A cidade de Salvador amanhece mais florida e perfumada todo dia 2 de fevereiro, data em que se celebra a mãe de todos os Orixás, Iemanjá. Os devotos da Rainha das Águas não medem esforços para demonstrar a fé e a devoção que carregam no peito, oferecendo espelhos, perfumes, adereços e flores para ela. Porém, há uma tradição antiga e peculiar que sempre causa espanto em quem não conhece essa simpatia: cortar os próprios pelos pubianos e jogar ao mar.
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Há alguns anos, em 2014, quando o termo ‘viralizar na internet’ ainda nem era utilizado, uma mulher foi flagrada cortando os pelos das partes íntimas na praia do Rio Vermelho para Iemanjá. A fotografia, tirada pelo fotojornalista Joá Souza e que está nos arquivos da Ag. A TARDE, deu o que falar nas redes sociais.
Até hoje, o clique ainda deixa a dúvida sobre qual o objetivo deste ‘presente’ diferente ou se a ação seria aceita de maneira positiva pela dona da festa.
O Portal MASSA! conversou com Everton Monteiro (Ojí Kaundê), que é Axôgun do Ilê Asé D’ajunsun e Filho do Babálorixá Jorlando de Oliveira Souza (Kiagussú), para entender o que há por trás das oferendas para Iemanjá.
Segundo Everton Monteiro, a tradição surgiu a partir da crença de que Iemanjá é mãe e tem um poder muito forte sobre a feminilidade, beleza e fertilidade. "É uma simpatia muito antiga", garantiu.
"Normalmente, muitas mulheres pediam a Iemanjá para poder ter filhos, para ter beleza. Muitas mulheres também faziam essa simpatia para ter o encanto feminino, para que Iemanjá colocasse a beleza dela sobre elas", contou ele.
Porém, o desejo mais pedido pelas devotas da Orixá era relacionado ao amor: "Essa tradição vem se quebrando, mas existia muito mesmo essa simpatia para que Iemanjá recebesse uma parte do seu pelo como forma de pagamento. Você poderia ir em um ano tentando conquistar o seu amado e depois [que conseguisse] retribuía”.
Outras oferendas para Iemanjá
Ao contrário da simpatia dos pentelhos, algumas tradições foram se firmando ao longo do tempo e poderão ser vistas no próximo domingo (2), data em que a celebração para a Rainha das Águas completa 103 anos e terá como tema “Renascer com as Águas de Iemanjá”.
“Todos os filhos se reservam nesse dia. A gente pega um balaio, onde a gente consegue fazer uma quantidade de volume de oferendas por cada casa. A gente faz os fundamentos, onde a gente bota a comida para aquela santa, né? É feita a comida mais preciosa dela. A gente arruma com flores e a presenteia com tudo aquilo que a mulher usa para se embelezar, então tudo isso representa Iemanjá: o espelho, perfume, joias, as contas, conchas do mar, muitas flores... é um trabalho muito perfumado", explicou o Ojí Kaundê.
A preocupação ambiental também passou a fazer parte do momento da profissão de fé e acabou trazendo algumas mudanças para os itens utilizados na celebração religiosa.
"Hoje a gente preserva muito o meio ambiente, porque o Candomblé é uma religião de conservação da natureza. Então, a gente hoje pede que quem for colocar perfume, que os fracos não vão no balaio para depois não poluir o mar, quem for colocar algum presente não use embalagem e a gente hoje já está usando muitos materiais que são biodegradáveis”, concluiu.