
O Dia do Garçom é comemorado nesta segunda-feira, 11 de agosto. Profissional marcado pela simpatia, carisma e pelo jogo de cintura, aprende, entre uma bandeja e outra, a equilibrar todas essas qualidades com uma dose extra de paciência.
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Também conhecido por outros adjetivos, como: patrão, campeão, doutor, camarada, entre outros, o garçom é peça chave para que o cliente tenha uma boa experiência na hora de curtir um almoço ou, até mesmo, em suas aventuras noturnas. Em situações ainda mais íntimas, o profissional passa até a ser amigo e ouvir as lamúrias dos fregueses.
Para conhecer toda a labuta desses profissionais, o Portal MASSA! correu trecho pelo bairro mais boêmio de Salvador, o Rio Vermelho, na busca de dar voz aos donos da festa desta segunda.

Dia 11 agosto? Saiba o motivo
Apesar de não haver uma definição concreta do motivo pelo qual comemora-se o Dia do Garçom nesta data, há informações de que há relação com o Dia do Advogado, também celebrado nesta segunda.
Lá entre os séculos XIX e o XX, no dia 11 de agosto, passou a ser comemorado o Dia da Pendura, quando os advogados colavam nos bares para comemorar a criação das primeiras faculdades de direito do país. Nesta data, os profissionais da lei não pagavam as contas. No entanto, os garçons eram recompensados com uma gorjeta de 10%.
Experiência, bandeja e histórias
O Massa!, nas andanças pelo 'RV', conheceu as histórias de muitas bandejas que serviram pratos, cervejas e momentos únicos para diversas pessoas, inclusive para um artista renomado da Bahia e do Brasil, o multi-instrumentista, cantor e compositor Carlinhos Brown.
Seu Valmir Silva, de 58 anos, tem 25 anos trabalhando no Boteco do França e já passou por diversas histórias no tempo de serviço. Antes de trabalhar com o público, ele já deu uma passada pela Petrobras, mas afirmou que a sua paixão era trabalhar com a gastronomia.

Nesses 25 anos, Valmir aprendeu a lidar com diferentes figuras e personalidades e sabe reconhecer o cliente até pela hora do dia. "Cada um tem a sua personalidade, velho. Eu trabalho de dia e de noite. De dia tem um público com outra personalidade, vem com criança. À noite já é outro, já vem os amigos", explicou com ânimo e paixão, diferenciado os públicos com os gestos.
Numa certa feita, um cliente diferente brotou para Valmir atender, o já citado Carlinhos Brown. Na ocasião, o artista pediu um prato destaque do boteco, o arroz de polvo, mas ele queria algo a mais para compor a iguaria, que acabou se tornando um sucesso do estabelecimento.
"Eu servi o arroz de polvo, aí ele falou assim: 'Poxa, velho, não dá para você colocar um camarãozinho aqui no arroz de polvo, não?!' Aí eu falei assim: 'Poxa, velho, meu patrão não vai gostar, entendeu?'. Aí se tornou a experiência que ficou mais marcante na minha vida, porque ficou arroz de polvo com camarão, um clássico da casa e todo mundo aqui no Rio Vermelho, em Salvador, no Brasil e no mundo gosta", contou.
Outro experiente pelas bandas do Rio Vermelho é Nailton Lima, no corre há 18 anos, passando suas noites no bairro mais animado da capital baiana. Nessas quase duas décadas, já passou por momentos alegres e outros nem tanto.

"Tem cliente que chega, abraça como se você fosse da família deles. Faz questão de ser atendido por você. Tem gente mesmo que vem da Suíça há mais de 10 anos, todo Carnaval e me procura. E também têm aqueles que às vezes vêm desfazendo, querem humilhar", descreveu, dando uma pausa no serviço.
Já Léo, que trabalha no Largo do Santana, fez uma definição bem direta dos pontos positivos e negativos em trabalhar com o povão.
O lado ruim é o público, o lado bom é o público.
Léo, garçom
"Tem umas mesas que você vai atender e faz amigos, mesas tops. Como também tem mesas que quase faz um inimigo. Dando o mesmo atendimento. Você pode dar o mesmo atendimento às duas mesas", relatou, enquanto esperava a clientela colar na noite boêmia.
Tem que pagar os 10%?
A Lei da Gorjeta (Lei nº 13.419/2017) define que a gratificação é um pagamento espontâneo do consumidor, ou seja, não é obrigatória. Contudo, é uma via dos garçons poderem levantar uma moeda a mais e completar o salário.
Um profissional, que preferiu não se identificar, explicou que o salário, em si, não é lá essas coisas, mas com a gratificação, pode ficar mais vantajoso. "Se você for pegar salário mínimo, que é pouco mais de 1.500, e colocar os 10%, caso trabalhe numa casa onde o 10% é seu, que não são todas as casas de Salvador, estamos falando de você ganhar R$ 70 por dia, mais o seu salário, fica quase três mil por mês", calculou.
Naílton conta que "geralmente eles sempre pagam os 10%", e aproveitou a ocasião para brincar e dar uma clamadinha para uma moeda extra. "Tô dando um grande atendimento, né?! Espero que, além dos 10%, ele [cliente] ainda venha com uma gorjetinha", brincou, aos risos.
Correria braba
Nem só com os 'velha guarda' o Massa! trocou uma ideia. Nas andanças, um garçom 'novinho', de apenas 18 anos, que trabalha no Boteco da Tetê, compartilhou a correria intensa em trabalhar em um bar do Rio Vermelho, principalmente aos fins de semana.
"Eu acho que o garçom devia ser um pouco mais valorizado, em questão salarial. Devia dar uma olhada melhor na gente, ver o suor, o esforço, a batalha de cada dia, o horário que sai, o horário que entra. Não vou mentir que há dias aqui que eu faço 10 a 12 horas de trabalho. É um dia após o outro", contou.