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Sem atenção - 03/12/2025, 06:30 - Vitória Sacramento*

Maioria dos pais não sabe o que filhos fazem na internet

Pesquisa mostra que o desafio envolve desde barreiras técnicas até a falta de tempo

Criança utilizando internet
Criança utilizando internet |  Foto: Ilustrativa/Freepik

Mais da metade dos pais e responsáveis no Brasil tem dificuldade para acompanhar o que crianças e adolescentes fazem na internet. A constatação é do relatório “Redes de Proteção: Desafios e práticas na mediação digital de crianças e adolescentes”, lançado pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) e pelas Redes Cordiais. O estudo ouviu 327 responsáveis e realizou grupos focais em diferentes contextos urbanos, revelando que 60% dos participantes consideram difícil ou muito difícil acompanhar a vida digital dos filhos.

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A pesquisa mostra que o desafio envolve desde barreiras técnicas até a falta de tempo e de conhecimento sobre ferramentas de controle. Há também um forte recorte de desigualdade: famílias com maior renda e escolaridade têm mais familiaridade com recursos digitais, enquanto famílias de baixa renda enfrentam entraves práticos e menor acesso à informação.

Entre os responsáveis com renda de até um salário mínimo, mais da metade nunca utilizou aplicativos de controle parental, e apenas 7,7% faz uso regular desses recursos. Já entre famílias de maior escolaridade, o uso dessas ferramentas é mais frequente.

Mesmo com o crescimento de mecanismos de monitoramento dentro das próprias plataformas digitais, 43% dos pais nunca recorreram a ferramentas tecnológicas para acompanhar os filhos. A maioria ainda adota estratégias tradicionais, como limitar o tempo de uso das telas (71%), incentivar atividades offline (70%), conversar sobre segurança e comportamento online (64%) e manter os dispositivos em áreas comuns da casa. A supervisão direta continua sendo a forma mais usada, especialmente em famílias com menor familiaridade tecnológica.

O relatório chama atenção para o baixo conhecimento dos responsáveis acerca do caráter social dos jogos e plataformas digitais. Ambientes como Roblox, Free Fire e Discord funcionam como verdadeiras redes sociais, com chats, conversas privadas e interações constantes, algo desconhecido para muitos pais.

Esse desconhecimento aumenta os riscos, especialmente diante de problemas recorrentes relatados pelos responsáveis, como a exposição a conteúdos inadequados (86%), impactos na saúde mental e emocional (82%), riscos de cyberbullying (41%) e o uso excessivo das telas (66%).

Outra preocupação crescente é a facilidade com que crianças e adolescentes driblam controles e senhas. Segundo o levantamento, 60% dos pais afirmam que seus filhos já burlaram algum mecanismo de monitoramento.

Ana d’Angelo, diretora de comunicação estratégica das Redes Cordiais
Ana d’Angelo, diretora de comunicação estratégica das Redes Cordiais | Foto: Divulgação/Redes Cordiais

Em lares nos quais a guarda é dividida, as diferenças entre regras e o uso das telas geram conflito e dificultam uma mediação consistente. A falta de alinhamento entre responsáveis interfere na qualidade das orientações e pode fragilizar a relação de confiança com os adolescentes.

Para Ana d’Angelo, diretora de comunicação estratégica das Redes Cordiais, renda e escolaridade influenciam diretamente no acesso a ferramentas de controle parental e à educação digital.

“Famílias de baixa renda enfrentam barreiras técnicas e menos acesso à capacitação. Muitas dependem do celular como principal forma de entretenimento, o que dificulta o controle. Já famílias com maior escolaridade têm mais informação e infraestrutura”, explica.

Falta de tempo

A especialista aponta que a falta de familiaridade técnica e a falta de tempo são os principais motivos para a não utilização de mecanismos de mediação digital — mesmo quando são gratuitos.

O relatório destaca que a construção de um ambiente de confiança entre adultos, crianças e adolescentes é o caminho mais eficiente. Práticas como regras combinadas, conversas recorrentes, momentos sem tecnologia e incentivo a atividades offline são consideradas essenciais.

A diretora das Redes Cordiais, Clara Becker, reforça a importância desse trabalho contínuo. “O desafio é construir um espaço de diálogo e confiança para um uso equilibrado da internet, que não coloque crianças e adolescentes em risco. Os adultos precisam estar preparados para criar esse ambiente saudável.”

A proteção digital não é tarefa exclusiva das famílias. O relatório recomenda uma atuação integrada entre escolas, plataformas e poder público. As escolas devem promover espaços de diálogo, formações para responsáveis e ações de educação digital. O governo precisa ampliar políticas de formação e produção de materiais acessíveis, além de fortalecer a comunicação pública. Já as plataformas devem desenvolver ferramentas mais acessíveis, campanhas educativas e conteúdos adaptados à diversidade social do país.

Realizado em julho de 2025, o estudo integra o projeto Redes de Proteção, que também ofereceu um curso online em novembro sobre segurança digital. A iniciativa demonstrou a urgência de estratégias contínuas e coletivas para garantir que a internet seja um espaço seguro e saudável para crianças e adolescentes.

*Sob supervisão do editor Anderson Orrico

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