Uma nova rodada de negociação entre rodoviários e patrões acontece no fim da manhã de hoje (22). É a terceira mediada por Fátima Freire, superintendente Regional do Trabalho, na sede do órgão. Trata-se de mais uma tentativa de evitar a greve, já anunciada na última sexta (19), após fracasso nas negociações.
A categoria decidiu pela paralisação das atividades e entregou o ofício durante o fim de semana. A previsão é de que os ônibus deixem de circular em Salvador às 0h de quinta-feira (25). Antes disso, na quarta (24), uma nova assembleia dos rodoviários irá acontecer, o que também pode evitar a greve.
"Nossa intenção não é fazer a greve. De fato a gente conta os dias úteis, joga a data de início lá na frente porque sabe dos prejuízos à cidade. Caso aconteça a greve, conseguimos mostrar à Justiça que tentamos de todas as formas para que a greve não acontecesse, porque a gente sabe que greve termina em tribunal. E isso tudo conta", explicou Fábio Primo, presidente em exercício do Sindicato dos Rodoviários da Bahia.
Na pauta de reivindicações da categoria havia cerca de trinta exigências. Atualmente, somente quatorze permanecem. Ainda assim, o patronal considera os pontos fora de órbita, como explicado por Jorge Castro, diretor do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Salvador (Setps).
"Estamos com dificuldade econômica e financeira. O sindicato apresenta reajuste salarial, que não tem que ter fim da compensação, que tem que fornecer cesta básica. Quinze itens absolutamente improváveis, impossíveis, de serem concedidos pela empresa. Como você recebe uma proposta que quase dobra o salário? Reduzir a quinze itens é muita simplicidade, mas os valores são muito altos."
Trocando em miúdos, a categoria quer um reajuste salarial que represente ganho real. Ou seja, que de fato, seja um diferencial para qualidade de vida do trabalhador. A defasagem salarial em 53% divulgada pelo Dieese embasa a proposta que está na mesa, para aumentos de 5% e mais 5% de acordo com a inflação. Dentro dessa esfera está ainda a majoração no vale alimentação em 10%.
Um ponto batido e rebatido há dias, mas que ainda não saiu do lugar. "Estamos na estaca zero. Os empresários não apresentam nada. É zero reajuste", lamentou o vereador Hélio Ferreira, que também é presidente do Sindicato dos Rodoviários.
O patronal só está disposto a negociar caso a pauta seja resumida a dois itens: reajuste salarial e compensação das horas extras trabalhadas. Pode-se considerar um avanço em relação ao último quesito. Ao fim da reunião de sexta (19), o pedido foi para retirada.
O vereador e dirigente do sindicato, Tiago Ferreira, explicou que no atual método a compensação de horas tem prazo de seis meses para ocorrer. "O profissional trabalha em fevereiro e recebe só em agosto", reclamou. "Essa demanda é inegociável para nós e por isso não avançamos ainda", pontuou.
Não à toa, a categoria voltou a rejeitar a investida dos empresários. Ainda há para negociar outros pontos como a manutenção dos postos de trabalho dos cobradores, função ameaçada por um estudo recente da prefeitura para modernização da frota com a retirada desses profissionais.
Embora o patronal já tenha engavetado a proposta, Fábio Primo reforçou a necessidade de um compromisso da gestão. "Precisamos também da garantia do prefeito Bruno Reis de que os cobradores não serão demitidos."
A sinalização positiva veio no início da manhã com o secretário Fabrizzio Muller, de Mobilidade (Semob). Segundo ele, "essa conversa não é para agora". Explicou que o município está em um momento de revisão tarifária, onde são feitos estudos "para tornar o transporte público mais eficiente" e que a retirada gradual e a longo prazo dos cobradores é só um dos cenários apontados.
Outro ponto que causa o entrave nas negociações é a resolução de problemas relacionados à extinção da Concessionária Salvador Norte (CSN). Espera-se o pagamento dos direitos trabalhistas de ex-funcionários da empresa. Um tópico constante do sindicato.
Segundo o prefeito Bruno Reis, a prefeitura está dando uma cesta básica por mês e interviu para que os ex-funcionários recebessem o seguro desemprego. Quanto aos diretos trabalhistas, o chefe do Executivo municipal deu um prazo de três meses para quitação por causa do sucesso na negociação de venda do terreno da antiga CSN.
"A MRV queria comprar o terreno por R$ 12 milhões e depois de muita pressão está comprando por R$ 20 milhões. Todo terreno é comprado a prazo e eu estou fazendo pagar à vista. Sabe quanto é que esse terreno devia ao banco? Estava lá alienado judicialmente, R$ 18 milhões e só ia sobrar R$ 2 mil e para resolver a conta dos trabalhadores, são R$ 12 milhões. Eu fui para o Bradesco e praticamente impus e eles reduziram o débito para indenizar os trabalhadores."