Ocupando mais de 71% da superfície do planeta, os oceanos detêm o maior ecossistema da Terra. Por esse motivo, é necessário um olhar mais atento para a preservação das águas marítimas e incentivo nas políticas públicas relacionadas aos mares, como afirma William Freitas, presidente do Redemar Brasil e idealizador do primeiro aplicativo sobre lixo no mar da América Latina Pada do Lixo Marinho (MLM).
Inspirado no amor do filho pelo mar, William criou, junto com a esposa Taíse, a Redemar Brasil para promover a limpeza das praias e deixar um ecossistema mais seguro para o primogênito. Hoje, o instituto trabalha para aumentar a conscientização sobre a poluição marinha e promover ações para prevenir e reduzir a poluição.
Em entrevista ao Portal A TARDE, William conta que as preocupações atuais que assolam a organização envolvem os resíduos nos oceanos, as mudanças climáticas, a conservação da biodiversidade marinha e o desenvolvimento sustentável.
Esse conjunto de problemáticas geram alterações significativas nos mares, que influenciam no equilíbrio ecológico e na sobrevivência humana. Mesmo com as preocupações, ainda não há uma atenção necessária para o ecossistema marinho.
“Até hoje não temos grandes iniciativas e nem políticas públicas eficazes e eficientes. Assim como também não se tem países comprometidos diretamente com a preservação oceânica. Temos dados e alertas, mas um tratado transfronteiriço que possa de verdade abordar e comprometer com metas e compromissos claros, estamos ainda engatinhando", diz.
De acordo com William, o combate da poluição plástica nos mares é uma questão que pode ser engajada futuramente nas empresas e nos governos. No entanto, o alto consumo do material ainda gera um bom valor na cadeia de reciclagem e, por isso, o consumo é contínuo.
“Estamos convictos que gerar um maior valor de reciclagem é uma boa saída, por outro lado, também podemos discutir incentivos fiscais para as empresas de embalagem se readaptarem, desde o redesign até a linha de produção linear. Os ganhos são tantos na emissão, como na economia dos recursos naturais que, além de serem limitados, hoje já são realidade de escassez. A exemplo da água, que será em muito breve o commodity mais caro do mundo. É importante manter a indústria do plástico, mas o que falamos é o plástico de uso único”, explica.
Para William, a orientação atual a seguir seria a diminuição da produção de grande escala do plástico virgem, podendo escalonar com o reaproveitamento, até que chegasse ao ponto de equilíbrio.
“Temos que falar também da pesca industrial, suas redes e resíduos, que também poluem os oceanos. É bem complexo, não há solução nem fácil e nem definitiva, teremos que ir com um acordo vivo, criando metas e, de tempos em tempos, revisitando acordo e readaptando para o modelo de consumo que vai mudar muito daqui para frente”, completa.
O aquecimento dos oceanos, a acidificação dos mares, a poluição marinha, a alteração de correntes oceânicas são os principais fatores que afetam a vida animal marinha, como explica William. O presidente da Redemar destaca também, que para as baleias jubarte, por exemplo, algumas alterações na migração delas para áreas de reprodução podem estar relacionadas às mudanças ambientais.
“As baleias jubarte geralmente migram para áreas de reprodução mais quentes durante o inverno, onde podem acasalar e dar à luz seus filhotes, antes de migrarem para áreas de alimentação mais frias durante o verão. Com as mudanças climáticas e o aquecimento das águas oceânicas, as áreas de reprodução das baleias podem estar se deslocando para locais com temperaturas mais amenas”, explica.
O profissional destaca que, com essa mudança, as baleias podem alterar seus padrões de migração para se adaptarem e encontrarem áreas mais adequadas para acasalamento e reprodução.
“A sobrepesca e a poluição também podem afetar negativamente as populações de presas das baleias jubarte, como o krill, o que pode afetar sua capacidade de se reproduzir e, portanto, também influenciar seus padrões de migração”, completa.
As perspectivas de William para o futuro, caso essas mudanças não sejam efetivas, resultam em apenas duas opções: cooperar ou perecer.
“Guterres, secretário geral da ONU, diz que estamos criando o Manual do sofrimento Humano para as futuras gerações, diante disso queria finalizar com uma reflexão ‘Além dos tremores de terra em nosso estado, das enchentes causadas pelos eventos extremos climáticos o que mais precisamos ver para crer?’, questiona.
Cuidados com os individuos
Cada pessoa pode fazer sua parte para cuidar dos mares e do futuro do meio ambiente. William cita alguns dos cuidados que dão resultados positivos.
Reduzir o uso de plásticos descartáveis: o plástico é um dos maiores poluentes dos oceanos. Pode-se começar a usar sacolas reutilizáveis, garrafas de água recarregáveis, canudos de metal ou bambu, entre outros produtos.
Descartar o lixo corretamente: o lixo que não é descartado corretamente pode acabar nos oceanos. É importante separar os resíduos e descartá-los nos lugares apropriados, como lixeiras e contêineres de reciclagem.
Consumir frutos do mar sustentáveis: A pesca excessiva e de espécies ameaçadas de extinção podem afetar a biodiversidade marinha. É importante consumir frutos do mar de forma responsável, dando preferência a produtos de pesca sustentável e evitando aqueles que vêm de pesca ilegal ou de áreas de pesca proibidas.
Apoiar organizações e iniciativas de conservação marinha: Diversas organizações e iniciativas que trabalham pela conservação dos mares podem ser apoiadas financeiramente ou com participação em campanhas ou divulgação das ações.
Conscientizar sobre a importância dos oceanos: É importante saber a importância dos oceanos para o equilíbrio ecológico do planeta e para a sobrevivência humana, divulgando informações sobre a biodiversidade marinha, a pesca, entre outros.
Projetos da Redemar
Hoje, o instituto tem diversos projetos em prol do ecossistema marinho, como o Projeto Baleias Soteropolitanas (PBS), que está participando do programa internacional Whale Heritage Sites, para capacitar as comunidades costeiras a respeitar e cuidar das baleias e do ambiente marinho, criando uma rede de destinos turísticos sustentáveis onde as pessoas convivem em harmonia com a vida selvagem.
Também existe o programa de monitoramento de praias OMNEP (O Mar não está para Plástico), que recentemente teve uma publicação científica na Revista Brasileira de Meio Ambiente sobre as questões da poluição das praias de Salvador.
A Redemar participa do Projeto Mantas do Brasil “REDEMANTAS”, com a oportunidade de extensão da conscientização sobre as espécies chamadas popularmente de raias gigantes, aqui para nosso estado da Bahia e para a região nordeste.
Além disso, o instituto pratica a Advocacy Ambiental, junto às casas parlamentares do Congresso Nacional, onde orientou a criação da frente brasileira em defesa da costa brasileira e atua na orientação técnica científica para políticas públicas oceânicas/costeiras com enfoque na proteção e inclusão dos povos do mar.