O sistema de proteção de uma usina ficou ‘na falha’ para entrar em ação e gerou uma sobrecarga responsável pelo apagão energético do último dia 15 de agosto. A afirmação partiu do diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi.
“Esta avaliação só foi possível graças às informações que os agentes [do setor elétrico] nos passaram, mostrando o tempo que o aparelho [um regulador de tensão] de uma usina demorou a entrar em ação”, admitiu Ciocchi na abertura da reunião conjunta das comissões de Fiscalização Financeira e Controle e de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.
Ainda conforme o gestor da entidade privada responsável por coordenar e controlar a operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional, o equipamento em questão tinha que ter demorado 15 milissegundos para entrar em ação.
O detalhe é que o período está previsto nos projetos habilitados pelos agentes econômicos, porém demorou entre 80 milissegundos e 100 milissegundos. Ainda conforme Ciocchi, ao tentar reconstituir, em simuladores, os fatos que antecederam o apagão do último dia 15, os especialistas do setor não conseguiam obter o desligamento das fontes geradoras usando o tempo de resposta indicado nos projetos.
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Só ao receber “a pista” de que o equipamento de uma usina pode ter demorado além do tempo previsto para entrar em ação, os técnicos conseguiram reproduzir o evento.
“A grande pista, já discutida com técnicos, engenheiros e com vários experts do setor, é que aí está a causa de uma série de outros eventos, de aberturas de linhas, que levaram a esta desconexão que atingiu praticamente todo o Brasil”, reforçou o diretor-geral do ONS.
Ainda de acordo com Ciocchi, o chamado “evento zero” que contribuiu para que o apagão acontecesse foi o desligamento da linha de transmissão 500kV Quixadá-Fortaleza.
“Repetindo o que falamos à época, isso não foi a causa do fenômeno, pois o sistema brasileiro tem suas redundâncias [proteções em sequência] e é projetado para resistir a uma perda simples desta natureza”, comentou Ciochi, que classificou a ocorrência como um “fenômeno completamente inusitado”.
Falha
Cerca de 29 milhões de brasileiros foram danificados e ficaram sem fornecimento de energia elétrica em quase todo o país, com exceção do estado de Roraima, cujo sistema não está ligado ao do resto do país.
Na Região Nordeste, por exemplo, a recuperação demandou três horas para restabelecimento de apenas 70% da carga afetada. O detalhamento das causas e responsabilidades pelo apagão constarão de um relatório consolidado que o ONS divulgará nas próximas semanas.