
O tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos ao Brasil parecia ter tudo para mexer nos preços dos pescados em Salvador. Mas, no Mercado do Peixe, em Água de Meninos, o cenário é de normalidade. Vendedores garantem que o bolso do consumidor, por enquanto, não sentiu redução alguma. Teoricamente, com menos exportação há mais produto sobrando para o consumo interno e, consequentemente, redução de preço. Estamos falando da famosa lei da oferta e da procura.
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De acordo com levantamento feito pela reportagem do Massa!, que percorreu bancas e ouviu quem lida com o pescado diariamente, os principais produtos continuam sendo vendidos nas mesmas faixas de preço de antes do 'castigo' de Trump.
Peixe no prato
Tilápia e lagosta, por exemplo, são itens cuja produção nacional é 70% exportada para os Estados Unidos, e ainda assim seguem na mesma: o quilo varia entre R$ 25 e R$ 35, e de R$ 50 a R$ 70, respectivamente.
Outros peixes e crustáceos também seguem com valores estáveis. A pescada amarela fica entre R$ 40 e R$ 45, robalo em torno de R$ 50, vermelho por volta de R$ 40, beijupirá entre R$ 45 e R$ 50 e camarão em faixas que vão de R$ 17 até R$ 65, dependendo do tamanho.

Ao MASSA!, comerciantes contam que a taxação dos EUA ainda não bateu no mercado local. "Como a gente ainda trabalha com o pescado do Brasil, não teve novidade na tabela. Só vamos repassar o valor em caso dos fornecedores diminuírem o preço", contou Gabriel Bispo, que já tem 10 anos no ramo.
Não teve aumento até agora, o preço continua o mesmo.
Gabriel Bispo, comerciante
Outro que reforça é Neném, com 6 anos de experiência no mercado, e afirma que a alta de preços no setor é marcada por fatores sazonais, não por decisões internacionais. "Aqui só costuma mudar no verão e perto da Semana Santa, que é quando a procura cresce muito. Fora isso, segue estável", explicou.

E as vendas?
Os feirantes também destacam que o movimento de compra e venda segue dentro da normalidade. "O consumo anda meio devagar, mas não é por causa do tarifaço. O cliente segue comprando o básico de sempre, sem susto no bolso", disse Josenil Conceição.

Impacto pode chegar logo
Se em Salvador a rotina é de tranquilidade, os bastidores do setor pesqueiro sofrem com 'dor de cabeça'. A Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) informou ao Portal Massa! que o impacto já é forte nas exportações.
Algumas exportações foram suspensas após a tarifa. Cargas voltaram para as fábricas e hoje ocupam estoques nacionais, necessitando ser redistribuídas.

Em contato com a reportagem, a instituição explicou que "ainda não há impacto nos preços internos, mas, se não houver intervenção rápida, a entrada repentina de grandes volumes no mercado pode derrubar os valores e causar prejuízos ao mercado".
Para evitar o colapso, o governo federal reagiu com o Plano Brasil Soberano, que prevê R$ 40 bilhões em linhas de crédito, sendo R$ 30 bilhões via Fundo Garantidor de Exportações (FGE) e mais R$ 10 bilhões do BNDES.
Política no cardápio
A taxação virou pauta em Brasília. Enquanto empresários pedem medidas para evitar perdas bilionárias, parlamentares discutem saídas para proteger produtores e consumidores. Procurado pelo MASSA!, o deputado federal Jorge Solla (PT-BA) criticou a medida de Donald Trump e alertou para seus impactos políticos e econômicos.
O tarifaço é uma medida desesperada de Trump em forma de extorsão
Jorge Solla (PT-BA), deputado federal
"Os EUA estão em declínio, com um grande endividamento, um processo longo de desindustrialização, terceirizou sua produção para explorar mão de obra barata nos países da Ásia, o que aumentou o desemprego", iniciou Solla.

O deputado também aproveitou para 'descer a lenha' na postura da extrema-direita. "A extrema-direita sempre se disse patriota, mas vemos agora de que lado ela está, mesmo que isso custe milhares de empregos, afete as famílias brasileiras e dê prejuízo a muito empresário que apoiou e ainda apoia Bolsonaro", afirmou.
Vamos ver até quando Trump vai aguentar.
Jorge Solla (PT-BA), deputado federal
Por fim, Solla defendeu a atuação do governo brasileiro: "E ainda tem a postura firme do governo, que está buscando uma solução negociada, mas que não vai se prestar a ser humilhado por Trump como ele tem feito com muitos chefes de Estado".
*Sob supervisão do editor Jacson Brasil