
Uma pesquisa do Instituto Data Favela apontou que 57% das pessoas que atuam em atividades ligadas ao tráfico de drogas deixariam o crime caso tivessem oportunidade de emprego ou de empreender. O estudo ouviu 3.954 entrevistados em favelas de 23 estados, com coleta feita presencialmente por pesquisadores em todas as regiões do país.
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O questionário aplicado tinha 84 perguntas, divididas em quatro módulos: família, educação e saúde; caminhos do crime; vivências e cotidiano; e gênero, raça e juventude.
Motivos para abandonar o crime
Entre os entrevistados, 57% afirmaram que um emprego formal, uma vaga com maior flexibilidade ou a chance de abrir o próprio negócio seriam motivos suficientes para mudar de vida.
Apenas considerando a possibilidade de empreender, 22% disseram que deixariam o crime. Já 20% afirmaram que sairiam do tráfico caso conseguissem um emprego com carteira assinada.
Perfil: quem são os traficantes no Brasil?
Ainda segundo o Raio-X da Vida Real, do Data Favela, a maioria dos envolvidos com tráfico de drogas são negros, jovens e já com filhos.
O levantamento mapeou 3.954 pessoas ligadas ao tráfico em todas as regiões do país, entre 15 de agosto e 20 de setembro. A amostra acompanha a distribuição das favelas registradas pelo Censo do IBGE, com maior concentração no Sudeste (43,3%) e no Nordeste (28,3%).
Entre os entrevistados, 79% eram homens e 21% mulheres, com forte predominância de jovens: o maior grupo tinha entre 22 e 26 anos (24%), seguido por jovens de 19 a 21 anos (19%).
A raça também aparece como um ponto central: 74% eram pessoas negras — sendo 43% pretas e 31% pardas, enquanto brancos representavam 22% e amarelos apenas 3%.

Outro ponto que atravessa a pesquisa é a origem dos entrevistados. Oitenta por cento nasceram em favelas, e, desse total, mais da metade (53%) está “na mesma favela desde que nasceu”.
Mulher como figura principal da família
A estrutura familiar também revela padrões: 78% cresceram em um núcleo familiar, geralmente com uma mulher como figura central. 30% foram criados apenas pela mãe, 35% pelos dois pais e 8% apenas pelo pai.

Avós também aparecem, criando 7% dos entrevistados. Esses arranjos mostram a força do cuidado feminino nessas comunidades e evidenciam o peso das mães no cotidiano desses jovens.
Os números ainda escancaram outra realidade pouco debatida: a parentalidade. Mais da metade dos entrevistados (52%) já tem filhos. Entre eles, 28% têm um, 33% têm dois, 20% têm três e parte significativa tem quatro ou mais. Mesmo envolvidos com o crime, 84% afirmaram que não deixariam os filhos seguirem o mesmo caminho.
Sobre a pesquisa
O levantamento, chamado Raio-X da Vida Real, foi realizado entre 15 de agosto e 20 de setembro de 2025, promovido pela CUFA, pela Favela Holding e pelo Instituto DataGoal.
O Data Favela é o primeiro instituto de pesquisa do país dedicado exclusivamente a estudos em favelas e periferias.
