por Cássio Moreira
Quem vive no Tororó, tradicional bairro de Salvador, tem aprendido a conviver entre os entulhos da demolição de imóveis e o descaso da Prefeitura. Desde 2017, a gestão municipal, ainda sob a administração do ex-prefeito e hoje candidato ao governo da Bahia, ACM Neto (União Brasil), tem ameaçado a permanência das famílias no local, uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), para construir um shopping em parceria com a concessionária Nova Lapa, que administra a estação de transbordo de mesmo nome.
Quem denuncia a atuação da Prefeitura é a vereadora de Salvador, Maria Marighella (PT), da bancada de oposição. Ao Portal Massa!, Marighella afirmou que os ataques do Executivo soteropolitano vão desde as demolições de residências, em plena pandemia da Covid-19, aos transtornos causados pelos escombros deixados na região, além das casas ainda habitadas que tiveram suas estruturas afetadas pela derrubada dos outros imóveis. Maria também explica que entrou com uma solicitação, no ano de 2021, junto à Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) e à Prefeitura, nas figuras do secretário Fabrizzio Muller e do prefeito Bruno Reis, para a retirada do cascalho, em razão dos problemas ocasionados pelo acúmulo do material, utilizado para a construção de ‘docas’, como a transmissão de arboviroses e leptospiroses (apenas alguns exemplos das inúmeras doenças), uma vez que os bueiros foram tapados e o ambiente colabora na proliferação de mosquitos e outros insetos. No pedido, ainda foram anexadas fotos dos estragos causados pelas chuvas, feitas pelos moradores da Rua Monsenhor Rubens Mesquita. A demanda, entretanto, não foi atendida.
“A questão do Tororó é um conflito muito central por ser uma Concessão Público-Privada, para gestão de uma estação de transbordo, que deveria ter como princípio melhorar à condição de vida de uma população, sobretudo aquela diretamente impactada e que no meio do processo de concessão, aparece um projeto de shopping, num território que já tem outros dois shoppings. Um estacionamento de um shopping como justificativa para remoção forçada de famílias numa área de ZEIS, onde se deveria promover a moradia digna e segurança na posse”, explica Maria, que também pontua o impacto ‘moral’ e ‘mental’ sob a vida dos moradores que ainda resistem em deixar a comunidade. A vereadora também diz que a Prefeitura pode responder a um procedimento investigatório por não realizar a remoção dos entulhos.
Obras e indenizações
Em outubro do último ano, período que coincide com o início das demolições, o prefeito Bruno Reis comentou sobre o valor das indenizações ofertado para aqueles que moram na região. Segundo Bruno, a quantia era “justa”, e a desapropriação era necessária para a construção de um ‘elo’ entre a Estação da Lapa e um trecho do polêmico BRT. Além disso, Bruno admitiu na ocasião a possibilidade de um shopping na área.
"As demolições foram necessárias para a gente iniciar a segunda etapa do BRT, que vai da Estação da Lapa à Cidade Jardim e encontrar com a primeira que está praticamente pronta e a terceira que ficará pronta em fevereiro. Espero até o final de novembro iniciar a obra. Ali no Tororó será feito um pátio para integrar o BRT com a Estação da Lapa", disse na época.
Sem respostas
A reportagem tentou contato nos últimos dias com a Semob, citada na matéria, para solicitar informações sobre as demolições e as obras no local, como o valor gasto até aqui, o custo total, fonte dos recursos, previsão do término e diálogo com a população que ainda reside no local. A pasta afirmou que o tema é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop). Procurada, a Semop disse que retornaria as solicitações, o que não ocorreu até a publicação do texto. Na sexta (28), a equipe tentou novo contato, os órgãos municipais não funcionaram por causa do feriado do Servidor Público.
A reportagem esteve no Tororó para registrar os entulhos acumulados. A quantidade de material era menor do que nas fotos recebidas pelo Massa!, o que indica a presença de servidores da prefeitura na área após as inúmeras tentativas de contato.