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E agora, José? - 04/09/2023, 11:42 - Vinicius Rebouças - Atualizado em 04/09/2023, 12:02

Moradores buscam solução para desabamento: “Perdi tudo”

Proprietário diz ter saído cinco minutos antes do imóvel ir ao chão

Proprietário diz estar internado em hospital e não atende moradores
Proprietário diz estar internado em hospital e não atende moradores |  Foto: Shirley Stolze/ag. A TARDE

O sonho da independência que caracteriza a vida adulta se materializa em uma casa. A busca pelo cantinho para chamar de seu, alugado ou próprio, é inerente à maturidade. No extremo oposto a esse caminho, está o desabamento do prédio de três andares na localidade conhecida como Baixa do Tubo, em Salvador. Incidente que mergulhou os moradores em um pesadelo que se estende nesta segunda-feira, 4, e cuja previsão do fim ainda não há.

Conhecida como Mara, Lucimara Soares, de 27 anos, morava no topo do prédio junto com a companheira. Contou ao Portal Massa! que o imóvel de um quarto havia sido alugado “puro” por R$ 350 mensais. Na labuta como manicure em um salão de Cosme de Farias, havia conquistado a mobília completa. “Perdi tudo. Geladeira, fogão, sofá, microondas, armários, televisão. Eu nunca imaginei que um dia passaria por isso. Estou só com a roupa do corpo”, lamentou.

Entre o apê de Mara e uma estofaria, estava a casa do ajudante de depósito Kleber Santos Júnior, de 25 anos. No imóvel, também quarto e sala, ele morava sozinho. “Só não tinha microondas, preferi comprar uma máquina de lavar”, contou. O próximo passo seria a compra de um guarda-roupas. “Deus sabe de tudo, estando em vida, a gente vai lutar para reconquistar aquilo já havia conquistado.”

Na noite do desabamento, domingo, 3, ambos escaparam do pior um triz. “Momentos antes eu havia saído. Fui a um barzinho com amigos, no Cosme de Farias. Só recebi a notícia por mensagens no Whatsapp. Peguei um mototáxi e desci correndo para ver o que aconteceu”, narrou Marra.

Já o livramento de Júnior veio pelo ponto batido em uma igreja pentecostal que frequenta no Cosme de Farias. “Quando encerrou o culto, recebi ligações de amigos e parentes avisando que a casa caiu. Desci correndo para ver o que tinha acontecido de fato. E até o momento, nada pode ser recolhido.”

As histórias de Mara e Júnior convergem até na busca por abrigo. Ela passou a noite na casa de uma avó que mora no bairro, assim como ele buscou guarida com o avô, também morador da comunidade.

Imagem ilustrativa da imagem Moradores buscam solução para desabamento: “Perdi tudo”

Proprietário sumido

Agora com status de desabrigados e na dependência do acolhimento familiar, buscam soluções por caminhos que passam ao largo da do proprietário do imóvel. “Ainda nem entrei em contato com ele. Até porque quero conversar pessoalmente para saber o que vai ser resolvido. Até o momento ele não apareceu para dar assistência. Hoje à tarde vou à Codesal, como o técnico instruiu, para ver o que eles podem fazer por mim lá”, disse Júnior.

Aspas

Ele não atende ninguém. Aqui está cheio de olheiro dele, que olham tudo, mandam informação e ele não aparece

Lucimara Soares se queixa de proprietário do imóvel

O proprietário do imóvel, Antônio da Cruz, o Tonino, atendeu a reportagem do Portal Massa! de forma breve. Relatou que soube do ocorrido “cinco minutos após ter deixado o local”, no domingo à noite. Cardíaco, disse ainda que foi “submetido a um implante de ponte de safena há pouco tempo” e que a notícia o abalou a ponto de ser novamente hospitalizado. “Estou internado no Hapvida desde ontem. Ainda nem sei direito o que aconteceu. Ainda vou procurar a prefeitura para saber, mas só depois. Isso quase tirou minha vida”.

As causas do desabamento ainda são investigadas. A suspeita inicial recai sobre uma construção irregular erguida ao lado do prédio. No entanto, em nota, a Codesal informou que o imóvel que desabou foi construído irregularmente em cima de um córrego e sem o acompanhamento de técnico habilitado pelo CREA/CAU.

O órgão acionou a Coelba e solicitou à Sedur [Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo] uma retroescavadeira que será levada ao local, nesta segunda, para a retirada dos escombros e, assim garantir a segurança dos transeuntes da Rua Edson Saldanha.

A Seman [Secretaria de Manutenção] confirmou uma solicitação de retroescavadeira e explicou que a operação de remoção dos escombros será coordenada pela Defesa Civil. A Sedur ainda não respondeu à solicitação do Massa!.

A Neoenergia Coelba também se manifestou em relação à rede elétrica do local. De acordo com a distribuidora, não houve interrupção do fornecimento de energia na Baixa do Tubo por causa do desabamento do imóvel.

Codesal confirma que construção foi irregular em cima de córrego
Codesal confirma que construção foi irregular em cima de córrego | Foto: Olga Leira/ Ag. A Tarde

Vale ressaltar que por meio da Defesa Civil, a Prefeitura de Salvador disponibiliza o Auxílio Moradia, um benefício mensal no valor de R$300 destinado às famílias de baixa renda que tenham sofrido perdas do imóvel devido à calamidade pública.

A lei também prevê que obras iniciadas sem a devida licença, em áreas de domínio público ou privado que ofereçam iminente risco de desabamento, poderão ser demolidas pela Prefeitura. A Legislação prevê ainda que, para casos de desabamento, o proprietário é responsabilizado pelo ressarcimento das vítimas.

A estofaria que ficava no prédio havia sido instalada há pouco mais de um mês. O proprietário ainda não foi encontrado pela equipe do Portal Massa!, assim como o staff do Hospital Hapvida.

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