O que pode parecer apenas mais um brinquedo de criança ou um simples passatempo, é, na verdade, uma fonte de prazer e emoção para muitos adultos. Carrinhos, réplicas de veículos e aeronaves que marcaram época nos cinemas e na cultura pop, ou ainda figuras de ação do super herói favorito, são alguns dos objetos que reúnem apaixonados pelo colecionismo de miniaturas em Salvador.
Esses colecionadores se encontram em eventos e compartilham experiências, além de se organizarem para comprar exemplares na internet ou em lojas de brinquedos espalhadas pela capital baiana. Com o sugestivo nome de “Falidos pelas Miniaturas”, um desses grupos é formado pelos amigos Eduardo, Francisco e Selmo.
O Portal A TARDE acompanhou um dos encontros realizados pelo trio dentro de um shopping de Salvador. Em uma exposição de carrinhos temáticos, que iam de Batman, Star Trek, Star Wars, Jurassic Park e Transformers a viaturas de Bombeiros e Polícia Militar, os três recebiam curiosos e amigos, além de conhecer novos colecionadores.
Um dos “Falidos pelas Miniaturas”, o contador paulista Eduardo Martins diz que a vida de colecionador começou com apenas 7 anos de idade. Hoje, aos 51, ele se dedica a reunir carrinhos temáticos da cultura pop. A paixão é tanta que ele é considerado o maior colecionador de Batman e Star Wars da Bahia.
“Comecei com uma coleção de selos postais, depois fui para uma coleção de chaveiro, e em seguida, coleção de maços de cigarro. Quando eu vim morar em Salvador, em 1993, eu passei por uma gôndola da Hot Wheels e vi um carrinho, me apaixonei logo de cara. Como colecionador, eu percebi que tinha que ter um foco, então escolhi uma Ferrari e comecei a colecionar por ela. Quando eu conheci o ‘Falidos pelas Miniaturas’, fui entendendo como funcionava o colecionismo de miniaturas de carro. Hoje são mais de 30 anos de colecionismo com várias peças e temas, para mim, é uma terapia, um hobby, uma cachaça”, conta.
Segundo Eduardo, o colecionismo pode acontecer a partir de qualquer idade. Para quem está iniciando no hobby, o contador aconselha que a pessoa escolha um foco, que pode ser pela escala, que é o tamanho da miniatura, ou por uma marca e modelo ou fabricante. Ele alerta que geralmente os novos colecionadores querem comprar de tudo, mas com tempo é possível que esse mesmo colecionador não se identifique mais com as miniaturas compradas e gaste à toa.
“No nosso caso, todos do ‘Falidos’, colecionamos carros que foram ícones dos cinemas, da TV e dos videogames [...] É importante não ter vergonha de colecionar, é uma atividade para todas as idades”, ressalta ele.
Francisco Morais, 39, é colecionador há 13 anos. O técnico de informática começou com bonecos de personagens da década de 80 e 90, como os Cavaleiros do Zodíaco, até conhecer os carrinhos. Ele reclama que a maior dificuldade de se colecionar em Salvador é não ter variedades de miniaturas nas lojas.
“Cerca de 70% do que a gente compra vem de fora de Salvador, de São Paulo, Estados Unidos, Japão…Mas aqui chega pouca coisa, apenas Hot Wheels”, lamenta.
Já o professor de artes Selmo Jesus, 45, além de colecionar, customiza as miniaturas. Embora se entenda como colecionador desde 2010, o também artesão gosta de carrinhos desde criança. Aos 6 anos fez seu primeiro carrinho, de lata de sardinha, após se desentender com o primo mais velho, que não o deixava usar seus brinquedos.
“Eu peguei uma lata de sardinha, quatro tampinhas de garrafa, palitos de pirulitos, furei os quatro lados da lata e fiz meu primeiro carrinho. Dei muitas marteladas nos dedos [risos]. Levei para a escola, um colega viu e me deu um geladinho que eu troquei pelo carro. Voltei para casa, procurei novas latas, encontrei duas, juntei uma na outra, fiz outro carrinho e troquei por mais dois geladinhos. Foi assim que eu comecei a entrar nesse universo da arte", lembra.
