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Dupla violência - 19/06/2024, 09:09 - Da Redação - Atualizado em 19/06/2024, 09:45

Menina viaja para fazer aborto legal em Salvador após recusa em SP

Garota foi estuprada por um familiar e só descobriu que estava grávida com 29 semanas de gestação

Vítima precisou sair do estado em que morava para ter direito garantido
Vítima precisou sair do estado em que morava para ter direito garantido |  Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Uma menina de 14 anos, moradora da Região Metropolitana de São Paulo, foi brutalmente estuprada pelo marido da avó e acabou engravidando. De acordo com o relato da mãe da vítima, publicado em uma reportagem da Folha de S. Paulo, a adolescente era muito "meninona" e nem sabia o que estava acontecendo com o corpo dela, ao ponto de só conseguir identificar a gestação na 29ª semana, após sentir que tinha algo mexendo em sua barriga e comunicar o 'fenômeno' para a responsável.

Assim que descobriu o que havia acontecido, a mãe da garota se desesperou com o crime, mas correu para ajudar a filha. Ela prestou um boletim de ocorrência e denunciou o estuprador, depois procurou pelo Hospital da Mulher, na capital, para realizar o procedimento. Porém, por causa do estágio avançado da gravidez, a instituição se recusou a fazer o aborto, mesmo sendo garantido por lei atualmente sem restrições de semanas. Elas chegaram a ser encaminhadas para uma outra unidade hospitalar paulista e tudo parecia estar resolvido, mas a prefeitura suspendeu o procedimento no local poucos dias após elas agendarem o atendimento.

Sem muitas opções, elas decidiram tomar a atitude de vir à Salvador, na Bahia, com a esperança de ter a interrupção da gestação em segurança. Mãe e filha ganharam as passagens por doação e precisaram enfrentar dois dias e cinco horas na estrada, de ônibus, até a capital baiana. Elas receberam o valor de uma vaquinha feita pela família para se alimentar na estrada. Enquanto isso, o criminoso segue em convívio com a sociedade, pois está foragido da polícia.

"Minha filha sempre pergunta: 'e aí, mãe, não vai acontecer nada com ele? Por que ele não foi preso se ele cometeu um crime?'", disse a mulher, que não teve a identidade revelada, à Folha de S. Paulo.

O procedimento foi realizado

Depois de muita dificuldade, a menina de 14 anos conseguiu chegar à Salvador. Ela foi ao hospital, que não teve o nome divulgado, com 31 semanas, no início de dezembro de 2023. Depois de conversar com a assistente social e contar que "não aguentava mais" aquela situação, ela foi internada e o aborto legal aconteceu.

O processo foi difícil para mãe e filha, pois elas não queriam que aquilo tivesse acontecido, mas foi a melhor opção diante do caso e do próprio quadro de saúde da garota, que além de estar com o psicológico destruído também sofria com fortes dores nas costas e na barriga. "Aquilo cortou muito o meu coração", relembrou a mãe.

Aspas

Ela chegou a dizer: ‘tadinho do nenê, mãe, ele não tem culpa'. Eu disse: 'minha filha, o bebê não tem culpa, você não tem culpa, eu não tenho culpa, quem tem culpa é o criminoso'.

Toda a família ficou de coração partido com a triste história da adolescente e a acolheu da maneira que conseguiu, tentando não culpá-la pelo que havia acontecido. A avó dela, ex-esposa do criminoso, é cardíaca e chegou a desmaiar quando soube do crime. O abuso sexual aconteceu quando ela saiu para trabalhar e deixou a neta em casa, afinal, ela já estava há 15 anos com o homem, confiando muito nele, e não fazia ideia do que ele era capaz.

O estuprador confessou o crime para a avó da vítima por telefone, depois de fugir de casa levando todas as coisas dele. Ele até prometeu se entregar para a polícia, mas sumiu sem dar qualquer pista de onde se escondeu.

A mãe da menina critica a atuação policial no caso. Ela relatou que foi à delegacia várias vezes para saber o andamento do processo e se haviam sido realizadas buscas pelo estuprador, mas não teve respostas sobre isso. Segundo ela, funcionários disseram que a papelada estava no fórum da Penha e a juíza ainda iria marcar uma audiência para ouvir a vítima, porém, até hoje nada foi feito.

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