Localizado na periferia de Salvador e formando um complexo junto aos bairros de Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Chapada do Rio Vermelho, o Nordeste de Amaralina é muito mais do que as manchetes policiais costumam mostrar. Com uma população de 20.680 habitantes apenas no Nordeste, segundo o Censo do IBGE de 2022, o bairro é um verdadeiro celeiro de artistas, eventos culturais e manifestações populares que movimentam a cidade.
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Apesar dos desafios sociais e econômicos, o Nordeste de Amaralina tem uma identidade forte e um histórico de resistência que se reflete em suas tradições culturais. O bairro é predominantemente negro, com 8.719 moradores que se declaram pretos e 10.023 pardos. Essa diversidade racial é um reflexo da rica cultura afro-brasileira presente na região, manifestada na música e na capoeira, por exemplo.
Além das festas, o bairro se destaca pela presença de grandes artistas e expressões culturais. Muitos músicos, dançarinos e produtores culturais surgiram dali, contribuindo para o cenário artístico da Bahia e do Brasil. A efervescência criativa da comunidade é um reflexo da força e da resistência do seu povo - uma característica nata de toda a Bahia, na verdade.
Apesar da quantidade de artistas, atletas, dançarinos, modelos e profissionais renomados nas mais diversas áreas que conseguem se destacar, muitos outros ainda estão por lá em busca de uma oportunidade; e é a própria comunidade que se movimenta e se articula para fazer essas oportunidades aparecerem.
É o que faz Israel Almeida, influenciador digital nascido e criado no Nordeste de Amaralina, que usa o seu canal nas redes sociais para dar voz aos talentos do bairro. Ele criou a “TV Moradô”, que soma 58 mil seguidores no Instagram (@tvmorado). É nesse espaço que ele compartilha histórias de quem busca a tal da oportunidade.
Israel conta que usa o espaço na internet para dividir histórias, criar uma vitrine para quem não tem espaço. “Existe uma grande barreira de acesso porque criaram um preconceito com o Nordeste de Amaralina, e isso impede que as pessoas enxerguem o que está aqui dentro. Aqui tem projetos sociais de futebol, tem ações religiosas, tem união dos microempresários para distribuir comida, tem ações gratuitas nos dias festivos, tudo feito pela comunidade”, contou. “É um bairro rico, que não se resume a uma única coisa. As coisas aqui andam pela força do braço de quem vive no bairro, e podem andar mais no dia que olharem pra cá com outros olhos”, disse.
Pensando em potencializar todas riquezas e oferecer caminhos para a população, a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social da Bahia (Seades) está requalificando o Centro Social Urbano (CSU) do bairro, o que promete ser essencial para esse processo.
A titular da pasta, secretária Fabya Reis, pontuou, em entrevista ao Jornal MASSA!, que “esse é um bairro emblemático do ponto de vista da sua força cultural, da diversidade das pessoas que ali moram, e que contribui diretamente para o desenvolvimento de Salvador e da Bahia. Por isso o Governo do Estado tem ações integradas para buscar potencializar ainda mais essa região”, destacou.
Entre essas ações está a requalificação do Centro Social Urbano (CSU) do bairro, espaço que vai oferecer cursos de música e dança, atividades esportivas e qualificação profissional, além dos encontros do grupo de convivência de idosos, com atividades físicas e terapêuticas.. “A gente precisa cada vez mais desestigmatizar essa ideia de violência do bairro, quando na verdade é um bairro violentado historicamente”, disse a secretária. “Queremos promover o resgate da autoestima da comunidade, gerando oportunidades para que a gente alcance essa finalidade de inclusão e trazer a dignidade que o bairro e o povo do Nordeste de Amaralina merecem”, finalizou Fabya Reis.
Carnaval
O Circuito Mestre Bimba, no Nordeste de Amaralina, é uma das maiores manifestações populares do bairro durante o Carnaval. Criado em 2005, o circuito cresceu e hoje reúne mais de 70 blocos em um trajeto de quase dois quilômetros, atraindo mais de 20 mil foliões por dia.
O nome homenageia Mestre Bimba, ícone da capoeira regional que viveu grande parte de sua vida no bairro. Além de manter viva a memória desse grande mestre, o circuito fortalece a cultura local e oferece uma alternativa acessível para os moradores, que podem curtir a festa sem precisar se deslocar para os grandes circuitos do centro da cidade. Israel explica como é a dinâmica e a importância desse circuito para o bairro. “É uma demanda de um bairro desse tamanho, fazer com que as pessoas permaneçam por aqui nos dias de festa”, disse. “Não tem briga, não tem agonia como se vê em outros lugares porque as pessoas se conhecem, já viram pelo bairro, não compram briga”, afirmou.
Projetos sociais
Como acontece na maioria dos bairros periféricos, quem consegue se destacar de alguma maneira sempre volta para dividir com a comunidade aquilo que conseguiu. Foi assim com o músico Marivaldo dos Santos, fundador do projeto Quabales, que nasceu em 2012. Hoje atendendo a mais de 400 alunos gratuitamente com aulas de música e percussão, o projeto era um desejo de Marivaldo, cria do Nordeste, de dar uma perspectiva de futuro para os jovens. “É sobre tirar esses meninos da rua, mostrar que as coisas são sim possíveis na favela. Começamos na rua, com uma roda de percussão, e hoje projetamos essas pessoas para o mundo da música”, disse. Mas não é só o Quabales que abre portas no Nordeste de Amaralina.
O Editorial Nordeste, um projeto comandado por Daniela Santos, prepara jovens do bairro para as passarelas. “Essa é uma maneira de dar visibilidade às nossas belezas. Quando se fala de Nordeste de Amaralina, logo se pensa em violência, nunca em beleza. Queremos mostrar os talentos da nossa comunidade, as meninas e meninos lindos que podem representar nossa cidade nos concursos de beleza”, disse Dani.
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