
Se nessa cidade todo mundo é d’Oxum, nada mais justo que presentear essa força que mora na água. Foi por isso que o Dique do Tororó virou palco de homenagens à orixá na noite de ontem (01).
A tradicional entrega de presentes à Oxum, que leva o nome de “Presente às Águas Sórodó”, reuniu pessoas de religião de matriz africana, autoridades religiosas, representantes de terreiros, admiradores e curiosos em uma saudação religiosa que, em seguida, saiu em cortejo ao redor do Dique.
O presidente da Associação Afro-Ameríndia (AFA), Leonel Monteiro, explica a origem e importância da celebração que ocorre um dia antes da festa de de Iemanjá.
“Começou com uma família que morava no entorno do Dique e acabou ganhando corpo e cresceu”, conta. “Em 1998 foi que ganhou força quando houve um movimento para a retirada dos orixás do Dique e o Sorodó ressurgiu como um pedido à Oxum que não permitisse”, conclui.
Dessa maneira, além de um ato ancestral e de manifestação cultural, a tradição também se tornou um ato de resistência das religiões de matriz africana, como destaca a secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial, Ângela Guimarães, que esteve presente na celebração religiosa.
“Poder afirmar as nossas crenças e a nossa relação com o sagrado em um espaço público e mobilizar essa quantidade de gente é um manifesto em defesa da pluralidade e da diversidade religosa”, pontuou a gestora.
O cortejo saiu pouco depois das 20h e deu a volta no Dique em direção à Fonte dos Orixás. O momento contou com a presença do cantor baiano Carlinhos Brown e da banda feminina Yayá Muxima.
A celebração à Oxum acontecer poucas horas antes do dia de Iemanjá tem uma razão, como explica Leonel. “São duas grandes mães, duas grandes energias femininas que se completam. A gente não pode ofertar a uma e não ofertar a outra”, ressalta.
Marilac Santos é a coordenadora geral da União das Endekes Bahia (Undeke), parceira do Sorodó, e por isso esteve presente na festa não só para prestigiar como também para deixar o seu presente. “Não temos uma data específica do dia de Oxum como temos o de Iemanjá. É aqui que Oxum vive, é daqui que sai todo ouro, belezas e prosperidade; todos os caminhos levam ao Dique”, pontuou.
Presentes e oferendas- Florido e perfumado
Quem esteve no Dique na noite de ontem não esquece o que viu e o cheiro que sentiu. As flores regadas a alfazema que embelezam o local eram deixadas com muito carinho, fé e axé nos balaios. A turista Tauana Costa, natural do Mato Grosso e que mora em São Paulo, estava hospedada nas redondezas e não perdeu a oportunidade de conhecer a festa e deixar o seu presente. "Embora eu não tenha qualquer envolvimento com o candomblé, quando fiquei sabendo que teria aqui saída dos presentes eu quis vir homenagear, agradecer e sentir a energia desse lugar”, disse a turista que veio à Salvador para viver os festejos do verão, em especial o de Iemanjá. “Poder presenciar essas festas religiosas ganha um outro nível de envolvimento”, contou.
Os presentes, em geral, são flores, mas o presidente da AFA alertou para o cuidado ecológico com o que vai para as águas. “É um presente coletivo da cidade e é ecológico. O balaio ofertado não pode ter, por exemplo, um buquê de flores com a embalagem, um vidro de perfume com a tampa de plástico... nada disso é oferenda”.