
As batidas do samba junino ecoaram pela comunidade do Garcia. A primeira escola de samba junino de Salvador começou suas atividades na manhã de hoje. A iniciativa é parte do Instituto Mucum’G, que tem o objetivo de fomentar a cultura do samba na capital baiana. Como sua primeira iniciativa, a escola ofereceu uma aula gratuita de levada rítmica de samba duro e percussão, que faz parte samba duro em movimento aprendendo e fomentando.

Criado em 1997, o Instituto Mucum’G originalmente era focado em participar e organizar os festejos da comunidade do Garcia. Com a criação da escola, o projeto também terá a oportunidade de levar essa cultura para as próximas gerações. “O que diferencia é que antes eu fomentava a cultura do samba junino só que de forma cultural, fazia a coisa do festejo. Mas, não basta isso. A gente precisa preservar a cultura como um meio educacional”, afirmou Nonato Sanskey, um dos criadores do instituto, em entrevista ao MASSA!.
O projeto pode ter começado agora, mas Nonato já enxerga os horizontes das possibilidades. Seu objetivo é que o projeto não fique apenas voltado para o ensino do samba, mas que também auxilie os moradores do bairro de todas as formas possíveis.
“Ainda esse mês vamos abrir as inscrições para as aulas de capoeira e no final do mês abre as inscrições para dança de salão para a terceira idade. A gente não vai ficar apenas na questão da música. Posteriormente, eu pretendo trazer também algumas ações sociais na área da saúde, dar um apoio a comunidade para tirar uma xerox, uma segunda via de documento”, acrescentou.
Uma coisa que chamava a atenção de todos que passavam em frente da sede do instituto era a presença de crianças. Nonato afirma que o projeto é uma forma de tirar os adolescentes das ruas e apresentá-los um novo caminho. “Se eu tive oportunidade, eu tenho obrigação de dar a oportunidade. Se a gente não começar pelas crianças, a gente não tem base”, afirmou.
A nova geração do samba junino

De crianças à jovens adultos, a sala de aula estava repleta de rostos que farão parte da nova geração do samba junino do Garcia. A maioria são moradores do próprio bairro e que descobriram a escola enquanto caminhavam pela frente. “Eu passava e via, aí chegou uma hora que eu decidi pesquisar sobre o que se tratava. Eu pesquisei, vi que iria começar as aulas e comecei a entrar em contato”, disse Janaina Cruz, 24, que estava participando da aula.
Se definindo como uma “entusiasta do samba”, Janaina não esconde sua paixão pelo gênero musical. Para ela, o projeto serviu como uma oportunidade de aprender mais sobre a cultura. “Se eu to vendo samba em algum lugar, tô querendo entrar no meio e participar. Gosto de estar frequentando os espaços da cultura preta, perpetuar a manutenção da cultura, acho muito importante participar”, pontuou.
E não é apenas quem já ama samba que vai ser beneficiado pelo instituto. A moradora do Garcia apontou a importância desse tipo de iniciativa para o lugar em que mora. “Esse tipo de projeto é uma oportunidade das pessoas viverem a cultura que elas vivem diariamente, mas de uma forma mais ativa. Também é uma oportunidade das crianças estarem aprendendo uma coisa nova, gastando energia”, pontuou
O número de crianças interessadas na aula não deixava dúvidas sobre o impacto do samba para quem vive ali. Apesar de jovens, os pequenos demonstram a atenção digna de alguém adulto. “O que me interessou mais foi a história do samba, como o samba surgiu, o axé”, disse Rodolfo Daniel, de apenas 12 anos.
O garoto garante que pretende continuar no meio da música. Para ele, toda a experiência estava sendo um show de diversão. “Eu gosto de tocar, interagir e aprender mais sobre as coisas”, afirmou.
Preparativos para a Mudança do Garcia

Quando se fala de samba em Salvador, é impossível não mencionar a Mudança do Garcia. O bloco é uma das mais tradicionais atrações carnavalescas voltadas para o gênero que existem na capital baiana. Um dos objetivos de Nonato é futuramente participar da Mudança com alunos da sua nova escola. “Eu penso em não só uma escola para formar músicos e agentes culturais, como também tenho um projeto de criar uma banda do instituto para representar a escola na Mudança do Garcia, que é nosso palco número um do bairro”
Por estar próximo do fim do ano, o professor de música acredita que não haverá tempo de se programar para o Carnaval de 2026. Entretanto, ele afirma que vai tentar fazer seus alunos terem ao menos um “gostinho” do que os espera. “Na mudança do ano que vem, eu não sei se tem tempo hábil para fazer muita coisa. Mas, eu acredito que já vai dar para inserir alguém da escola para sentir o gosto e o prazer que é fazer parte do Carnaval, fazer uma apresentação musical”, pontuou.
Outro plano que Nonato tem em mente é a reestruturação de uma das mais tradicionais escolas de samba de Salvador. Seu objetivo é investir na nova geração de amantes do samba. “Eu sempre tive a ideia do resgate da Escola de Samba Juventude do Garcia, que foi uma das escolas mais faladas nos anos 1950, além de ser uma das primeiras de Salvador. Já fiz um convite para um dos membros da Juventude que ainda é vivo”