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Tradição resgatada - 07/04/2023, 08:15 - Priscila Dórea

Fim da pandemia volta a movimentar a venda de Judas na Bahia

No tradicional Florentino Fogueteiro a expectativa deste ano é a saída de, pelo menos, 450 bonecos

Tradição de malhar o Judas ainda resiste em Salvador
Tradição de malhar o Judas ainda resiste em Salvador |  Foto: Olga Leiria / Ag. A Tarde

Tradição cristã que tem suas origens ainda na Idade Média, a Queima de Judas - ou Malhação de Judas -, acontece em todo Sábado de Aleluia e é uma daquelas tradições que quem participa ou já participou, sempre tem boas e vívidas lembranças. O evento tem perdido sua força, principalmente no que diz respeito ao que acontece além da queima, como as brincadeiras direcionadas às crianças, mas tem voltado com vontade nesse 2023 pós-pandemia, junto a vontade daqueles que lutam para manter essa tradição viva.

Uma dessas pessoas é o aposentado Fernando Dias da Encarnação Filho, 66 anos, que sob o legado do famoso Florentino Fogueteiro - que faleceu em maio de 2006, aos 86 anos -, aprendeu a fazer o boneco do Judas aos 10 anos, assistindo Florentino em seu ofício e insistindo para que o mestre o ensinasse. “Ele não gostava de ensinar, não tinha paciência, mas depois de muito ver ele fazendo, disse a ele que sabia montar uma das partes com fogos do boneco, ele duvidou e eu insisti. Quando terminei e ele viu que ficou bom, deixou que eu aprendesse mais”.

Durante a pandemia, principalmente em 2020 e em 2021, ele conta que não vendeu boneco algum, mas não por falta de pedidos. “Tinham aqueles que queriam fazer a festa mesmo na situação em que estávamos, mas a gente se recusava. A Queima de Judas reúne muita gente, se a gente vendesse estaríamos incentivando que as pessoas se aglomerassem, né? Só voltamos a vender em 2022, mas foi bem pouco”, lembra Fernando, que tem como sócio o administrador Jean Neiva, 42 anos, outro dos discípulos de Florentino.

Jean conta que o esperado este ano é vender cerca de 450 bonecos ou mais. Durante a entrevista, ele precisou diversas vezes atender pessoas que chegavam para buscar seus Judas encomendados. Esse número, no entanto, está bem longe de se equiparar aos anos antes da pandemia.

Aspas

Em 2019 e antes disso, vendíamos em média mil Judas. A tradição vem sendo esquecida tanto pelas pessoas em si, quanto pelas prefeituras baianas

Custo

Hoje, cada boneco custa em média R$ 350, mas era bem mais caro, lembra Fernando. “Na época de Florentino, um boneco chegava perto do valor do salário mínimo da época e as pessoas compravam, a tradição ainda estava bem viva”. E se engana quem acha que o boneco de aparência simples é fácil de ser feito. Há toda uma engenharia e mecânica por trás do Judas que gira, pega fogo e diverte quem assiste.

“É preciso cuidado e atenção na hora de construir o Judas, o material certo para o corpo e a cabeça, assim como tecido leve para as roupas. É preciso saber a quantidade certa de fogos, assim como o tamanho certo da espada que faz ele girar. Uma bomba mais forte em uma rua mais estreita, e a explosão pode quebrar as janelas de vidro das casas”, explica Fernando.

Há ainda outra coisa a ser contada sobre a tradição: muitos têm características e até faixas que fazem a alusão a um político ou figura pública que tenha se tornado um desafeto daquela comunidade - ou até do país -, mas esses detalhes não são feitos por quem constrói os bonecos. Pelo menos não os construídos pela equipe de Fernando e Jean. “Pense comigo, se hoje eu faço um boneco com a cara de fulano, esse fulano que poderia vir a ser meu cliente no futuro. Vai encrencar com quem? Comigo”, explica Fernando.

Eles então entregam o boneco de calça e camisa comprida de tecidos leves apenas. “Nós até indicamos qual o melhor material usar e onde encontrar, mas só. O mais pedido esse ano, por exemplo, tem sido o Rei do Pix, por causa do caso recente de roubo. É uma tradição que tem esse lado político sim, mas que continua divertindo muito”, afirma Jean.

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