Um grande investimento de uma construtora que quer instalar três espigões com 18 andares na Praia do Buracão, no Rio Vermelho, ameaça uma das praias 'fechadas' mais belas da capital baiana. Moradores, comerciantes e frequentadores temem que a chegada dos edifícios possam causar sérios impactos ambientais, turísticos e dificultar o trânsito e a vida de quem vive na região.
Com mais 20 anos de trabalho na região da praia de Buracão, o ambulante Fábio Barros acredita que as sombras que serão projetadas pelos prédios possam levar fim à praia do jeito que ela é hoje.
"Nós achamos um absurdo, né? Porque vai tapar, primeiramente, a visão do sol, além de trazer poluição e sujeira para a praia por causa da poeira e do resíduo que eles trabalham, né? Então, para mim como barraqueiro, acho um absurdo e que não deveria ser construído", afirmou.
Na busca para evitar que os "gigantes" façam parte de vez da nova paisagem da praia, destruindo a que existe e encanta moradores e turistas por seu caráter mais "recluso" e "selvagem", moradores criaram o grupo SOS Buracão e recorreram à Tribuna Popular da Câmara Municipal de Salvador (CMS) para tratar do tema na última semana.
Na ocasião, um documento técnico contendo um parecer sobre o impacto da execução do empreendimento na região foi entregue pelo grupo ao presidente Carlos Muniz (PSDB).
Representante da Associação dos Moradores da Rua do Barro Vermelho e coordenador do SOS Buracão, Luís Antonio de Souza, afirmou que a construção das três torres na Praia do Buracão trará impactos ambientais, como o sombreamento da areia e do mar. Ele disse que o projeto afetará também a qualidade de vida das pessoas.
O vereador e ouvidor-geral da Câmara de Salvador, Augusto Vasconcelos (PCdoB), disse já ter solicitado ao Secretário Municipal de Desenvolvimento Urbano, João Xavier, que a secretaria avalie a viabilidade para liberação ou não da obra.
"Assim que tive a informação da existência de uma solicitação para a construção de três torres na Praia do Buracão, formalizei um questionamento na Sedur que ainda não foi respondido. Notificamos a Secretaria para que pudesse prestar as devidas informações e sabemos que existem processos administrativos e que estão em fase de tramitação, mas há um desconforto muito grande por parte de moradores, banhistas, frequentadores do local, pois sabem que isso pode impactar não só na região como em toda a cidade, já que abre um precedente perigoso de construção de edifícios desrespeitando o PDDU", pontuou.
Sol e sombra
Morador do bairro há mais de 15 anos, o advogado Celso Antunes, chega a brincar que os espigões "vão sombrear a África" por conta do seu tamanho.
"É um gigante, um monstro. São vários monstros que estão querendo construir na rua e esses monstros vão dar um impacto ambiental gigantesco e além de causar um problema de urbanismo. As pessoas vão ter um impacto aqui de trânsito que a rua não comporta, uma rua sem saída pequena, com dois bares de alta frequência, como é que se consegue pensar na hipótese de ter prédios desse tamanho, dessa natureza?", questiona.
A psiquiatra Lucila Pato, que frequenta a praia do Buracão há muitos anos por contra da "tranquilidade" achada no local, também demonstrou sua preocupação com o que será do espaço caso o empreendimento seja aprovado.
"As pessoas que pensam em comprar esses apartamentos vão comprar para trás da praia morta. Eles vão possivelmente usar a piscina do prédio, mas a Praia do Buracão é uma praia tradicional de Salvador que não é só dos moradores da rua, é uma praia frequentada pela população de Amaralina, da favela, do centro da cidade. É um lugar público, do turismo, esses hotéis, tem muito turista aqui. Uma praia com um ar muito forte, vai perder um tesouro. Quer dizer, você perde isso em nome de uma construção que destrói uma coisa bela, né?"
O Grupo A TARDE teve acesso ao Ofício de Registro de Imóveis no qual os nomes das empresas BET BA 01 - EMPREENDIMENTO IMOBILIARIO LTDA e BET BA 02 - EMPREENDIMENTO IMOBILIARIO LTDA, ambas ligadas à incorporadora OR EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS E PARTICIPACOES S.A., que faz parte do grupo Novonor, antiga Odebrecht, adquiriram casas na região no valor de R$ 16 milhões.
Ao Grupo A TARDE, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur), admitiu que realmente existe um pedido de licença de construção para a região da Praia do Buracão, porém, a solicitação "está em análise". A pasta ainda salientou que "a solicitação não garante a aprovação do projeto, o que só é feito após apurada análise técnica e obediência ao que determina as legislações vigentes. Todos empreendimentos construídos em Salvador devem obedecer o que determina a LOUOS e o PDDU".
O último Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município de Salvador - PDDU, foi realizado em 2016, ainda no mandato do ex-prefeito ACM Neto (UB) e deve ser revisado em 2024.
Veja na íntegra a nota da construtora
É uma política da OR não tecer comentários sobre o desenvolvimento de empreendimentos antes que os mesmos percorram as etapas de análise e licenciamento necessárias para implantação.
Com uma série de projetos desenvolvidos e entregues em grandes cidades brasileiras, em especial Salvador, a OR reforça que seus empreendimentos são planejados e concebidos em absoluta observância aos Planos Diretores municipais, sempre proporcionando ações e benfeitorias que valorizam essas localidades.
A empresa reafirma seu compromisso com o respeito ao meio ambiente e às comunidades onde atua, sempre pautada por uma atuação com ética e transparência.