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Onde mora o perigo... - 11/08/2023, 11:37 - Vinicius Rebouças - Atualizado em 11/08/2023, 12:19

Jardim Santo Inácio é ‘campo minado’ para motorista por aplicativo

Antes de ônibus ser queimado condutores já evitavam bairro por causa de chacina

Jardim Santo Inácio teve o sexto ônibus queimado em Salvador neste ano
Jardim Santo Inácio teve o sexto ônibus queimado em Salvador neste ano |  Foto: Reprodução/ Redes Sociais

O incêndio de um ônibus na manhã desta sexta-feira (11) na Avenida Cardeal Dom Avelar Brandrão Vilela, em Jardim Santo Inácio, disparou um gatilho na memória dos motoristas por aplicativo. Foi neste bairro que há três anos houve a chacina de quatro profissionais da categoria, torturados e mortos em um barraco. A quinta vítima conseguiu fugir do ‘laço do passarinheiro’ armado por traficantes que atuavam na localidade.

Para Vick Passos, presidente da Cooperativa Mista dos Motoristas por Aplicativo (Coopmap), o bairro é “marcado” desde o episódio macabro ocorrido na sexta-feira 13 de dezembro de 2019. “Já tem tempo que toda região está assim. Jardim Santo Inácio já é marcado pela chacina. O motorista por aplicativo evita a região há anos, desde quando teve a chacina. Muitos motoristas deixaram rodar naquela localidade.”

Em conversa com a reportagem do Portal MASSA!, ele afirmou ainda que a categoria está “apavorada” com os episódios de violência que ocorrem em diversas comunidades de Salvador, inclusive nas próximas a Jardim Santo Inácio. “Aí vem Sussuarana, Avenida 29 de Março, enfim, tem uma região ali que para nós é minada porque é tomada pelo tráfico de drogas. Ficamos receosos porque todos queremos sair para ganhar o pão e voltar para casa em segurança. E não é o acontece atualmente”, lamentou.

Ônibus incendiado em Jardim Santo Inácio fazia linha Estação Pirajá-Itapuã
Ônibus incendiado em Jardim Santo Inácio fazia linha Estação Pirajá-Itapuã | Foto: Reprodução/ TV Bahia

Os episódios de violência contra coletivos afetam todo o sistema de mobilidade da cidade. Os motoristas por aplicativo, segundo Passos, ficam em estado de alerta e automaticamente evitam aceitar corridas nas áreas onde ocorreram os ataques. No dia a dia, com ou sem ônibus queimados, os bairros chamados periféricos estão fora da rotina desses profissionais. “O índice de aceitação para essas localidades é baixo. Os motoristas por aplicativo estão apavorados com essa criminalidade que assola a capital baiana nesse momento.”

A chacina em Jardim Santo Inácio foi motivada, segundo as investigações, por vingança. Na noite anterior ao crime, vários motoristas por aplicativo teriam recusado pedidos de viagem que saiam do bairro, o que teria impossibilitado o atendimento médico para a mãe do traficante Jeferson Palmeira Soares Santos, conhecido como "Jel", apontado como mandante da barbárie.

A morte da idosa despertou a bestialidade do filho a ponto do braço da Justiça não o alcançar. O punho de aço dos homens da lei pousou em definitivo no destino dele, assim como no dos outros envolvidos, Antônio Carlos Santos de Carvalho e Marcos Moura de Jesus. Todos caíram em confronto com a polícia.

A foice do ceifador só passou distante da travesti conhecida como Amanda Santos, condenada por júri popular, em março deste ano, a 63 anos e oito meses de reclusão. O Ministério Público provou a participação dela no crime ao acionar os cinco motoristas para a arapuca armada pelos traficantes em Jardim Santo Inácio.

Na versão da condenada, os motoristas foram chamados por meio das plataformas somente para roubar os veículos e os pertences da vítima. Ela disse não ter conhecimento do plano homicida e não ter participado das mortes. Não colou.

As vítimas do crime foram Alisson Silva Damasceno dos Santos, Daniel Santos da Silva, Genivaldo da Silva Félix e Sávio da Silva Dias. Eles foram torturados e cortados a golpes de facão antes do tiro fatal. Houve ainda um quinto motorista, Nivaldo dos Santos Vieira, que conseguiu fugir e sobreviveu.

Com esse episódio ainda vivo na mente, o presidente da Coopmap, Vick Passos, acredita que é chegado o momento de soluções mais assertivas das autoridades para que sejam evitados novos episódios de violência em Jardim Santo Inácio, assim como nos demais bairros de Salvador.

“Já entramos em contato com a assessoria do secretário de Segurança Pública, Marcelo Werner, para vermos a possibilidade de agendamento de uma reunião para que a gente coloque em pauta todos os pontos críticos da cidade e assim possamos tomar algumas ações pontuais dentro dessa perspectiva.”

Em 2023, seis ônibus foram queimados na capital baiana. Dois somente nesta semana. O prejuízo é estimado em cerca de R$ 750 mil às empresas de ônibus. Esses veículos, segundo o secretário Fabrizzio Muller, de Mobilidade, “não são repostos de forma imediata e ainda haverá um estudo para verificação se cabe o remanejamento para suprir a demanda das localidades afetadas”.

Sem a reposição dos ônibus, perdem os usuários, o bairro, o sistema de mobilidade, a cidade. Uma cadeia inteira prejudicada com um riscar de fósforo ou o estalo de ignição do isqueiro.

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