A temporada de descontos mais aguardada do ano já chegou na capital baiana com vitrines cheias, promoções tentadoras e longas filas, seja nas lojas físicas ou nos sites de e-commerce. A Black Friday, tradicional data de descontos importada dos Estados Unidos, vem ganhando força a cada ano no Brasil e promete, em 2025, movimentar o comércio mesmo diante de um cenário econômico desafiador.
Leia Também:
Enquanto os consumidores se preparam para avaliar ofertas, lojistas e empreendedores apostam na data para aquecer as vendas e fechar o ano no azul. No Shopping Center Lapa, por exemplo, as promoções chegam a 70% de desconto entre os dias 24 e 29 de novembro. Já o Cine Imperial, localizado no centro de compras, aderiu à campanha Yellow Friday e está oferecendo ingressos a R$ 8 em todas as sextas-feiras do mês, inclusive para estreias como O Agente Secreto.
No comércio de bairro, a expectativa também é positiva. A cabeleireira Patrícia Santos Santana, microempreendedora e dona de um salão de beleza em Salvador, conta que aproveitou o período para lançar descontos em diversos serviços estéticos.
“Esse é um momento em que o salão costuma ficar mais parado, então decidi fazer a promoção para movimentar o negócio. Teremos descontos em hidratação, cauterização, botox e progressiva. A expectativa é ver uma boa rotatividade de clientes e produtos”, comenta.
Com a inflação projetada em 5%, juros elevados e o endividamento das famílias batendo recordes, especialistas reforçam que o consumidor precisa agir com cautela para não transformar as promoções em dor de cabeça financeira.
“Não é o momento ideal para compras impulsivas ou grandes dívidas. Mas, se o consumidor está com as finanças equilibradas, pode aproveitar boas oportunidades, desde que haja planejamento e evite o uso de crédito caro”, orienta o economista Gustavo Casseb Pessoti, conselheiro federal do Cofecon e ex-presidente do Corecon-BA.
De acordo com ele, a taxa Selic de 15%, uma das mais altas das últimas duas décadas, encarece o crédito e afeta diretamente o consumo. “O custo do serviço da dívida das famílias sobe, e sobra menos para o consumo. Além disso, com o crescimento econômico projetado em apenas 2,3% neste ano, a tendência é que os salários e o emprego avancem em ritmo mais lento”, acrescenta.
A empolgação com as promoções, segundo o economista, deve vir acompanhada de planejamento. Antes de clicar em “comprar” ou de aproveitar uma vitrine chamativa, o consumidor deve se fazer algumas perguntas: preciso realmente deste produto? Posso pagar à vista ou vou parcelar? O desconto é real ou apenas uma estratégia de marketing?
“Verifique se você realmente precisa do item. Se for algo que você já planejava adquirir, ótimo. Mas se for uma compra por impulso, vale repensar. O ideal é comparar preços, analisar o histórico e evitar parcelamentos longos com juros embutidos”, reforça Pessoti.
A recomendação é especialmente válida para quem já está endividado. Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que 78% das famílias brasileiras possuem algum tipo de dívida, seja em cartão de crédito, financiamento ou empréstimo. “Se o orçamento já está apertado, é melhor evitar novas parcelas, porque qualquer imprevisto pode comprometer as finanças pessoais”, alerta o economista.
Para além das vitrines, a Black Friday se tornou um teste de maturidade financeira para o consumidor brasileiro. Pessoti lembra que o melhor desconto é aquele que não compromete o orçamento. “Economizar não é apenas pagar menos, mas comprar com propósito. O ideal é aproveitar as oportunidades de forma racional, sem se deixar levar pela sensação de estar fazendo um bom negócio”, explica.
Entre as principais dicas do economista estão evitar compras por impulso, manter uma reserva financeira para imprevistos e avaliar o impacto das parcelas futuras no orçamento. “Com o cenário econômico ainda instável, é fundamental ter prudência. Se a renda ou o emprego forem afetados, o parcelamento que parecia pequeno pode se transformar em um problema”, conclui.
Com promoções que vão de serviços de beleza a eletrônicos e lazer, a Black Friday vai movimentar o comércio de Salvador. Mas, em tempos de inflação e juros altos, consumir com consciência pode ser o maior desconto de todos.
*Sob supervisão do editor Anderson Orrico
leia também