas diferentes, viu? Segundo a sexóloga, essas diferenças são tantos emocionais como culturais. "Socialmente, desde pequenos os homens são ensinados e estimulados a tocar na parte íntima, a ver como uma coisa bonita, algo para se orgulhar. No caso das mulheres é o contrário. Não há estimulo em tocar, muito menos achar bonito", diz a profissional.
"Outra questão é que os homens foram ensinados a enxergar o sexo de forma mais visual e menos vulnerável, então isso facilita o envio dos nudes, muitas vezes fora do contexto. Já as mulheres crescem aprendendo que as exposição sexual pode trazer julgamento, culpa ou risco social, então tendem a ser mais cautelosas", pontua.
Tirar foto, olhar com atenção e escolher como mostrar o corpo pode ser um exercício de reconhecimento.
Raquele Carvalho
Autoconhecimento e empoderamento
A fotografia ou o vídeo do corpo nu pode ser uma forma de autoconhecimento e empoderamento. Raquele destaca que, quando feito de forma segura, o nude pode ser transformador. "Tirar foto, olhar com atenção e escolher como mostrar o corpo pode ser um exercício de reconhecimento".
A pessoa aprende o que gosta, como se sente sexy, qual o ângulo a valoriza e isso fortalece a autoestima e intimidade consigo mesma.
Raquele Carvalho

Porém, ela alerta que tem diferença entre um nude empoderado e aquele que foi imposto ou pressionado. "A principal diferença estará na intenção da pessoa e no sentimento depois do envio. No nude emponderado, a pessoa decide por si mesma, sem pressão, faz porque quer, por tesão. Há sinais de insegurança ou pressão quando a pessoa sente que precisa enviar exclusivamente para agradar o outro, por que vai evitar brigas, para manter alguém do lado, por medo de perder algo ou alguém e depois do envio vem a sensação de arrependimento", conclui.
Fique atento aos riscos
Por mais prazeroso que seja, há muitos riscos em enviar imagens íntimas para outra pessoa. A advogada e presidente da Comissão de Tecnologia da Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB/BA), Tamiride Monteiro, explica que, a partir do momento que se manda um nude, se perde o controle da própria imagem.
"Infelizmente, após o envio, aquela foto ou vídeo pode acabar em lugares que você já mais imaginou — mesmo que a pessoa pareça extremamente confiável. É vasto os vídeos e fotos em sites pornográficos sem a devida autorização da pessoa", disse a advogada, que afirmou que o vazamento poder acontecer por vários motivos como:
➡️ Por maldade ou vingança pessoal: A pessoa pode usar a imagem para se vingar, chantagear ou humilhar.
➡️ Por acidente ou crime: O celular pode ser roubado, hackeado ou invadido, e aí o conteúdo cai nas mãos erradas.
Mas o problema não é só para quem manda, não se engane! Quem recebe nudes também fica vulnerável. "Não vale a pena guarda em qualquer dispositivo ou compartilhar o conteúdo e se for menor de idade ainda se agrava de acordo com art. 241-B", explica Tamiride.
"Se recebeu de alguém conhecido o chame, mostre e coloque a disposição seu dispositivo e apoio para as medidas necessárias, como guarda de provas e boletim de ocorrência", conclui.
Ou seja: recebeu? Apague. Nunca compartilhe!
Tamiride Monteiro

Mas por que, mesmo com os riscos que envolvem a prática, a galera segue enviando fotos picantes? A sexóloga Raquele Carvalho é bem clara em relação a essa questão: "Porque o desejo e a emoção, muitas vezes, falam mais alto do que a própria razão e isso impede que se avalie os riscos", explica.
Caiu na 'laranjada'? Saiba o que fazer
"Apesar de ser difícil, mantenha a calma. No Brasil, a internet tem leis para isso e a vítima não é a culpada. Nunca pague o criminoso, isso só alimenta o golpe e será um buraco sem fim", orienta a advogada.
"Não apague as conversas, elas são sua base de prova. Procure um advogado para salvar e coletar as provas digitais. Faça um boletim de ocorrência, pode ser presencial ou online", ressalta Tamiride.
A prática pode ser gostosa e trazer um novo estímulo para a relação, mas é preciso ter cudiado e ser realizada apenas entre pessoas de extrema confiança. Busquem pelo prazer, mas com cuidado e prevenção, mesmo que pelas telas!
