A dor, o sofrimento e o desespero agora dão lugar ao alívio, a paz e a sensação de voltar à Bahia depois de momentos de apuros. Essa mistura marcou a volta de cerca de 32 dos 194 baianos resgatados em uma fazenda no município gaúcho de Bento Gonçalves, na última semana, que estiveram na Defensoria Pública da Bahia, em Salvador, na tarde desta segunda-feira (27). Sem muito alarde, eles chegaram ao local em dois veículos.
O grupo estava em situação análoga à escravidão nos alojamentos. A promessa de muita grana em pouco tempo parava no cenário de desespero e muita tortura, com 'direito' ao uso de armas de choque, porrada e comidas estragadas. Ao todo, foram 207 resgatados, mas o restante ficou em terras gaúchas por opção ou por residir na região. Na sede da Defensoria, eles foram ouvidos e orientados.
O governo do Estado também deve preparar uma série de medidas, que inclui a inserção dos 'peões' no mercado de trabalho. Presente no local, o secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Filipe Freitas, falou com o Portal MASSA! sobre os próximos passos.
"Quando a secretaria soube do ocorrido, iniciou uma articulação com as secretarias de governo, Saúde, Assistência e Desenvolvimento Social, para que nós tivéssemos junto com as prefeituras e a Defensoria Pública fazendo o primeiro atendimento, que é o que estamos fazendo, identificando quais são as demandas, e dando encaminhamento. A partir desse primeiro atendimento, nós vamos identificar quais são os problemas encaminhados e vamos dar sequência a isso, com a reinserção dessas pessoas no mercado de trabalho, que é mais difícil, porque não depende só do governo do Estado, mas vamos trabalhar", afirmou Filipe.
O secretário ainda ressaltou a importância da dobradinha com o governo do Rio Grande do Sul na ação e transferência dos trabalhadores.
"O governo do Rio Grande do Sul nos avisou na quinta-feira (23) pela manhã, após o ocorrido. Todo o mapeamento foi feito em parceria com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul", explicou.
Na chegada à sede da Defensoria, alguns não seguraram a emoção de reencontrar a liberdade e o amor dos familiares. Um deles largou toda a bagagem no chão e abraçou a esposa aos prantos. A pedido do órgão, todos os rostos e identidades foram preservadas.
Um dos peões surgiu de um dos veículos com um carrinho de brinquedo em mãos. Ao passar pela imprensa, falou rapidamente e disse que o presente era para o filhote.
Trouxe o carrinho pro meu pivete, que ele merece
Ainda assustados, os trabalhadores preferiram não falar muito. Um deles, em papo rápido com o Portal MASSA!, em sigilo total, contou sobre os 22 longos dias de aflição e sofrimento. O trabalhador não terá o nome divulgado por cautela.
"Lá era complicado, era barril. Opressão, falta de alimento, falta de tudo. Sempre, a todo momento(perguntado sobre a agressões). Rolou tudo isso direto", relatou o peão, que ainda cobriu o rosto com o gorro que tinha em mãos.