
Carinhosamente chamado de “coroa”, o turbante é mais do que um adereço estético: é símbolo de ancestralidade, resistência e identidade. Pensando nesse significado, o projeto Afroestima, da Prefeitura de Salvador, promoveu a oficina “Artes e Ofícios: Amarração de Turbantes”, que teve encerramento na manhã desta quinta-feira (4), na sede da Associação Nacional das Baianas de Acarajé e Mingau (Abam), na Praça da Cruz Caída, no Pelourinho.
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Durante quatro dias, cerca de 30 mulheres, baianas de acarajé e de receptivo turístico, participaram gratuitamente da capacitação, realizada pelo Instituto Iris, em parceria com o Conselho Britânico e a Prefeitura. O curso uniu prática, história e troca de experiências, culminando em desfiles e depoimentos das participantes.
A professora Laís dos Santos, administradora de formação e facilitadora cultural, conduziu a oficina. Para ela, o turbante é uma coroa que simboliza força e pertencimento: “Usar o turbante é afirmar quem eu sou, honrar minha ancestralidade e impor respeito. Ele protege nossa cabeça, nosso ponto de equilíbrio, e comunica ao mundo a nossa identidade”, destacou.

A oficina foi além das técnicas de amarração. As participantes aprenderam sobre tecidos, cores e contextos de uso, além de compartilhar vivências pessoais. Segundo Laís, o aprendizado é uma via de mão dupla: “Eu ensino, mas também aprendo com elas. Cada amarração é única, traz a energia e a intenção de quem a faz”.
A cabeleireira e baiana de acarajé Tayana Silva Conceição, de 49 anos, contou que a experiência mudou sua vida: “Hoje eu tenho minha coroa produzida por mim mesma. Levo desse curso não só o conhecimento das amarrações, mas também amizades e abraços. Foi incrivel”.
Já a autônoma Márcia Regina Gomes Mireles, de 38 anos, que já trabalha com a produção e venda de turbantes desde 2018, reforçou a importância da oficina como espaço de crescimento: “Não é só sobre aprender amarrações. É convivência, troca de experiências e calor humano. Para mim, foi uma vivência ímpar”.

Símbolo vivo da cultura afro-brasileira, as baianas de acarajé são guardiãs de tradições reconhecidas como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Para elas, o turbante não é apenas ornamento, mas elo com a espiritualidade, a história e o empreendedorismo.
A coordenadora da Abam, Andréa de Santos Silva, celebrou a iniciativa: “Esse projeto é importante porque nos une. No dia a dia, no tabuleiro, prevalece a correria e até a concorrência. Aqui, tivemos quatro dias de acolhimento, aprendizado e construção coletiva”.
Com o sucesso da primeira turma, uma segunda edição já está confirmada para os dias 8 a 11 de setembro, com todas as vagas esgotadas.
*Sob supervisão do editor Jefferson Domingos
