Marcada pelo sincretismo religioso, a Bahia reúne crenças diversas, incluindo muitas superstições e ritos para a passagem do ano. Como 2026 está batendo às portas, muita gente já tem se preparado para começar o novo ciclo com o pé direito.
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Eric Santana se apresenta como filho de Odé e tem orgulho em dizer que é iniciado no Candomblé há 15 anos. Para ele, a limpeza espiritual é um hábito indispensável nesse período.
“Eu tenho o hábito de todo final de ano fazer as limpezas de descarrego para que o corpo entre limpo, com novas energias, e a gente consiga alcançar o que almeja. Então todo ano eu faço minha limpeza de descarrego, junto com meu pai e meus filhos de santo”, contou.
Frequentador assíduo da Feira de São Joaquim, em Salvador, ele indica o local sem pensar duas vezes: “Eu compro folhas e materiais que a gente utiliza para troca de energia, para limpeza, para fazer os ebós de descarrego. É isso que garante que o novo ano comece com força e equilíbrio”.
Superstições populares e divertidas
Quem também tem uma tradição na virada é a jovem Vitória Dias. Ela costuma comer 12 uvas à meia-noite do dia 1° de janeiro. "Pra trazer boas coisas e prosperidade", revelou.
Vitória acredita que essa superstição funciona de verdade e atraí benefícios. Na virada de 2025, ela não conseguiu fazer e se arrependeu amargamente. “Eu não fiz esse ano, tá vendo? Agora vou ter que fazer de novo. Porque eu não comprei, aí não dá certo. Mas em 2026 eu vou entrar comendo uvas”, relatou.
Já Luan Rodrigues sempre passa as viradas de ano vestindo uma cueca amarela para ter prosperidade ao longo dos próximos meses.
"Visto a cueca amarela para poder pedir dinheiro. Saúde a gente corre atrás com dinheiro! Brincadeira, primeiro a saúde e depois o dinheiro", disparou.
O trabalhador segue esse ato de fé há anos e testemunha os resultados para quem quiser ouvir: "Têm anos que são melhores. Não é questão de ganhar na loteria, claro que não, porque eu ainda trabalho, mas a questão é que tem anos que você se sente mais confortável, tem uma vida mais equilibrada, sente que a prosperidade aparece".
O poder das folhas
Marilene Silva Barbosa, mais conhecida como Mari de Omolu, declarou ao MASSA! que os rituais de fim de ano para o povo de Axé vão muito além das cores das roupas ou dos pulinhos de ondas do mar.
“A fé não está nas vestes. A fé é algo muito mais além, vem de dentro. O que as pessoas vão mais precisar em 2026 é de força mental e amor próprio. Esse é o bem maior”, opinou ela.
Mari de Omolu acredita no poder das folhas para abrir caminhos. “Em primeiro lugar, o que a gente mais utiliza são os banhos de descarrego e os banhos de amaci, que é o banho tradicional para positivar. Um é para descarregar e o outro para positivar", explicou.
Vendedores da Feira de São Joaquim também passam os macetes
Pedro Soares, dono de quatro lojas na Feira de São Joaquim, explica que os produtos mais procurados no fim de ano são as folhas utilizadas nos banhos de descarrego e amaci.
“O pessoal toma o banho de descarrego, que é do pescoço para baixo, e depois o banho de amaci, que é da cabeça para baixo. Além disso, ninguém quer passar o final de ano sem defumar a casa. Folha não faz mal a ninguém, então é algo que todo mundo pode fazer”, afirmou.
Ney Moreira Rios, consagrado como Sinho das Folhas, reforça que a procura aumenta especialmente nos últimos dias de dezembro. “Fim de ano, geralmente, o pessoal toma o banho de descarrego, que abre caminho, quebra feitiço e vence demanda. Depois, antes de romper o ano, vem o banho de amaci, que é de prosperidade, feito com macassar, manjericão, água da levante, poejo, palma da rainha. Esse banho traz muitas energias positivas para o ano novo”, explicou.
Para ele, cuidar da espiritualidade é tão importante quanto manter as tradições. “Claro que eu faço também. A gente não faz mal aos outros, mas para cuidar da gente, tudo vale a pena”, disse.
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