Atualmente, Selmo faz customizações das suas próprias miniaturas. Nas coleções mais recentes, produziu viaturas da Polícia Militar, Polícia Rodoviária e ambulâncias de Salvador. Para as viaturas, ele usa sempre os modelos fuscas, que chama carinhosamente de ‘joaninha’. O artista imagina que se a PMBA usasse um fusca, ele seria azul e branco.
Colecionismo também é emoção
De acordo com Eduardo, além do “Falidos”, na Bahia, há pelo menos outros quatro grupos dedicados ao colecionismo de miniaturas. São eles: “Miniaturas Feira e Região", em Feira de Santana, “Bahia Diecast”, “Clube Diecast da Bahia” e o “Miniaturas Bahia", primeiro grupo fundado no estado.
Entre os praticantes do hobby, há quem diga que encontrar a miniatura desejada e poder adicioná-la à sua coleção produz um misto de sensações como relaxamento, prazer e alegria. A assistente contábil Sandra Correia, por exemplo, não conseguiu conter a emoção ao encontrar o carrinho rosa da Barbie, durante um dos momentos mais esperados entre os colecionadores: a abertura da caixa contendo novos produtos em uma loja.
Sandra começou a colecionar por influência do esposo e da filha. Ela conta que busca acompanhar o marido na hora das compras para que ele não compre adquira em excesso. Hoje eles têm juntos quase 150 exemplares.
"Hoje eu vim ao shopping porque ia abrir a caixinha [...] A Hot Wheels, todos os meses, lança carrinhos. Eles vão lançando caixas novas, geralmente, é divulgado no YouTube, mas as lojas de brinquedos nos shoppings avisam. Hoje só tinham duas caixas, e tinha muita gente para pegar. Então quando você consegue o que queria é muita emoção", explica ela, que estava ansiosa na Brinkarr do Shopping Piedade, parceira do “Falidos”.
A loja em questão faz o pedido de novos produtos e avisa aos colecionadores quando eles chegam. Às vezes cada colecionador consegue pegar uma caixa, em outras, o fabricante envia poucas, que precisam ser divididas entre todos. O custo de um carrinho varia entre R$ 15 e R$ 20, mas existem modelos ainda mais caros. "Já vi Ferrari de até R$ 1.500”, afirma Eduardo.
Luciano Santos é funcionário público e define o colecionismo como a "melhor coisa que existe". Ele destaca a relação de amizade que surge do hobby. "Tem uma interação com as pessoas, tem o grupo, tem a amizade e a satisfação pessoal de você achar um carro que você não conhece. Teoricamente, você tem o carro, não tem o carro grande, mas tem o carro em miniatura".
Mas nem só de carrinhos vivem os colecionadores. Há vários outros tipos de miniaturas. O colecionador Lucas “Super Actions" já teve de tudo um pouco, mas atualmente, o que tem chamado sua atenção são os toy arts da empresa Funko, ligados à cultura pop.
"Nós saímos da infância, mas a infância não saiu de nós. A criança que eu era ontem, hoje é o adulto com poder aquisitivo que tem prazer em adquirir um pouco do que consumia antigamente, através de action figures e outros colecionáveis [...] Todos são voltados para animes que admiro, animações nostálgicas da Disney, filmes que marcaram minha infância e personagens queridos como o Thor”, conta ele que é bacharel em Ciências Contábeis.
Para Luciano, colecionar é também uma mistura de paixão e paciência. "Sempre procure entender o que você mais gosta e dê foco a isso. Comece talvez com algo que te traga uma lembrança nostálgica de um tempo bom na própria vida. Daí quando você souber o que gosta, quando souber o que é vendido, quais fabricantes, quais locais são mais seguros para adquirir esses produtos, as coisas vão se construindo aos poucos e quando menos esperar você já será um grande colecionador”, aconselha.
Para quem tem interesse em conhecer o colecionismo, o Falidos pelas Miniaturas promove, neste fim de semana, mais uma exposição. O evento acontece dentro da Loja PB KIDS do Shopping Paralela, em Salvador, até às 21h neste sábado, 12, e das 12h às 18h, no domingo, 13. A entrada é gratuita e mais informações podem ser conferidas no perfil do Instagram do grupo.