A paixão pela natureza transformou-se em um empreendimento inovador e sustentável para as biotecnólogas Táris Maria Macedo e Acsa Magalhães. Com doutorado em Recursos Genéticos Vegetais, Táris uniu-se à também doutora Acsa para fundar a Puba, uma bioindústria dedicada à produção de insumos naturais, como conservantes e bioestimulantes. Aliando conhecimento científico à inspiração na biodiversidade da Caatinga, a dupla desenvolve produtos que atendem ao mercado de cosméticos e alimentos, impulsionando a renda local e evidenciando o impacto da bioeconomia.
Em 2022, a Puba foi selecionada para o Programa de Incubação da Áity Incubadora, do Parque Tecnológico da Bahia, que é vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e gerido pela Associação das Empresas do Parque Tecnológico da Bahia (AeptecBa). “Essa incubação criou pontes, conectando a Puba com o mercado”, explica Táris. “As acelerações e mentorias ajudaram na nossa formação de empreendedoras, mas existem conexões que, às vezes, são difíceis de mensurar. O capital relacional é fundamental para o crescimento de uma empresa.”
Outra startup baiana que desponta no cenário da bioindústria é a Cicatribio, fundada pelo químico e professor Saulo Capim, em parceria com os estudantes João Pedro de Oliveira e Itila Maykely Conceição, todos do Instituto Federal Baiano (IFBaiano). A empresa desenvolveu um gel creme cicatrizante feito a partir do látex da mangaba, planta encontrada em dois biomas baianos: Caatinga e Mata Atlântica. A ideia surgiu quando João Pedro buscava uma solução para aliviar as úlceras cutâneas que acometiam sua avó, diabética, cuja condição resultava em lesões graves na pele.
Aliando biotecnologia e sustentabilidade, a Cicatribio deu seus primeiros passos no mercado com foco no cuidado animal, lançando o Cicatribiovet, um gel cicatrizante voltado para uso veterinário. Paralelamente, a startup avança em articulações com hospitais universitários, com o apoio da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), para realizar estudos clínicos e testes em humanos, visando ao registro do produto na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esse potencial chamou a atenção da investidora-anjo Angélica Nkyn, fundadora da Boom Ventures, que apoiará a empresa em uma rodada de investimentos avaliada em R$ 2 milhões.
Segundo Saulo Capim, sócio da Cicatribio, criar startups em instituições de ensino alinhadas com a ciência é crucial para o desenvolvimento socioeconômico do estado. “Isso fortalece a educação por meio do ensino, pesquisa e extensão, ao mesmo tempo em que promove transformação social e inovação para a sociedade”, avalia. “Na comunidade científica, a criação de startups promove um ecossistema de inovação ao integrar pesquisa acadêmica e soluções práticas de acordo com problemas da comunidade local, além de poder atrair colaborações com outras instituições e empresas privadas, promovendo desenvolvimento socioeconômico.”
As duas empresas exemplificam o potencial da bioeconomia ao desenvolver produtos inovadores a partir de recursos naturais como plantas, frutas e raízes. Para impulsionar startups como essas, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia (Secti) está criando o Programa de Bioeconomia, voltado para empreendedores que utilizam insumos oriundos do semiárido baiano, que compreende os biomas Caatinga e Cerrado. O programa oferecerá suporte estratégico, incluindo incubação no Parque Tecnológico da Bahia, com etapas como orientação jurídica, financeira, de negócios e aceleração, fortalecendo a economia sustentável e a inovação na região.
O secretário da Secti, André Joazeiro, destaca que o Parque tem foco em projetos sociais que impactem positivamente a população. “O Parque Tecnológico é um equipamento para desenvolver tecnologia e tem, sob o comando do governador Jerônimo Rodrigues, foco em projetos de impacto social, como o saneamento em áreas desconectadas da rede e a bioeconomia com base em conhecimento tradicional e insumos da agricultura familiar”, afirma.
Banheiro sem uso de água para semiárido será desenvolvido na Bahia
O acesso ao saneamento básico é essencial para garantir qualidade de vida e saúde pública. Na Bahia, progressos já foram alcançados: a proporção de moradores sem banheiro em casa caiu de 8,6% em 2010 para 1,3% em 2022, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o propósito de avançar ainda mais, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), firmou parceria com a empresa alemã 3P Technik para desenvolver o projeto Sani Solar. O sistema, que será desenvolvido no Parque Tecnológico da Bahia e implementado pelo Nordeste, propõe uma solução eficiente e sustentável para o saneamento descentralizado.
O equipamento funciona sem consumir água, energia ou produtos químicos, utilizando exposição solar e ventilação natural para tratar dejetos humanos. O sistema separa a carga fecal da urinária, as tratando de forma independente: a urina é infiltrada no solo, enquanto as fezes passam por um processo de desidratação e evaporação, por causa do calor gerado por uma câmara solar que pode atingir até 70°C.
Para viabilizar o projeto, a multinacional alemã está reunindo empresas como a sueca Plastinject, a italiana Stormwater e a baiana SDW, criadora do Aqualuz, com o intuito de formar um Hub de Inovação em Saneamento no Parque Tecnológico da Bahia.
Para o secretário André Joazeiro, desenvolver o Sani Solar na Bahia representa um marco significativo para o avanço de soluções inovadoras no estado. “Ter um projeto como esse sendo desenvolvido na Bahia reforça nosso compromisso com soluções sustentáveis para o semiárido e às áreas rurais”, afirma.
O secretário lembra que, em novembro, por exemplo, o presidente Lula destacou que 4 milhões de nordestinos ainda vivem sem banheiro, segundo o IBGE, e pediu ao Ministério das Cidades um programa federal para mudar essa realidade, reforçando a importância de projetos como o Sani Solar. “A 3P, inclusive, planeja desenvolver uma versão que inclua uma alternativa para banho sustentável, como indicou o presidente Lula em sua fala”, destaca Joazeiro.
Já o sócio-diretor da 3P Technik no Brasil, Vitor Simões, ressalta a importância do controle no uso da água em regiões de clima seco, enfatizando que a iniciativa foi desenvolvida com o objetivo de atender a essas condições.
“Um sistema tradicional de banheiro úmido necessita de cerca de 11 mil litros de água por ano para transportar as fezes e a urina, produzindo esgoto a ser tratado”, detalha. “Em locais com pouca água, desenvolver sistemas úmidos é uma contradição. A tecnologia foi desenvolvida de acordo com as condições do semiárido, permitindo o tratamento, uso e manutenção feitos pelo utilizador.”