
Com os pés descalços sobre a grama, diversas mulheres indígenas se reuniram, na tarde desta quinta-feira (13), para uma roda de conversa em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março. O encontro teve como tema "A Mulher Indígena Aldeando no Poder" e trouxe reflexões sobre a busca por espaços e igualdade na sociedade.
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Representantes de diversas comunidades indígenas da Bahia compartilharam suas experiências e desafios. O evento foi marcado por rituais e canções tradicionais, reforçando a cultura e a identidade indígena.
A superintendente de Política para os Povos Indígenas do Governo da Bahia, Patrícia Pataxó, ressaltou a importância da resistência e da luta das mulheres indígenas por direitos. "Abaixar a cabeça para o sistema não é uma opção", enfatizou, relembrando indígenas que perderam a vida na luta pela demarcação de terras.

A Alessia Tuxá, primeira defensora pública indígena da Bahia, compartilhou sua trajetória acadêmica e profissional. Formada em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), ela destacou a importância da educação como ferramenta de ascensão social.
"Desde cedo eu sabia que queria fazer Direito. Vim da escola pública, estudei muito e conquistei meu espaço. Mas essa não é uma trajetória individual, é fruto da luta do meu povo", afirmou. Alessia relatou ainda os desafios enfrentados dentro do sistema de justiça, que historicamente não foi estruturado para incluir indígenas em posições de poder.
"Ser indígena nesses espaços institucionais significa enfrentar diariamente o despreparo do sistema para lidar com as nossas demandas. Mas estar aqui é uma forma de resistência e transformação", destacou.

Merk Pataxó, professora indígena de 46 anos, ressaltou a importância de fortalecer a identidade indígena, mesmo quando mulheres indígenas ocupam espaços fora das aldeias.
"Antes de ser advogado, professor ou dentista, somos indígenas. Precisamos fortalecer isso dentro das nossas comunidades", afirmou. Ela também destacou a necessidade de diálogo com mulheres não indígenas, reforçando que a luta por direitos e igualdade deve ser coletiva.
"Quando mulheres não indígenas participam desses encontros, elas passam a entender que nossas lutas se conectam. A causa indígena não é só nossa, é uma questão de todas as mulheres", completou.

O evento foi encerrado com uma homenagem a Vitor Braz, indígena pataxó de 53 anos, assassinado durante um ataque à Terra Indígena Barra Velha do Monte Pascoal, no município de Prado (BA). Em memória de sua luta pela demarcação de terras, uma cerimônia foi realizada em torno de um cajueiro, que agora simboliza sua alma e jamais poderá ser cortado.
O Conselho de Caciques Pataxó manifestou indignação diante da violência. "Vitor Braz foi cruelmente assassinado por pistoleiros em um ataque orquestrado por fazendeiros", declarou a entidade. Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, outro indígena foi baleado e passou por cirurgia.
O caso segue sob investigação, enquanto a comunidade indígena reafirma sua resistência e luta pela garantia de seus direitos.