
Com uma trajetória reconhecida nacional e internacionalmente, o Instituto Cultural Bantu acaba de inaugurar um novo núcleo na Fazenda Grande do Retiro, em Salvador. A iniciativa representa não apenas uma expansão territorial, mas um retorno carregado de simbolismo e compromisso social: é neste bairro que o fundador, Mestre Roxinho, cresceu e enfrentou adversidades antes de se tornar referência na Capoeira Angola.
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“Voltar à Fazenda Grande do Retiro é como fechar um ciclo. Aqui enfrentei a fome, a exclusão e a descrença. Hoje retorno como Mestre, levando uma semente de transformação”, declarou emocionado o fundador.
Para viabilizar o início das atividades, o Instituto faz um apelo à sociedade civil e à iniciativa privada. São necessárias doações de cadeiras, móveis de escritório, computadores, além de apoio financeiro e voluntários em áreas diversas. Empresas interessadas podem contribuir via leis de incentivo fiscal, recebendo como contrapartida divulgação e atividades de desenvolvimento para seus colaboradores.

As doações podem ser feitas por meio do Instagram oficial @bantu.brasil ou pelo WhatsApp (71) 99225-4706.
O novo espaço será sede de mais de 70 oficinas gratuitas de Capoeira Angola, percussão e letramento, todas voltadas para o fortalecimento da autoestima, da consciência racial e dos laços comunitários. A proposta pedagógica é fundamentada em uma educação afrocentrada, que valoriza referências negras como Conceição Evaristo, Luiz Gama e Mãe Stella de Oxóssi.
Edielson Miranda, também fundador e CEO do Instituto, destacou a importância estratégica do núcleo. “A Fazenda Grande foi listada recentemente como uma das regiões mais violentas da cidade. A presença do Instituto é uma resposta a essa realidade, mostrando que este bairro é também berço de cultura, potência e transformação social”, afirmou.

Ele relembra sua própria trajetória, marcada por vulnerabilidade social e superação. “Em 1997, deixei o bairro sem conseguir pagar o aluguel de um quartinho. Hoje retorno com uma sede que pretende devolver dignidade e oportunidades à população preta marginalizada”, contou.
A expectativa é atender 80 crianças e adolescentes, três vezes por semana, com ações educativas e sociais que buscam promover a emancipação profissional e educacional dos jovens. Segundo a equipe pedagógica, a proposta é reduzir traumas, fortalecer o senso de pertencimento e contribuir para a construção de uma comunidade mais solidária e consciente.
A Fazenda Grande do Retiro, onde no passado Mestre Virgílio formou gerações com sua tradicional roda de Capoeira Angola, volta a se tornar um centro de cultura e resistência. “É um território de origem e potência”, define Mestre Roxinho. Agora, com o Instituto Cultural Bantu enraizado no bairro, essa potência tem ainda mais chance de crescer.
