Celebrar a identidade negra em uma cidade como Salvador fala muito sobre identidade e representatividade. Na tarde de quinta-feira (6), o projeto Calu Brincante fez isso com excelência, através da realização do Circuito Letras Pretinhas.
O evento, gratuito e aberto à comunidade local, aconteceu no espaço Subúrbio 360, no bairro de Coutos, e reuniu uma criançada para conhecer um pouco da literatura negra, feita por negros e para negros.
A programação teve como ponto de partida uma imersão literária na poética da literatura preta infantojuvenil, baseada nas obras da autora Cássia Valle, idealizadora do circuito. O evento também contou com apresentações teatrais e musicais que integraram diferentes formas de expressão artística, reforçando a riqueza da cultura preta.
O Circuito Letras Pretinhas alcançou quatro bairros do Subúrbio, proporcionando um espaço de valorização e celebração da identidade negra. Cássia Valle destacou a importância desse movimento para que as crianças se vejam nos livros.
“A gente traz escritas das nossas vivências, das nossas memórias. São escritas pretas, escritas por mãos pretas e que falam de pretos, e isso faz uma diferença enorme. As pessoas brancas falam da gente, mas não têm essa vivência”, falou. “A gente ter visitado cada lugar desse e ter mostrado a essas crianças que existem autores, atores e artistas pretos é uma inspiração”, disse.
Diversas crianças de escolas da região foram assistir às apresentações. O evento promoveu a inclusão social com recursos de acessibilidade como tradução em Libras e audiodescrição. Crianças do Instituto de Cegos e da APAE também foram convidadas.
Sandra Calmon, professora da Escolab Coutos, comentou como a iniciativa abre os horizontes das crianças. “A literatura negra é uma alavanca para o mundo e para o desenvolvimento desses alunos, que na maioria dos casos estão vivendo essa realidade dura das periferias. É fundamental que eles se vejam”, disse.
Espaço do povo
O espaço Subúrbio 360, onde ocorreram as apresentações do Circuito Letras Pretinhas, é um equipamento municipal que reúne atividades de educação, qualificação e lazer gratuitas para a galera da região.
Cintia Bittencourt, gestora do equipamento, deu alguns detalhes do funcionamento do espaço. “Essa atividade do circuito é pontual, mas o nosso dia a dia aqui é de domingo a domingo atendo às pessoas do território. Atendemos 400 crianças de 10 escolas da região no contraturno escolar, e no período da noite temos 1.300 pessoas matriculadas nas nossas oficinas, que têm mais de 28 modalidades esportivas e artísticas para a comunidade".