
Já dizia Dorival Caymmi: “quem não gosta de samba, bom sujeito não é”. E é justamente para celebrar essa importante manifestação cultural que, neste domingo (6), a Associação Cultural Quilombo Aldeia Tubarão (QUIAL Tubarão) promove o VII Encontro de Samba de Roda de Tubarão.
O evento é gratuito e acontece das 9h às 19h, na Quadra da Escola Municipal Fernando Presídio, localizada na comunidade de Tubarão, no Subúrbio Ferroviário de Salvador.
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O tema desta edição, “O Marisco e os Ciclos da Roda”, propõe uma reflexão sobre os ciclos da vida e da resistência, a partir de um elemento simbólico do território: o marisco. Ancestral, coletivo e transformador, ele inspira a roda e as histórias que sustentam o samba.
Entre as atrações confirmadas estão As Ganhadeiras de Itapuã, Samba de Dona Dalva, Voa Voa Maria, Quixabeira da Matinha, Samba do Rosário e o Samba de Roda de Tubarão. Além das apresentações, o público poderá acompanhar intervenções artísticas e visitar a tradicional Feira das Matriarcas, com comidas típicas, bebidas, arte, moda e artesanato.

Origem do encontro
Desde 2017, o Encontro de Samba de Roda de Tubarão é realizado pela organização comunitária QUIAL Tubarão, idealizada por Natureza França. O evento nasceu com o propósito de valorizar a cultura popular e promover uma educação inclusiva através do samba de roda, reunindo elementos como oralidade, atividades circulares, economia solidária e criatividade.
“A ideia do encontro é trazer nossos educadores populares, nossos mestres para a comunidade, para que possamos aprender com eles. E com a generosidade do samba de roda, a gente não aprende sozinha. A gente chama a comunidade, a sociedade e o povo da cidade para aprender com a gente”, explica Natureza.
A idealizadora destaca que o evento tem fortalecido os laços entre o samba de roda e os próprios moradores da comunidade de Tubarão.

“Apesar de ser uma comunidade com muitas mulheres e homens herdeiros de sambadores e sambadeiras, isso não estava evidente no início. Estava guardado nas casas. Quando começamos com as crianças, as mães foram chegando, e isso foi ficando ainda mais forte”, observa França.
Neste ano, pela primeira vez, o encontro foi viabilizado com recursos públicos, por meio do edital da Lei Aldir Blanc. “A gente sempre contou com um apoio ou outro, mas agora conseguimos realizar o evento com um pouco mais de conforto. Ainda assim, nosso grande desafio continua sendo o financiamento. Recebemos um recurso de pequeno porte, que não é suficiente. A cada edição, percebemos o quanto fazemos com tão pouco”, afirma a organizadora.
Natureza ressalta o desejo de oferecer mais reconhecimento financeiro aos mestres e mestras convidados: “Hoje conseguimos garantir uma ajuda de custo, o que já é uma conquista. Mas eles sempre vieram pela confiança no nosso trabalho. O que queremos, de verdade, é oferecer cachês justos, porque eles merecem”, reivindica.
Apesar dos obstáculos, Natureza fala com orgulho da trajetória do projeto: “Estamos na sétima edição, celebrando um evento consolidado como o maior encontro de samba de roda da cidade de Salvador. É o único calendarizado, o único realizado no subúrbio ferroviário. O samba de roda é nosso e acontece aqui”, afirma.

O Marisco e os Ciclos
O tema da sétima edição do Encontro de Samba de Roda de Tubarão, “O Marisco e os Ciclos da Roda”, nasce em profunda conexão com o território.
Segundo Natureza França, ele evoca as raízes indígenas e africanas da comunidade de Tubarão e sua relação com o ambiente natural.
“Somos uma comunidade com heranças tupinambás. O tema dialoga com nosso processo de aprendizagem, com o reconhecimento de Tubarão enquanto aldeia, enquanto território que recebeu homens e mulheres vindos do continente africano — ou de outras regiões da Bahia, mas que são herdeiros dessa ancestralidade”, explica Natureza.
Para ela, o marisco é símbolo de continuidade, sustento e inspiração: “Esse alimento esteve presente nesta região ao longo dos séculos, nutrindo o corpo e o espírito da nossa comunidade. Ele carrega histórias, saberes e resistências”, observa.
Natureza também ressalta que o tema propõe uma reflexão política e ecológica sobre o território.
“Pensar o marisco e os ciclos da roda é entender o território como algo que não se dissocia da natureza — que é também ambiente social e político. Ao trazer essas temáticas, propomos uma política de cultura que reconhece os fazedores, os protagonistas, aqueles que movimentam o território”, acredita.

O Encontro, segundo ela, é mais que celebração — é prática viva de uma educação que transforma. “É uma oportunidade de aprender, pesquisar, registrar e viver. Viver a cultura popular, a educação inclusiva, a economia solidária e criativa. Uma educação que faz sentido, que nos afeta e nos ensina de verdade”, afirma Natureza.
A sétima edição do Encontro de Samba de Roda de Tubarão se afirma como espaço de celebração, educação e resistência. E, como reforça Natureza França, é também um convite aberto a toda a cidade: “A gente está esperando toda a cidade de Salvador para celebrar com a gente, com as nossas crianças, jovens, mulheres, a continuidade através do samba de roda, da Feira das Matriarcas, da presença dos grupos, coletivos e representantes públicos, privados, culturais, de todas as áreas”.
VII Encontro de Samba de Roda de Tubarão – O Marisco e os Ciclos da Roda / Domingo (06), das 9h às 19h / Quadra da Escola Municipal Fernando Presídio – Tubarão / Gratuito
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.