Um projeto cultural do Subúrbio Ferroviário de Salvador tem desenvolvido um trabalho de grande impacto para a comunidade: o letramento racial por meio da literatura.
Esse é o Ori Aiê, um espaço que fica no Alto do Cabrito e abriga mais de duzentas obras de escritores e escritoras negros; os livros estão à disposição para quem quiser ler.
A assistente social Fabrícia de Jesus é a fundadora e coordenadora do projeto. Ela explica que o Orí nasceu de um outro projeto cultural da região, o Sarau do Cabrito.
Eu senti a necessidade de discutir a questão racial e um dia tive a ideia de montar um espaço com essa identidade
Fabrícia de Jesus, fundadora do projeto
Fabrícia reuniu os 194 livros que tinha em casa com esse recorte e buscou uma maneira de permitir que quem morasse ali pudesse lê-los.
“Tive a ideia de fazer uma sala de leitura. Então, a partir desse espaço, os livros ficam disponíveis pra quem quiser sentar lá, ler na varanda, nas banquetas, esteiras, almofadas”, explica Fabrícia.
O espaço, que fica aberto para a comunidade de terça à sábado, tem oportunizado que as pessoas tenham acesso a uma leitura escurecida, como defende a fundadora.
Esse é o nosso primeiro diferencial. Temos uma cota branca, porque apenas 4% dos nossos livros são de autores brancos. Nosso acervo é de autores negros
Fabrícia de Jesus, fundadora do projeto
Mas como um bom projeto social, o Orí Aiê é muito mais que um espaço para a leitura. Além dos livros, o espaço também abriga atividades como saraus, rodas de conversa e exibições de filmes. “A gente recebe profissionais que estão sempre trazendo discussões que dialogam com a temática“, conta.
Essas atividades promovidas no Orí buscam também exaltar os profissionais da própria comunidade com foco na representatividade. Isso é, numa roda de conversa sobre saúde, o projeto vai buscar um médico que é cria do próprio Cabrito para mostrar como as possibilidades estão aí e podem ser alcançadas.
Com existência do Orí, Fabrícia acredita que tem formado jovens cada vez mais letrados sobre a própria raça.
A gente forma pessoas para se entender enquanto corpo preto dentro de uma sociedade racista e, a partir desse entendimento, conseguir ocupar seus espaços com menos agressões
Fabrícia de Jesus, fundadora do projeto
Casa nova
A grande novidade do Orí é que o projeto está de casa nova. O antigo espaço era alugado e agora será num local cedido, reduzindo as despesas. No entanto, vai ser preciso passar por uma pequena reforma para que as atividades aconteçam. “O espaço está precisando trocar as telhas, portas e janelas e colocar um forro, além de pintura. Isso é o básico para funcionar agora, talvez também seja preciso trocar algo de elétrica”, explica.
Outras mudanças podem ser feitas ao longo do tempo, como a troca de pisos, mas o necessário para funcionar é isso. A comunidade do Alto do Cabrito tem se organizado para fazer rifas em prol da causa e até organizando mutirão de pintura. Os interessados em doar podem fazer uma transferência de qualquer valor (chave PIX do tipo CPF 830.196.18568) ou materiais para reforma que podem ser entregues no Tintel Comercial Ceter, na Rua do Cabrito, nº 358.
“No básico estamos precisando de cimento, telhas, tinta e material de pintura, verniz etc”.