"Você sabe a diferença entre um negro no topo e um negro no poder?". Foi com essa pergunta que o vereador Silvio Humberto (PSB) começou sua fala, em entrevista ao Jornal Massa, nesta sexta-feira (8), quando Salvador celebrou 225 anos desde a execução de quatro jovens negros que marcaram a história da Bahia e do Brasil.
Em 1799, Luiz Gonzaga, João de Deus, Lucas Dantas e Manuel Faustino foram enforcados e esquartejados após lutarem por um ideal de liberdade, república e abolição da escravidão, em ações que ficaram conhecidas como Revolta dos Búzios ou Conjuração Baiana.
Para honrar esses mártires, a cidade realizou a "Segunda Caminhada de Retorno dos Mártires da Revolta dos Búzios", uma manifestação pacífica que uniu música, poesia, capoeira e discursos, reunindo pessoas de diversas origens para relembrar a importância desse capítulo da história.
A caminhada teve início às 15h e contou com a presença de ativistas, parlamentares e cidadãos. Antônio Olavo, cineasta e um dos organizadores do evento, destacou o simbolismo desse ato: “Hoje, esses homens voltam não para os porões da antiga cadeia pública, mas para o plenário da Câmara Municipal, onde serão homenageados como heróis nacionais”. Olavo também enfatizou que, embora o episódio tenha ocorrido há séculos, ele carrega lições e inspirações para o enfrentamento de desafios sociais e raciais atuais.
Após a caminhada, houve uma sessão especial na Câmara Municipal de Salvador, conduzida pelo vereador Silvio Humberto, mas com autoria da vereadora Marta Rodrigues (PT). A homenagem reforçou a importância do legado da Revolta dos Búzios, que ainda hoje é símbolo de resistência e luta pela justiça social. A sessão contou com falas de diversas lideranças que ressaltaram a relevância desse movimento para a história e a identidade da população negra.
A luta desses mártires ganha, na visão dos organizadores e participantes, uma relevância especial em um contexto onde o racismo ainda é uma realidade persistente no Brasil. Como apontou o vereador Silvio Humberto, “O 8 de novembro precisa ser um marco de conscientização. Lembrar dessas figuras é dizer que continuamos no propósito de construção de um ideal de vida digna e livre, uma luta que não terminou com suas execuções.” Ele destacou que a caminhada não é apenas um ato simbólico, mas um espaço para fortalecer a identidade e promover uma reflexão coletiva sobre as desigualdades estruturais ainda presentes.
Além de homenagear, a caminhada buscou conscientizar sobre o papel da história na construção de uma sociedade inclusiva. Com a participação de músicos de blocos afro como Ilê Aiyê, Cortejo Afro e Malê Debalê. Kleber Rosa, ex-candidato à prefeitura de Salvador, também esteve presente na caminhada e destacou a relevância da ação para conscientizar a juventude e fortalecer a identidade negra. Em suas palavras, “nosso povo não é só indivíduo; somos coletivos, um povo com uma história específica. Não dá pra compreender as condições de vida que vivemos hoje sem entender a história que nos foi imposta.” Ele acrescentou que a emancipação e a construção de uma vida digna para a população negra só serão possíveis por meio de organização e luta coletiva.
Para Kleber, eventos como a Caminhada dos Mártires reafirmam que: “Enquanto houver racismo e desigualdade, a luta precisa continuar, pois somente com justiça social o país poderá cumprir seus ideais de democracia e igualdade”. O PL que institui o 8 de novembro como Dia Municipal em Memória aos Mártires da Revolta dos Búzios, é de autoria da vereadora reeleita Marta Rodrigues.
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