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Celebração e luta! - 25/07/2024, 07:00 - Rebeca Nascimento* - Atualizado em 25/07/2024, 08:11

Dia da Mulher Preta: saiba qual é a importância da data para a sociedade

Data especial surgiu em 1992 na República Dominicana

Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha
Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha |  Foto: Erickson Araújo/ Secult / GOVBA

Elas estão na música, na dança, nas empresas, nas escolas, nas faculdades. Mas também estão na desigualdade racial, salarial e são as mais afetadas por diversas vulnerabilidades. Ser uma mulher preta em um país com muitos casos de racismos não é uma tarefa fácil, mas a cada dia as afrodescendentes têm lutado para ocupar os espaços que lhes pertencem e que foram tirados pela escravidão e pelo preconceito.

Em mais um movimento de luta, surgiu o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho. De acordo com a historiadora Cristiane Conceição, em 1992, mulheres pretas se mobilizaram na cidade de Santo Domingo, na República Dominicana, para discutir formas de combater o racismo e o sexismo que atravessam mulheres negras em todo o mundo.

“Celebrar essa data anualmente é reforçar a importância do coletivo de mulheres pretas que atuam contra a violência de raça, gênero e classe nessa sociedade”, iniciou a historiadora em entrevista ao Portal MASSA!.

Imagem ilustrativa da imagem Dia da Mulher Preta: saiba qual é a importância da data para a sociedade
Foto: Erickson Araújo/ Secult / GOVBA

A historiadora seguiu ressaltando a importância da data. “De acordo com as estatísticas, as mulheres pretas são as maiores vítimas de violência doméstica, obstétrica e sexual. Essa data obriga as instituições a pensar em ações que combatam o machismo e misoginia em seus respectivos espaços de poder. É importante frisar, que ainda que sejamos maioria em quantidade, somos minoria em representatividade na comunicação e nos espaços de decisão. O julho das pretas nos convida a refletir diariamente sobre essas questões presentes na nossa sociedade”, continuou Cristiane.

Cristiane Conceição
Cristiane Conceição | Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal

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Em 2014, o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha se tornou ainda mais importante. A Presidenta Dilma Rousseff sancionou a Lei Nº12.987 e instituiu o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra a ser comemorado anualmente no dia 25 de julho. “Essa é uma das formas de homenagear e reconhecer a luta e resistência de Tereza de Benguela que foi uma importante liderança do Quilombo de Quariterê (MT). Tereza foi reconhecida como Rainha pela forma que administrava o quilombo. Esse espaço de resistência se destacou pela sua produção agrícola, de fundição e de tear, tecnologias consideradas avançadas para a época. A Rainha Tereza de Benguela lutou até a morte deixando um legado de força e determinação que inspira outras mulheres pretas, a nossa ancestralidade se perpetua nesse sentido”, afirmou Cristiane.

Cristiane também destaca a importância da mulher afrodescendente na sociedade brasileira. “Embora as novelas tenha nos retratado como seres domésticos a serviço da casa grande, os exemplos da Rainha Tereza de Benguela, Dandara dos Palmares, Maria Felipa, Luiza Mahin vai de encontro com essa narrativa, nos conscientizando de que as mulheres pretas são as ‘Rainhas Mãe’ desse país com seus exemplos de força e resistência”.

“Quando as mulheres brancas saíram de casa para reivindicar seus direitos, eram as mulheres pretas que ficavam em casa criando seus filhos, enquanto os delas se criavam sozinhos. Isso nos fez incorporar a interseccionalidade nesse debate”.

“É preciso reconhecer o legado dessas mulheres que atualmente são em sua maioria chefes de família, ainda são maioria em índices de desemprego, tem os salários mais baixos e são minoria em cargos de chefia. Precisamos exaltar a importância de Lélia Gonzáles, Beatriz do Nascimento, Conceição Evaristo, Elza Soares, entre outras mulheres pretas que com sua voz, escrita e atos de resistência deixam um exemplo de luta por reparação nesse país”, conclui Cristiane.

Mas para que ter o Dia da Mulher Preta se já existe o Dia Internacional da Mulher?

A psicóloga Daniela Santos ressalta a importância dessa data para a autoestima da mulher afro. “A mulher preta desde sempre sofreu com muitos estigmas. Da mulher raivosa, a mulher hipersexualizada. O mês de julho é para mostrar a potência dessas mulheres, que, mesmo com toda invisibilidade, violências e tantas outras circunstâncias, seguem fazendo suas próprias histórias, inclusive, é importante lembrar que essa história passa ser contada através da perspectiva da mulher negra. A voz dessa mulher precisa ser ouvida, voz que tantas vezes já foi silenciada, seja pela sociedade ou patriarcado”.

Daniela Santos
Daniela Santos | Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal

A psicóloga segue destacando a relevância desse momento para as negras. "O mês de julho é um mês também de afeto e cuidado, celebração, união e muito amor. É isso que fortalece e mostra outra ótica sobre o que é ser uma mulher negra. O mês de julho é de suma importância para autoestima e legitimação dessas mulheres que são plurais”.

Para finalizar, Daniela Santos cita Bell Hooks, professora, escritora artista e ativista que nasceu nos Estados Unidos em 1952 e faleceu em 2021. “Bell Hooks exprime no seu livro ‘Tudo sobre o amor, novas perspectivas’ que aprender como encarar nossos medos é uma das formas de abraçar o amor. Talvez nosso medo não vá embora, mas já não ficará no caminho".

*Sob a supervisão do editor Jefferson Domingos

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