“Professora, quero ouvir a música 'Papel Machê'", foi o primeiro pedido. "Pró, coloca aquela do 180!", sugeriu outro, referindo-se à canção 'Maria da Vila Matilde', de Elza Soares. Quem diria, ao ouvir apenas esse fragmento do diálogo, que se trata de uma conversa em sala de aula com crianças entre 10 e 12 anos?
Parece improvável, mas é esse o tipo de assunto que rola na sala da professora Andrea Rodrigues, na Escola Municipal Anjos de Rua, em Piatã. Após o recreio, o momento, que era para ser de maior agitação, se transformou em aprendizado, educação multidisciplinar e cultura.
Isso tudo acontece graças ao que Andrea chama de "Intervalo para a Música", uma iniciativa simples, que só precisa de um pouco de tempo e de uma caixinha de som. Foi assim que ela conseguiu despertar nos alunos o interesse pela Música Popular Brasileira (MPB) de forma natural e envolvente.
“Tudo começou com meu desejo de que meus alunos tivessem acesso à cultura, algo ainda muito limitado. Eu frequento teatro, cinema, shows e queria que eles também pudessem viver essas experiências. Como não é possível levá-los, busquei algo mais acessível para trazer à sala de aula e encontrei isso na música”, contou a professora.
O momento, que começou de forma despretensiosa, tornou-se um ritual aguardado pelos alunos, que já têm suas músicas favoritas; eles demonstram um repertório que passa por Gonzaguinha, Elis Regina, Guilherme Arantes e o preferido: Jorge Vercillo.
A professora, cheia de orgulho, não esconde a felicidade de plantar essa sementinha na vida dos pequenos. “Uma aluna, na semana passada, ouviu Elis Regina e comentou que ela lembrava algo de Caetano Veloso. Imagine! É algo simples, mas que cria referências importantes”, destacou a professora, feliz com a atmosfera que está criando em sala de aula.
Andrea destacou que vê reflexos dessa atividade no comportamento dos alunos. "De modo geral, percebo que eles têm agora um maior interesse pela música e pela cultura. Além disso, é um momento que traz tranquilidade; eles se acalmam, a agitação após o recreio diminui, e sinto que conseguimos dar continuidade à aula", disse.
Inspirador
O caminho de quem escolhe a arte de educar, especialmente na educação pública, é cheio de desafios, mas também de recompensas. As dificuldades nós já conhecemos, e é por isso que, em meio a tantos problemas, em alguns momentos é preciso falar só das coisas boas e positivas.
"Eu queria muito mais, mas me sinto muito feliz e realizada de ver que, de forma mínima, estou oferecendo algo a eles, permitindo que conheçam outras coisas", disse Andrea. "Minha maior realização é vê-los aprender, vê-los colocando em prática aquilo que ensinamos e, principalmente, vê-los crescer como alunos e como cidadãos. Acredito que isso se repete com todos os professores", completou a educadora.
No Dia do Professor, o trabalho de Andrea é um lembrete poderoso de como a educação pode ser transformadora, e, às vezes, precisa apenas de uma boa trilha sonora.