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Investigação - 02/03/2023, 07:00 - Nicolas Melo

PC e MPT vão investigar morte após silo de cimento desabar

Ele foi atingido por um silo de cimento que desabou após a estrutura de sustentação colapsar, na tarde de terça-feira (28), por volta das 17h

Edvan
Edvan |  Foto: Reprodução I Redes Sociais

O dia de inauguração da nova usina de concreto da empresa Massa Fort, no Largo do Retiro, em Salvador, acabou marcado com a morte do funcionário Edvan Rangel Ribeiro, 33 anos. Ele foi atingido por um silo de cimento que desabou após a estrutura de sustentação colapsar, na tarde de terça-feira (28), por volta das 17h.

Edvan, que era motorista de Caminhão betoneira, estava carregando o veículo para mais uma entrega, quando o suporte do silo desmoronou. Ao lado dele, havia uma carreta que era descarregada. Num passe de segundos, o silo caiu por cima da cabine do caminhão de Edvan, que não teve chance de correr. Outros dois colegas próximos conseguiram escapar, mas ficaram feridos.

Por conta do impacto, a cabine do caminhão pegou fogo, mas segundo informações de amigos e familiares as chamas não atingiram o corpo de Edvan que ficou sob os escombros de metal e cimento. A vítima tinha pouco tempo de casado e planejava a mudança para o apartamento novo recém adquirido. Ele integrava o grupo da Massa Fort há cerca de três anos e meio. Ele foi sepultado no final da tarde de ontem no cemitério de Candeias.

"Ele tentou correr mas conseguiu e ficou preso debaixo do silo. Crescemos juntos. Um bom rapaz. Tinha um ano de casado e estava começando a vida. Ele morava em Plataforma, mas estava se organizando para mudar para o apartamento lá nas Granjas Rurais da Tenda", lamentou o primo Claudemir Silva Ribeiro, 39.

O Ministério Público do Trabalho (MPT), na Bahia, instaurou ontem um inquérito civil para apurar as responsabilidades trabalhistas sobre o acidente. A Polícia Civil expediu as guias de perícia para a morte acidental de Edvan e que o Departamento de Polícia Técnica (DPT) já esteve no local. O caso foi registrado na 11ª Delegacia Territorial (DT/Tancredo Neves).

Após a morte de Edvan, trabalhadores resolveram falar com a imprensa sobre as condições de trabalho na empreiteira. Um dos colaboradores falou com a reportagem do Massa! sob anonimato, com medo de retaliações da empresa que tinha a sede em Salvador em uma rua antes (perto do condomínio da Tenda nas proximidades da estação Acesso Norte), mas por conta de condições contratuais, mudou para perto do Largo do Retiro.

"Infelizmente essa tragédia aconteceu no primeiro dia da nova usina. Não sou perito, nem engenheiro, mas eu sei que houve algum erro de cálculo para aquela estrutura desabar e eu acredito que todo acidente tem uma proporção de ser evitado", disse a fonte, acrescentando que foi imprudência da empresa em não checar a colocação dos equipamentos.

Edvan
Edvan | Foto: Reprodução I Redes Sociais

A morte de Edvan acabou sendo um estopim para que situações de irregularidades, principalmente na tangente trabalhista, antes ocultas, viessem à luz. De acordo com o trabalhador, a empresa tem práticas abusivas e exploratórias, além de intimidar. Por medo do desemprego, eles se submetem aos maus-tratos.

"Essa é uma empresa que não tem nenhum respeito pelo profissional. Edvan era um excelente profissional, muito mais do que ela merecia. Só para se ter uma ideia, após o acidente, teve um colega que ainda foi obrigado a sair para fazer a entrega de material em uma obra. Hoje (ontem), a base da empresa em Simões Filho operou normalmente, mesmo após a morte de um funcionário. Os colegas não foram liberados para seputamento", disse.

"Somos tratados como um nada. Não temos hora de almoço e nem de descanso. Aqui, temos hora para entrar, mas não temos hora para sair. Enquanto tiver material, somos obrigados a estar na rua e se a gente falar que não, muitas das vezes somos ameaçados a tomar justa causa", completou. De acordo com ele, o horário exigido para abertura do ponto é 6h30, mas há relatos de fechamento do expediente às 1h.

"Tem vezes que a gente sai 22h, 23h e até 1h. Depois, eles querem que a gente esteja lá, às 6h30 do mesmo dia", completou. Talvez, o ápice das irregularidades tenha sido a morte de Edvan, mas de acordo com a denúncia, a empresa tem uma prática antiga de desvio de funções, principalmente sem o mínimo de treinamento.

"Aqui motorista é: operador de bomba, mecânico de caminhão, operador de produtos químicos, limpador de betoneira. E aí daquele que disse que não vai fazer!", lamentou a fonte, falando ainda sobre a falta de pagamento de horas extras, assim como adicional noturno, insalubridade, por exemplo."Eles nunca pagaram nada correto. Nem produção nem hora extra. Nunca pagou correto".

Para quem pensa que a situação é coisa atual, um ex-funcionário da Massa Fort relatou a mesma situação. "Sai de lá há dois anos, mas nada mudou. "A estrutura da empresa não era suficiente. Eles tratam os funcionários muito mal. Faziam a gente de escravos. Eu cansei de entrar 6h e só sair 22h ou mais e queriam que eu estivesse lá cedo no outro dia. Impossível! Aí, quando acontecia isso, eles ameaçavam demissão por justa causa", falou o trabalhador.

O procurador do MPT e coordenador regional de saúde e segurança do trabalho, Ilan Fonseca, lamentou a morte de Edvan e disse que já tem acesso às primeiras informações sobre a segurança do local. "As primeiras informações dão conta de que não houve uma manutenção preventiva nos equipamentos e tudo isso com a falta de treinamento dos empregados em segurança e saúde no trabalho", disse. "Em casos assim, a empresa costuma não contar com um técnico de segurança no local, nem com uma equipe preparada para os primeiros socorros", completou.

Ilan chamou atenção para que outros 'Edvans' não venham a ser vítimas fatais por conta de irregularidades das empresas e que, para isso, é preciso realizar a denúncia que é aceita de forma anônima do site do MPT no endereço (https://www.prt5.mpt.mp.br/).

"Em casos como esses, o papel do MPT é investigar o acidente, junto com outros órgãos como os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). Se constatada a culpa da empresa, a nossa atuação vai ser no sentido de responsabilizar essa empresa através de multa. A investigação já foi aberta e compete a todo o cidadão denunciar casos como esses. Essa denúncia pode ser feita no site do MPT de forma sigilosa", pontuou.

A reportagem tentou contato com a empresa, assim como o Sindicato dos Condutores em Transportes Rodoviários de Cargas Próprias do Estado da Bahia (Sintracap), mas não houve sucesso.

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