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Codesal na parada - 02/03/2024, 06:00 - João Grassi - Atualizado em 02/03/2024, 09:56

Sosthenes detalha trabalho de "capacitação" da população após chuvas

Defesa Civil atua em projetos e ações de conscientização para soteropolitanos lidarem com ocorrências diversas

Sosthenes Macêdo durante entrevista com a reportagem do MASSA!
Sosthenes Macêdo durante entrevista com a reportagem do MASSA! |  Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE

Salvador acaba de atravessar um período de fortes chuvas no fim do mês de fevereiro de 2024, o maior desde 2005 nesta época do ano. Nestas ocasiões, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) é o órgão que mais fica ocupado na cidade, mas engana-se quem pensa que o cessar das tempestades significa uma pausa no trabalho de acompanhamento da população soteropolitana, que, costumeiramente, sofre com as consequências geradas pelo impacto do tempo.

Em entrevista exclusiva ao Portal MASSA!, o diretor geral da Codesal, Sosthenes Macêdo, detalhou sobre como funciona a "capacitação dos moradores das áreas de risco". "Durante todo o ano nós realizamos uma série de programas na perspectiva da prevenção, então trabalhamos muito com capacitação dos moradores das áreas de risco. Por exemplo: tivemos e vamos ter nesse próximo período a formação de voluntários. Na sexta-feira (1º de março) dessa semana nós vamos formar mais uma turma, então todos os meses, nas primeiras sextas-feiras de cada mês, nós fazemos o chamamento da pessoas para que os interessados possam vir para para Codesal fazer essa formação. Nas áreas de risco, também nós realizamos outras formações, a exemplo dos Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil, os NUPDECS. Com as nossas crianças e jovens, nós formamos no Programa de Defesa Civil nas escolas, o PDCE, já temos mais de 10 mil crianças hoje capacitadas", detalhou.

Sosthenes também destacou as ações mais voltadas para estrutura e redução de acidentes em áreas de maior risco. "São feitas também obras de contenção, que são realizadas pela Secretaria de Infraestrutura, a SEINFRA, por meio da SUCOP, a Superintendência de Obras Públicas e também as instalações das geomantas, que são feitas pelas equipes da Codesal. Nós realizamos uma série de programas na perspectiva da prevenção, como instalação de lonas em parceria com a Limpurb, dentre outras. Ocorre, entretanto, que nesses momentos mais chuvosos, nós precisamos dar resposta às populações, principalmente aquelas populações que estão instaladas nas áreas de risco de Salvador. Esse mês de fevereiro, o Centro de Monitoramento de Alerta e Alarme da Defesa Civil de Salvador (Cemadec) acompanhou esse ano fenômenos atípicos, de tal modo que nós vivenciamos, exceto 2005, desde 1985, o ano mais chuvoso. Quase que empatamos com 2005. De lá para cá, a nossa média histórica é de 98 milímetros. Tivemos já, em alguns bairros de Salvador, a exemplo do rio Sena, 328,5, ou seja, mais de três vezes o que era esperado para todo mês", completou.

O diretor ainda mencionou alguns trabalhos de vistoria e monitoramento feitos por diversos profissionais capacitados em diferentes áreas. "As equipes todas têm trabalhado em regime de plantão. Nós temos hoje aqui mais de duas empresas, engenheiros, arquitetos, geólogos que vão a campo realizar as vistorias no continente e nas ilhas. Nesta quarta (28), por exemplo, foi uma delegação nossa para a ilha de Maré para realizar uma série de vistorias com a nossa coordenadora da engenharia, um engenheiro estruturalista e dois geólogos, já pegaram embarcação, já foram para lá. Na terça (27) estivemos lá com o prefeito Bruno Reis e a vice-prefeita Ana Paula Matos na Ilha de Maré, local onde foi inaugurado uma série de equipamentos dentro de praças, pronto atendimento, mas na nossa perspectiva e na nossa missão, contenções de encostas que garantem a segurança daquelas populações que vivem na Ilha de Maré, nas praias da Ilha de Maré. E aqui no continente não é diferente, então uma série de vistorias são realizadas apontando os caminhos para que as pessoas estejam em condição de segurança. Nós fazemos isso, a gente serve como órgão de articulação, a Defesa Civil tem essa missão de ser um órgão de articulação, onde nós observamos as necessidades e apontamos caminhos para os moradores, muitas vezes de condição privada, que esse morador vai precisar tomar alguma providência", lembrou Sosthenes Macêdo.

A emoção de lidar com o pior

Com vastos anos de experiências, Sosthenes Macêdo admite que ainda não é fácil lidar com casos que envolvem grandes perdas ou até vítimas fatais, com dias mais chocantes de trabalho. No entanto, o diretor ressalta que "não dá pra você separar o humano do profissional", e explica que é justamente essa humanização que motiva o tratamento com as pessoas ser o melhor possível.

"Vou te dizer uma coisa se alguém disser que racionaliza, que esfria, pode estar fazendo um esforço enorme pra que isso seja verdade. Quem milita e atua nesse tipo de vivência tem que ter um tentar um pouco disso, até pra ter a cabeça certa no lugar pra tomar as decisões. Mas quando a gente se depara com alguns episódios de perda de vidas como o que eu vivenciei lá atrás em 2018, no Alto São João, em Pituaçu, onde o sujeito construiu uma casa de três, quatro andares e quatro pessoas perderam a vida, dentre essas quatro pessoas mãe e filho abraçados, porque foram esmagados pela laje e ao conversar com o proprietário ele me dizer que construiu aquilo pra tirar a irmã do aluguel, até hoje ainda me emociono. Então, não dá pra você separar o humano do profissional. Ele vai ser um bom profissional se for um bom ser humano. E a gente por mais que queira utilizar da razão, a gente é envolvido na emoção também. E talvez seja o grande combustível pra gente continuar seguindo adiante. A possibilidade de permanecer com a emoção como norteador do que a gente acredita pra vida das pessoas", indicou.

"Talvez se a gente racionalize demais, esfrie demais, a gente não vai ter a gama que a gente tem pra passar, muitas vezes noites, madrugadas acordados com as equipe pra fazer dar certo e está dando certo e a gente vai continuar junto com muita emoção, muita razão e fazendo o que dê certo", projetou.

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