Um grupo de pessoas em situação de rua se instalaram em frente à 12ª Delegacia Territorial (Itapuã), desde o ano passado, durante o ápice da pandemia. O grupo se alojou em barracas e cabanas compondo um cenário de abandono, além do uso e tráfico de drogas.
Atuando na área há 5 anos, a comerciante Maria Lisandra percebeu o aumento da população em situação de rua depois da requalificação do trecho em questão da orla de Itapuã, que retirou restaurantes e barraqueiros. “Quando aqui ficava o banheiro químico, tinha bastante morador de rua. Com a reforma, piorou, apareceu mais. Às vezes reviram o lixo, procurando comida”.
Uma das ocupantes da praça, que preferiu não se identificar, conta que a maior parte do grupo instalado no local reside em uma das Unidades de Acolhimento Institucional da Secretaria de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre), onde se oferece moradia, atendimento psicossocial, entre outras iniciativas para essa população. “A maioria é do albergue. Saem pra vir pra rua, reciclar, catar latinha e não ficar só no albergue, dependendo só de lá”, diz.
Escolha
A baiana de acarajé, que foi parar nas ruas ao perder o emprego durante a pandemia, explica que os atendidos pela unidade recebem auxílio aluguel para ganhar autonomia e sair das ruas, mas boa parte ainda escolhe ficar. “Muitos estão na rua porque querem, não aceitam a doutrina da família de ter horário de chegada e ficam por aí”.
A situação tem gerado incômodo especialmente em quem mora na região, como o vendedor Arivaldo Gomes. “É droga demais, desde a pandemia que é direto assim”, relata.
A intervenção da Prefeitura é vista pelos trabalhadores locais. “O pessoal dos abrigos traz comida todo dia, de manhã, meio-dia e de noite. Eles estão sempre passando aqui pra tirar o pessoal da rua. Eles vêm com a topic e perguntam”, descreve Ivanildes, outra vendedora local.
O Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP) do bairro foi arrombado e invadido por um dos moradores na tarde de ontem a polícia foi acionada.
Estimativa
Em relação ao número de pessoas em situação de rua, hoje, na capital baiana, a Sempre informou que foi assinada, no dia 26 de agosto, uma ordem de serviço para Pesquisa de mapeamento, contagem e caracterização da população em situação de rua de Salvador, em parceria com o Projeto Axé. Em 2017, o Projeto Axé, junto à Ufba e o Movimento Nacional da População de Rua estimou que entre 14.513 e 17.357 pessoas viviam em situação de rua em Salvador.
A secretaria ainda comunicou que as equipes do Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas) percorrem diariamente as ruas de Salvador, inclusive no bairro de Itapuã. A ação busca sensibilizar as pessoas em situação de rua a deixar a condição de vulnerabilidade e risco social, por meio do acesso aos serviços municipais oferecidos pela pasta.
Para aqueles que não aceitam o acolhimento, é possível buscar os atendimentos em um dos Centros POP, equipamentos socioassistenciais para atendimento especializado à população em situação de rua.
As unidades funcionam das 8h às 17h, de segunda a sexta-feira, onde os assistidos acessam alimentação, espaço para banho e lavagem de roupas, além do atendimento com advogados, assistentes sociais e psicólogos. Com uma média de 220 atendimentos por dia.
*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira